O BOOST 2025, organizado pelo NEST, realizou-se na passada sexta-feira, dia 17, na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE). Uma das temáticas abordadas durante o evento foi a sustentabilidade como pilar dos destinos turísticos e a utilização da tecnologia ao serviço do setor.
Num painel, Barry Rogers, responsável da unidade de Turismo de Dublin, Filipa Cardoso, diretora de Comunicação Internacional e Marketing Digital do Turismo de Portugal, e Stephan de Moraes, managing partner da Indico Capital Partners, juntaram-se num painel para debater o tema “Destinos sustentáveis: inteligentes, inovadores e na moda”.
Turismo de Portugal: A sustentabilidade como base da comunicação dos destinos
Filipa Maria Cardoso, diretora de Comunicação Internacional e Marketing Digital do Turismo de Portugal, falou sobre os esforços da entidade portuguesa em desenvolver campanhas que não apenas promovam o destino turístico, mas que tenham um especial enfoque na sustentabilidade e respeito pela comunidade local.
“Precisamos de fazer ações pelos turistas em que, quando um habitante local olhe para estas, se sinta respeitado e sinta que estamos a tratar o destino como deve ser tratado e a respeitar o ambiente”, sublinhou a responsável.
Uma das “linhas de base” da Visit Portugal para o financiamento de projetos de terceiros, disse a título de exemplo, é “garantir que [as organizações] são sustentáveis, que têm práticas digitais que a tornam sustentáveis”.
“A última campanha que fizemos no ano passado foi a campanha ‘Futourist’ e o foco foi o turista. Como é que [um visitante] pode ter a melhor experiência da sua vida e deixar a pegada certa? Estamos a tentar descobrir formas de mostrar às pessoas o que é real, o que é local, o que é relevante”, destacou Filipa Maria Cardoso.
Uma das iniciativas sustentáveis do Turismo de Portugal, referiu, é o projeto The Unwanted Shapes, desenvolvido em parceria com a WSL e a MEO. “Queremos transformar as pranchas de surf em pranchas de surf 100% sustentáveis. Já estamos no ponto em que estamos a tentar que startups comecem a construir as pranchas porque já comprovámos em testes cegos que uma prancha de surf sustentável é igual a uma prancha de surf normal”, explicou a diretora de Comunicação Internacional e Marketing Digital, enfatizando que “estamos a tentar impactar não só as pessoas com esta campanha, mas também o ecossistema como um todo”.
Filipa Maria Cardoso adiantou ainda detalhes sobre uma campanha da Visit Portugal que será lançada “em breve”. “Vamos usar sons reais na campanha – sons que gravámos durante as filmagens. Estamos a tentar voltar às raízes e a sentir coisas, porque a verdadeira experiência turística é sentarmo-nos com alguém num café e ter uma conversa com quem nunca pensámos conhecer”, revelou.
Capital Europeia do Turismo Inteligente: Um turismo prioriza a comunidade local
Dublin foi a Capital Europeia do Turismo Inteligente em 2024, uma iniciativa promovida pela Comissão Europeia, em que um dos critérios avaliados é a sustentabilidade dos destinos turísticos. Durante a sua intervenção, Barry Rogers, responsável da unidade de Turismo da cidade, abordou as mudanças efetuadas na estratégia de turismo para obter esta distinção.
“O processo de apresentação da nossa cidade ao painel de jurados da Comissão Europeia foi a maior experiência de humildade na gestão de destinos”, começou por contar Barry Rogers. “Tive de reaprender completamente tudo aquilo que sabia sobre turismo há alguns anos”.
Para Rogers, a principal mudança no turismo de Dublin foi a nível de mentalidade. “Há um triângulo do turismo que aprendemos na faculdade, que é procurar os turistas com o maior retorno do investimento: primeiro visitantes internacionais, depois visitantes nacionais e, se não estivermos muito ocupados, vamos dar prioridade aos habitantes locais”, explicou. “O que fizemos foi virar este modelo ao contrário. Como cidade, agimos de forma em que tudo o que fizéssemos no turismo fazíamos para o bem da comunidade local, depois nacional e depois internacional”.
Após elaborar um inquérito a cerca de mil dublinenses, Rogers chegou à conclusão de que os locais “tinham mais conhecimento sobre o nosso produto turístico do que nós”, disse. “Quando pensamos nas partes interessadas no turismo, pensamos automaticamente em especialistas no assunto, como hoteleiros e gestores de hotelaria; não pensamos nas comunidades como parte deste sistema. Nos últimos anos, temos ouvido estes conselhos e implementámo-los na nossa estratégia de turismo”.
Para chegar ao patamar de Capital Europeia do Turismo Inteligente, além da mudança de mentalidade, Rogers elencou um conjunto de ações que o Turismo de Dublin colocou em prática: “assinámos a Declaração de Glasgow, realizámos processos de certificação GSTC [Global Sustainable Tourism Council], fizemos auditorias de ação climática, análises de carbono — todas estas coisas que se fazem como destino de referência”.
Tecnologia de mãos dadas com o setor do turismo
Já Stephan de Moraes, managing partner da Indico Capital Partners, debruçou-se sobre o “enorme impacto” que a tecnologia está a ter – e terá – no turismo.
“Os turistas não querem ser sobrecarregados pela tecnologia porque querem experienciar o destino da forma mais autêntica possível; não querem ir lá fingir que estão dentro do Instagram ou do TikTok”, defendeu Stephan de Moraes, que considera que a tecnologia “pode ajudar muito mais em segundo plano”.
Um exemplo relevante é a recolha de dados por parte de uma agência, com o objetivo de conseguir “inferir aquilo que as pessoas esperam e tentar preparar a nossa comunidade para receber esses visitantes”, disse. “Assim, acredito que surgirá todo um conjunto de ferramentas e metodologias para aproveitar o poder dos dados para que possamos melhorar a experiência”.