Luís Rodrigues, CEO e presidente do Conselho de Administração da TAP, afirmou esta quinta-feira, dia 5, que “o custo de fazer negócio na aviação está a tornar-se cada vez mais insuportável”, ressaltando a pressão regulatória como um dos principais obstáculos.
Durante o almoço de Natal da TAP com a imprensa, o CEO da companhia destacou os desafios crescentes enfrentados pela aviação, refletindo sobre as dificuldades que marcam o setor neste momento.
Num cenário europeu cada vez mais complexo, as novas regulamentações e os investimentos necessários para responder às exigências crescentes aumentam os custos operacionais das companhias aéreas. Apesar disso, reconheceu o esforço da ANAC para simplificar processos: “A ANAC está a fazer um esforço muito apreciável no sentido de simplificar e agilizar as coisas, mas, de facto, no global, na Europa, as coisa estão tornar-se cada vez mais complexas.”
Outro grande desafio abordado por Luís Rodrigues foi a instabilidade geopolítica e meteorológica, que tem impactado tanto a procura quanto a oferta de voos. “Desde a Segunda Guerra Mundial nunca enfrentámos um momento onde tivéssemos tantos conflitos armados e tão severos como têm sido até agora.” O responsável explicou que esta instabilidade “cria ansiedade na procura” e obriga a TAP a ser “extremamente cautelosa com os sítios para onde vamos, com as análises de risco que fazemos”, o que eleva os custos e a complexidade operacional. Luís Rodrigues mencionou como exemplos desta instabilidade Israel, Valência, Porto Alegre e, mais recentemente, Maputo.
A infraestrutura também foi um ponto crítico abordado. Além do problema “já sobejamente conhecido” do aeroporto de Lisboa, Luís Rodrigues destacou os desafios enfrentados em aeroportos europeus em geral, especialmente na gestão do espaço aéreo, que resultou em atrasos significativos e custos elevados. O responsável recordou que “há poucos meses, uma das maiores companhias da Europa fez uma petição pública para os cidadãos europeus se insurgirem contra a gestão do espaço aéreo, porque isso causou atrasos em milhares de voos neste verão, milhares de voos neste ano todo.”
A sustentabilidade foi outro tema abordado. Luís Rodrigues reconheceu a necessidade moral de um futuro mais verde, mas alertou que o uso de combustíveis alternativos, como o SAF (Sustainable Aviation Fuel), ainda representa um custo muito mais alto do que o combustível convencional: “O custo que neste momento estamos a enfrentar é 3 ou 4 vezes mais do que o custo do combustível normal.” Apesar disso, sublinhou, a TAP tem a frota mais nova da Europa, que consome menos combustível por quilómetro voado. Luís Rodrigues refutou críticas recentes sobre a classificação da TAP em rankings de sustentabilidade, afirmando que “a TAP tem a frota mais nova da Europa e que consome menos combustível por quilómetro voado”. “Dizer que a TAP está muito mal no ranking das companhias sustentáveis é completamente incoerente com estes factos que são facilmente comprováveis”, afirmou.
O CEO também falou sobre os desafios adicionais impostos pela regulação da sustentabilidade, que exigem que a companhia meça e reporte 260 critérios diferentes, aumentando a carga de trabalho e os custos. “A obrigação de medir 260 critérios é impensável com a mesma estrutura que temos hoje. Mas é algo que estamos obrigados a fazer porque senão corremos o risco de ser multados significativamente.” Luís Rodrigues mencionou que, em 2025, a TAP estará obrigada a usar 2% de SAF nos seus aviões, uma responsabilidade que a empresa terá de monitorar e reportar por conta própria, dado que nem aeroportos nem fornecedores de combustível assumem esse papel. O responsável alertou que as obrigações de sustentabilidade podem ter um impacto nos preços. “Há alguns meses, algumas companhias na Europa anunciaram que iam ter de repercutir nos preços. É difícil que não seja assim.” No entanto, garantiu que os preços domésticos permanecerão isentos de custos adicionais relacionados à sustentabilidade, mas que tarifas para voos internacionais poderão incluir uma taxa adicional.
Luís Rodrigues abordou a falta de mão de obra qualificada, uma consequência da pandemia que levou muitos profissionais a reconsiderarem as suas carreiras na aviação. “A pandemia gerou algumas dificuldades em relação às pessoas questionarem o seu papel na aviação. Houve milhares que saíram e milhares que não voltam.” O CEO destacou a importância de manter os trabalhadores por mais tempo, visto que a aviação é um setor que exige um domínio profundo: “Como a aviação é um negócio muito exigente, obriga que as pessoas permaneçam muito tempo até conseguirem dominar na totalidade o tema, e quando elas não estão cá, a coisa torna-se muito mais complicada.”
O CEO da TAP falou ainda sobre os resultados positivos de 2024 e 2025, explicando que uma operação mais eficiente, com tripulações bem preparadas e um conjunto de irregularidades menores, foi essencial para o desempenho da TAP. Ele mencionou que a companhia se destacou pela exploração bem-sucedida de rotas e pela ausência de aviões de aluguer, exceto em casos esporádicos. “Foi uma operação muito melhor, muito mais eficiente, tripulações totalmente preparadas para trabalhar, um conjunto de irregularidades muito mais diminuto, um conjunto de aviões de aluguer que não existiram, a não ser em situações esporádicos, a atividade comercial que explora as rotas para onde operámos, e, portanto, tudo isso somado dá a possibilidade de mais uma vez termos de apresentar resultados.”
O responsável também comentou o crescimento do turismo e a importância da sua gestão. “O turismo continua a aumentar. Eu acho que há uma conversa, ultimamente, acerca de excesso de turismo que não faz sentido nenhum. O que nós precisamos fazer é gerir o turismo. Se o turismo não fosse o que fosse, não teríamos as cidades vibrantes que temos hoje. É óbvio que há temas pontuais a tratar, mas tenho a certeza que as autoridades locais estão a lidar com isso.”