Durante décadas, o buffet de pequeno-almoço foi um dos grandes símbolos da hotelaria em geral, associado à ideia de abundância e luxo. Hoje, esse formato começa a ser cada vez mais questionado devido ao desperdício alimentar, ao consumo excessivo e ao impacto ambiental, segundo um artigo publicado recentemente na BBC.com.
De acordo com o Relatório do Índice de Desperdício de Alimentos 2024 do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, 1,05 mil milhões de toneladas de comida foram desperdiçadas em todo o mundo no último ano. O setor da restauração representa 28% desse total, com os buffets de pequeno-almoço a destacarem-se como dos que mais desperdiçam — em média, mais do dobro em comparação com refeições servidas em prato (300 g contra 130 g).
“Comida desperdiçada significa também desperdício de terra, água, energia e mão-de-obra. E, uma vez em aterro, emite gases de efeito estufa que prejudicam o planeta e a biodiversidade”, explica Jocelyn Doyle, responsável de comunicação da Sustainable Restaurant Association, citada pela BBC.
Hotéis procuram soluções
Várias cadeias internacionais já começaram a adotar medidas para reduzir o desperdício. O grupo Scandic, no norte da Europa, está a diminuir o tamanho das porções de bolos e doces, permitindo repetir caso o hóspede queira mais. Os hotéis Ibis recorrem a pratos mais pequenos, enquanto o Hilton Frankfurt serve iogurtes e frutas em doses pré-definidas. No Novotel Bangkok Sukhumvit, placas informativas junto ao buffet lembram os clientes a servir-se apenas do que conseguem comer.
A mudança acompanha a evolução do conceito de luxo na hotelaria, sublinha a chef tailandesa-americana Pichaya “Pam” Soontornyanakij: “Já não se trata de quantidade ou excesso, mas sim de qualidade, cuidado e consideração, não só com os hóspedes, mas também com o planeta.”
Estudos recentes da Booking.com indicam que 84% dos viajantes globais considera a sustentabilidade um fator importante na escolha de alojamento. Para responder a essa procura, várias marcas de luxo estão a abandonar o buffet e a apostar em experiências personalizadas, menus preparados por chefs e colaborações com produtores locais.
O grupo Hilton, por exemplo, comprometeu-se a reduzir em 50% os resíduos alimentares enviados para aterro até 2030, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Segundo especialistas, os hotéis enfrentam agora o desafio de equilibrar a variedade esperada pelos hóspedes com a necessidade de reduzir excessos. Menus mistos (buffet reduzido complementado com pratos à carta), porções mais pequenas e maior comunicação com os clientes estão entre as soluções já aplicadas.
“Um pequeno-almoço servido de forma consciente pode não só reduzir o desperdício, como elevar a experiência do hóspede. Afinal, é a última recordação antes do check-out”, conclui Jocelyn Doyle.






