Onde as companhias aéreas vêem o momento mais desafiante da sua história, há quem veja uma oportunidade de negócio. Há companhias aéreas a nascer em plena pandemia, com capitais públicos e privados, em diversos destinos, enquanto a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) revê as suas previsões para 2021, afirmando agora que as companhias aéreas vão ficar com liquidez negativa este ano, quando anteriormente previa uma melhoria no quarto trimestre.
Então por que razão nascem estas companhias? Faz sentido abrir uma companhia aérea nesta altura? É o que vai ser discutido no FTE APEX New Airlines C-Suite Summit que acontecerá durante a Virtual Expo 2021 (25 e 26 de maio). Nesse encontro, vários CEOs das mais recentes companhias aéreas do mundo vão discutir os desafios e oportunidades de iniciar um novo negócio durante uma pandemia global.
Apesar de parecer um contra-senso, uma vez que a indústria da aviação é a mais afetada pela pandemia, existem razões para investir nesta altura. De acordo com o site Future Travel Experience, os investidores reconheceram oportunidades trazidas pela pandemia, sendo a principal a queda drástica dos custos gerais de operação de uma companhia aérea. Por exemplo, muitos fornecedores estão a oferecer preços mais baixos pelos seus serviços incluindo os fabricantes de aeronaves Boeing e Airbus. “Os aviões novos ainda podem ser caros para companhias aéreas iniciantes, mas atualmente o mercado de aeronaves usadas está a crescer, tornando muito mais acessível o leasing de aviões”, aponta a publicação. Além disso, “a pandemia criou novas oportunidades de acesso a novos mercados, visto que as restrições às viagens estão a impedir as companhias de operarem rotas de longa distância, de modo que poderá haver mais oportunidades para as companhias aéreas regionais preencherem as lacunas”. E, finalmente, algumas companhias aéreas novas, “como a norueguesa Flyr, veem isso como uma oportunidade de começar do zero com sistemas modernos e uma abordagem 100% digital”.
A estas razões, o site Simple Flying acrescenta a disponibilidade de mão-de-obra. “Um dos impactos infelizes da COVID-19 foi o despedimento de dezenas de milhares de funcionários da aviação”, recorda a publicação, dando o exemplo do grupo Lufthansa (30.000 empregos), British Airways (10.000 funcionários), Cathay Pacific (6.000 empregos) e outros. A Greater Bay Airlines (GBA) de Hong Kong conseguiu contratar o CEO da Cathay Dragon para liderar suas operações. Espera-se também que centenas de ex-funcionários da Cathay ingressem na GBA, com o objetivo de empregar 2.500-3.000 nos próximos anos.
Estas são algumas das novas companhias que nasceram com a pandemia:
Canarian Airways
Começamos com uma companhia que nasceu aqui ao lado em Espanha. A Canarian Airways é apresentada como uma nova companhia aérea 100% das Ilhas Canárias. De capital público e privado, é propriedade de 14 hoteleiros de Tenerife, da empresa de aeronáutica One Airways, da associação patronal Ashotel e do Cabildo de Tenerife, a entidade local que governa a ilha de Tenerife e que ficou com 25% do capital da companhia depois de ter investido 700 mil euros.
Segundo o portal Tourinews, esta nova empresa visa aumentar as ligações às ilhas e alcançar uma maior independência dos operadores turísticos. A companhia aérea entrará em operação na segunda quinzena de junho e, a partir de março, poderão ser feitas reservas, tanto para pacotes de passagens + hotel, como apenas para voos.
A nova companhia aérea vai operar, para já, com um avião Airbus 319 com capacidade para 144 lugares, cuja base será em Tenerife Sul. Estão previstas ligações entre as Ilhas Canárias e Madrid, Barcelona, Bilbao (Vizcaya), Vigo (Pontevedra), Cardiff (País de Gales, Reino Unido), Glasgow (Escócia, Reino Unido) e Berlim (Alemanha).
No momento da apresentação da companhia, que decorreu no passado dia 10 de fevereiro, Jorge Marichal, presidente da Ashotel e agora da Canarian Airways, terá explicado que a falência de companhias aéreas e operadoras de turismo como a Thomas Cook evidenciaram a fragilidade de um setor altamente dependente das operadoras de turismo, daí a importância da Canarian Airways como uma companhia aérea que “vai dotar as Ilhas Canárias do seu próprio motor aeronáutico ligado ao setor de turismo ”.
