Recentemente, foi anunciada a compra da DIT Gestión pela Ávoris. A par disso, César Clemente, diretor comercial da DIT Portugal, afirmou que esta aquisição dará frutos no futuro e terminará com os boatos, antes lançados, sobre um possível encerramento da DIT Portugal. Além disso, este acordo fará com que a DIT disponibilize produtos exclusivos às suas agências. Com um total de 117 agências, o objetivo para o final deste ano é chegar às 200, mas sempre de forma sustentável.
Em entrevista ao TNews, César Clemente reforçou a ideia de que a rede “não quer crescer a todo o custo”, sublinhando que “não queremos ser os maiores, mas sim os melhores”. Sobre o início deste ano, o diretor comercial da rede mostrou a sua satisfação com os resultados, referindo que o “início de 2025 tem sido fantástico”. Ainda na entrevista, o responsável revelou que a Convenção Ibérica realizar-se-á de 30 de outubro a 2 de novembro deste ano, em Punta Umbría, Huelva.
Foi anunciado recentemente a aquisição da DIT Gestión pela Ávoris. Que impacto teve nas agências associadas?
Esta aquisição não teve nenhum impacto imediato nas nossas agências. Todas as agências foram avisadas em novembro sobre este acordo, através de um e-mail assinado pelo diretor-geral do grupo, Lander Arriaga, que explicava como se ia processar esta aquisição e do que estava a ser comprado. A notícia que saiu foi só a concretização – todas as agências já sabiam do negócio que estava a ser feito e a única coisa que faltava era aprovação da Comissión Nacional de los Mercados y la Competencia. Por isso, as nossas agências agiram com naturalidade, nenhuma me ligou a perguntar informações, porque estavam mais que informadas sobre este assunto.
A nível do funcionamento, nada altera, porque a única coisa que aconteceu foi a Ávoris comprar ações da DIT. A gestão da DIT, tal como dissemos no comunicado, continua a ser feita da mesma maneira, isto é, o presidente do grupo continua a ser o Jon Arriaga, o diretor-geral em Espanha mantém-se o Lander Arriaga e o diretor-geral em Portugal continua a ser o Jon – a estrutura é exatamente a mesma. Por isso, para as nossas agências, a organização é exatamente a mesma, no entanto, é óbvio que no futuro iremos ‘beber’ tudo o que o grupo Ávoris tem, seja a nível de programas ou partidas exclusivas ou até mesmo a nível de tecnologia.
Que benefícios esta aquisição traz às agências?
Há benefícios para as agências, mas, além de ter sido dado o OK da autoridade da concorrência, ainda não foi assinado o contrato. Por agora, estes benefícios não serão visíveis, porque a programação de verão já está montada, mas na passagem de ano e por aí adiante vamos ter operação própria, que será vendida só para as agências DIT.
“A nível do futuro da marca, creio que a Ávoris ter comprado a DIT tem uma coisa de bom, que é acabar com muitos boatos que andavam a ser lançados no mercado”
Como é que a DIT Portugal vê esse processo de integração e o que ele representa para o futuro da marca no mercado português?
Acho que é bastante bom para o futuro da marca em Portugal. Apesar da estrutura continuar a mesma, iremos aumentar a nossa equipa, mas isto era algo que já estava pensado, temos que aumentá-la de forma progressiva para também aumentarmos a nossa operação. No fim deste mês, vamos passar a ter o IATA a funcionar em português, que é um dos trabalhos que a Patrícia Cardoso tem feito no Haiku Voos. O IATA espanhol continuará no mercado.
A nível do futuro da marca, creio que a Ávoris ter comprado a DIT tem uma coisa de bom, que é acabar com muitos boatos que andavam a ser lançados no mercado, mas que com o tempo foram desaparecendo. No verão do ano passado, foi lançada a ideia que o Jon queria fechar a DIT Portugal. Chegou a ser dito imensas vezes que as nossas convenções não iam acontecer porque estavam vazias – e isso foi mentira. Tanto a de Cuba, como a de Évora, estavam cheias, aliás, tivemos mais do dobro de portugueses em Cuba no ano passado do que em 2023. Além disso, noto que as agências que falavam connosco e diziam ‘vou pensar’, a partir do momento que souberam desta aquisição, quiseram entrar na DIT. Por isso, antevejo que vamos continuar a ter um crescimento bastante significativo nos próximos meses. Nós continuamos com a mesma meta para o fim de ano e acredito que vamos atingi-la.
Qual é que é a meta?
Pretendemos alcançar a meta das 200 agências até ao final do ano. Não queremos crescer a todo o custo, pois não queremos ser os maiores, mas sim os melhores – disse isto em Cuba e volto a repeti-lo. Temos tirado algumas agências do grupo, por questões de quotas e incumprimento de tarefas. Há agências que pedem para entrar e nós recusamos. E porquê? Porque não devemos perder tempo com agências que não vão trazer uma mais valia ao grupo. Para serem DIT, precisam de ser agências que trabalhem bem e respeitem os seus pares.
Temos agências que pedem para entrar e nós recusamos. Nós costumamos dizer que ‘somos mais do que grupo de gestão’ e isto em Portugal não funciona tão bem como em Espanha. Em Espanha, a DIT, apesar de ter mais de mil agências, funciona quase como uma família – e nós queremos ser isso, queremos ser diferentes.
Ser diferente como?
Porque nós não queremos crescer à força toda. Não tens, se calhar, muitos grupos de gestão que recusem agências, até porque é sabido que há grupos de gestão que querem crescer à força toda para dizerem que são os maiores. Dentro da DIT, as agências não são números são muito mais que isso, são parte integrante, e queremos que, cada vez mais, tenham um maior apoio da nossa parte – e o enfoque da nossa equipa comercial tem sido apoiar as nossas agências. Não estamos a crescer porque andamos a aliciar as agências, mas sim porque elas vêm ter connosco, porque olham para nós e veem que somos diferentes, seja a nível de serviços, plataformas ou até mesmo por causa da nossa aplicação. As agências estão a adorar a nossa aplicação, porque permite controlar tudo a partir do telemóvel. A nossa aplicação funciona de tal maneira que se o dono da agência estiver no outro lado do mundo pode ver tudo o que foi feito na sua ausência, nomeadamente ter acesso às reservas ou mandar tarefas à sua equipa.
Nós estamos a preparar o nosso sistema para que consiga ter reservas em tempo real, ou seja, cada agência vai poder saber em tempo real quais são os seus rapeis, de tal maneira que chegam ao fim do trimestre, por exemplo, e conseguem aceder ao seu rapel e fazer uma comparação entre os fornecedores para saberem qual o mais vantajoso para eles – isto tudo em tempo real e através da aplicação.
Quantas agências têm agora?
Neste momento, estamos com 117.
Quantas agências entraram desde a convenção em Évora?
Desde a convenção em Évora entraram cerca de 30, mais uma, menos uma. Só que tivemos saídas, como disse, houve várias agências que não tinham condições para continuar connosco. Isto porque tiveram atitudes inapropriadas.
“Dentro da DIT as agências não são números, são muito mais que isso, são parte integrante, e queremos que, cada vez mais, tenham um maior apoio da nossa parte”
Quais é que são os critérios de seleção da DIT?
Idoneidade, respeito pelos outros e pelos fornecedores. Tenho dois exemplos de agências que tentaram entrar e não conseguiram por uma questão de respeito pelos fornecedores. Para nós, os fornecedores são parceiros, e temos que nos respeitar uns aos outros.
Não devemos só olhar para o nosso umbigo e fazer aquilo que só é bom para nós. Costumo dizer que o acordo só é bom se for vantajoso para as duas partes. Se for vantajoso só para uma, nunca é bom. E as duas agências que queriam entrar tiveram problemas com operadores, criados por eles, onde foi posto em causa o bom nome desses operadores. Achamos que este tipo de agências poderiam criar mau ambiente dentro da DIT.
Quais é que são os projetos para 2025?
Em 2025, estamos a pensar aumentar a equipa, mas tem que ser uma coisa pensada, até porque a nossa equipa não é pequena [ao contrário do que dizem]. Ou seja, temos menos agências por pessoa que trabalha cá do que os nossos concorrentes, mas mesmo assim queremos aumentar a equipa. Nós na DIT só contratamos alguém que realmente encaixa no perfil da sua função, não queremos pôr ninguém às ‘três pancadas’. É preferível pagarmos mais do que estar a remediar algumas coisas. Para sermos os melhores, temos que ter as melhores pessoas a trabalhar connosco.
Este ano, vamos ter novidades, mas ainda não posso dizer quais. No entanto, posso dizer que vai ser no seguimento de dotarmos as nossas agências com ferramentas que as diferenciem das outras. A DITTv, por exemplo, tem tido um sucesso estrondoso em Portugal, isto porque permite às agências criarem os seus próprios canais, fazendo com que haja a identidade DIT, mas sempre respeitando a individualidade da agência, porque nem todas passam a mesma coisa.
Cada vez mais, as agências estão mais orgulhosas de saberem que são DIT. O número de agências que têm o nosso logotipo na montra cresceu exponencialmente. Voltando à questão da individualidade, os nossos sites, por exemplo, podem ser configurados de maneiras diferentes, consoante a agência.
Como é que vai ser a vossa presença na BTL?
Vamos ter um stand próprio, que é praticamente o dobro do tamanho do ano passado [54 metros quadrados]. Vamos estar numa localização muito melhor que o ano passado, estamos mais perto da entrada principal, e vamos ter dois stands diferentes. O stand estará exposto durante a parte institucional, que depois de quinta para sexta é reconfigurado para se adaptar às agências. A partir de sexta-feira, vai lá estar toda a equipa comercial para apoiar no que for necessário.
O Jon e o Lander vão estar presentes nos três dias profissionais, e a ideia é que as pessoas realmente vejam que eles estão a 100% com o projeto em Portugal. Há até certas situações em que nós acabamos por ser os pioneiros dentro do grupo, como é o caso da DITTv. Neste momento, há um apostar forte na DIT Portugal.
Como é que terminaram o ano de 2024?
Terminámos bem, crescemos bastante em vendas. O que me alegra mais é que o início deste ano tem sido fantástico, temos estado a vender muito mais – e estamos a falar de crescimentos de dois dígitos. Há operadores a crescer 57% face ao mesmo período de 2024, e temos um caso concreto de um operador que cresceu 75%. Este crescimento foi sentido principalmente em janeiro, que normalmente é um mês calmo, mas que este ano foi de loucos. Julgo que os portugueses estão a antecipar mais as compras. Houve ainda um fenómeno que era quase desconhecido, mas que este ano funcionou, que foi a Blue Monday. Temos tido um crescimento brutal, que está a superar todas as nossas expetativas.
Como pensam terminar 2025?
Tem que terminar muito bem, espero, lá está, terminar o ano com 200 agências e alcançar um volume de negócios perto do dobro. Estamos a falar de crescer bastante a nível de agências, por isso tem que haver um crescimento acentuado nas vendas, até porque há coisas que temos conseguido implementar cada vez mais. Por exemplo, as agências não estavam muito viradas para o nosso cartão de débito, algo em que fomos inovadores no mercado. O cartão eSIM também teve um crescimento brutal e é algo que as agências adoram. Até hoje, só tivemos uma situação que falhou, que não conseguimos perceber muito bem o porquê – mas o dinheiro foi devolvido ao cliente na hora.
Também fomos pioneiros no cartão de débito, que os nossos concorrentes já foram ‘buscar’, mas é como eu digo, é uma coisa boa, porque quando eles chegaram nós já lá estávamos. Continuamos com condições muito superiores aos nossos concorrentes, não nos podemos esquecer que, além de termos o nosso próprio consolidador, vamos passar a ter IATA português até ao final deste mês. Isto faz com as nossas agências consigam ter acesso a melhores preços, quer de Portugal, quer de Espanha. Temos o nosso próprio motor hoteleiro, que é o Haiku Hotéis, que fechou o ano com vendas de 17 milhões de euros (Portugal e Espanha). Estamos a criar outro motor que vai fazer a pesquisa automática de voo mais hotel, o que vai facilitar imenso o trabalho das nossas agências. E aos poucos vamos lançar mais coisas, até porque hoje em dia com a IA consegue-se fazer coisas engraçadas, só que é preciso ter certeza das coisas. Precisamos de ter a certeza que as coisas estão a funcionar bem.
Neste momento, temos a aplicação para clientes montada e está a ser testada por todos nós, porque só queremos que ela passe realmente para os clientes quando estiver a funcionar a 100% [e em informática isso não é fácil porque se descobre sempre erros]. Esta aplicação vai ter o nome da agência, isto porque ao darmos ferramentas às nossas agências, queremos sempre respeitar a sua independência – e assim acabam por vender mais. As ferramentas que damos não são obrigatórias, se alguma agência não quiser utilizar o nosso catão eSIM não há problema, por exemplo, e assim sucessivamente.
Como é que vai ser a vossa convenção este ano?
A Convenção Ibérica vai ser de 30 de outubro a 2 de novembro, em Huelva, mais concretamente em Punta Umbría. Vai juntar Portugal e Espanha e vai ser semelhante à de Cádiz. De momento, não te posso dizer muito mais que isto.
Como acha que os concorrentes da Ávoris irão encarar esta fusão? Haverá mudanças no panorama competitivo para as agências de viagens portuguesas?
Acho que já gerou algumas mudanças e que ainda irá gerar mais. Julgo que há uma grande ansiedade no mercado, porque ninguém sabe ao certo o que vai acontecer a partir daqui. O facto de se ter quebrado algumas barreiras e ideias pré-concebidas faz com que as pessoas olhem para nós com outros olhos. Agora, com a entrada da Ávoris, acho que as pessoas estão mais expectantes, porque há imensas a dizer-me que não acreditam que não haja nenhuma alteração. Quando a Ávoris comprou a Nortravel, toda a gente dizia que a Nortravel em meio ano ia mudar de nome, fazer isto e aquilo. O que é certo é que eles mantiveram muito da estrutura que tinham, assim como o seu tipo de negócio e circuitos – e a Ávoris já comprou a Nortravel há imenso tempo. É óbvio que se vai buscar tecnologia e outras coisas, mas isso é muito bom para as nossas agências.
“Acho que o acordo com a Ávoris já gerou algumas mudanças. Julgo que há uma grande ansiedade no mercado, porque ninguém sabe ao certo o que vai acontecer a partir daqui”
Com a integração da DIT Gestión na Ávoris, há expectativas de novos investimentos ou mudanças no portfólio de serviços da DIT Portugal para os seus parceiros e clientes?
Sim, há, mas não quer dizer que não sejam coisas que já não estavam previstas. Neste momento, não há nenhum. Teremos produtos exclusivos para o grupo DIT, mas a nível de investimentos, era uma coisa que já estava pensada. O facto da Ávoris ter adquirido ações da DIT ainda não alterou em nada a nossa dinâmica.