EGO Airways
Voamos de Espanha para Itália, onde a nova companhia aérea italiana EGO Airways deve levantar voo no próximo dia 28 de março, a partir do aeroporto de Catânia, na Sicília, para Florença, Parma e Forlì, segundo a imprensa italiana. A companhia aérea operará inicialmente com uma frota de duas aeronaves Embraer E190 de 100 lugares com base no Aeroporto Catania Fontanarossa, e com uma terceira aeronave, que ficará baseada em Milan Bergamo para operar para Roma Fiumicino a partir de junho. A companhia aérea afirmou que pretende oferecer um “serviço à medida” para os clientes, permitindo-lhes personalizar a sua experiência de voo através da compra de serviços adicionais, como aluguer de viaturas privadas e hotéis.
A EGO Airways foi ideia de três empresários italianos com experiência no negócio da aviação e o CEO é Matteo Bonecchi. O objetivo a longo prazo da companhia é fazer parceria com outras companhias aéreas, fornecendo um serviço feeder, ou seja transportando passageiros de várias cidades italianas para o aeroporto de Milão (MXP), o maior aeroporto do norte da Itália servindo as regiões administrativas da Lombardia, Piemonte e Ligúria.
Breeze Airways
A companhia americana Breeze Airways, do ex-acionista da TAP David Neeleman, recebeu aprovação provisória do Departamento de Transporte dos Estados Unidos para iniciar operações. A permissão é para aeronaves com capacidade para mais de 60 passageiros, sendo que a Breeze já recebeu a primeira de 15 aeronaves em leasing da Nordic Aviation Capital (NAC). Durante seu primeiro ano de operação, a Breeze prevê voar um total de 22 aeronaves. Quanto aos destinos, a imprensa especializada de aviação avança que a companhia vai operar rotas ponto a ponto entre cidades secundárias dos EUA. A estreia da companhia estava inicialmente planeada para o final de 2020, mas o site da companhia pode ler-se que esta levantará voo em 2021. De acordo com o Business Insider, o modelo de negócio desta low cost está apoiado na tecnologia em que se apoiam também empresas como a Uber ou Amazon. Neeleman planeia navegar na onda de tecnologia da mesma forma que o Uber e a Amazon, criando apps que irão agilizar a experiência de viagem, disse numa entrevista em fevereiro ao Insider. “Prefiro dizer que somos uma empresa de alta tecnologia que simplesmente opera aviões”, disse Neeleman à Conde Nast Traveller , referindo-se ao quanto tecnologia estará interligada às operações da companhia aérea.
Flyr
A Flyr é uma nova companhia aérea norueguesa Flyr que deve entrar no mercado em junho. Inicialmente, os planos da transportadora incluem voos entre as maiores cidades norueguesas e alguns dos principais destinos na Europa. No entanto, a operadora está a planear um crescimento considerável com uma frota até 30 aviões, procurando tornar-se numa nova transportadora de baixo custo no mercado norueguês. Os planos para a nova companhia aérea foram revelados pela primeira vez em outubro de 2020 pelo proprietário da empresa, Erik G. Braathen. Após o lançamento, disse que o nome Flyr “reflete a simplicidade do negócio e do modelo e do produto que iremos oferecer ao mercado”. Entre os serviços que a Flyr planeia oferecer para garantir uma experiência simples ao passageiro, estão tarifas baixas, nenhuma taxa de alteração e nenhuma restrição quando se trata de bagagem. À semelhança da Breeze, a abordagem digital será uma parte central da estratégia da Flyr, com recurso a aplicações para aceder os serviços da companhia aérea. Em entrevista recente à CNN, Braathen afirmou que sua visão é criar uma companhia aérea baseada em “sistemas digitais muito sofisticados e integrados”.
Wizz Air Abu Dhabi
A Wizz Air Abu Dhabi estreou-se no passado mês de janeiro com seu primeiro voo entre Abu Dhabi e Atenas. Entretanto, a mais nova companhia aérea nacional dos Emirados Árabes Unidos, já iniciou outras duas rotas, entre Abu Dhabi e Salónica, na Grécia, a 4 de fevereiro, e Abu Dhabi e Alexandria, no Egito, a 22 de Fevereiro. Os próximos destinos serão Kutaisi, Larnaca, Odesa e Yerevan. Com uma frota composta por aeronaves Airbus A321neo totalmente novas, a empresa aérea pretende ter a menor pegada ambiental entre os concorrentes na região. József Váradi, CEO da Wizz Air, está confiante que a companhia conseguirá alcançar o mesmo sucesso que alcançou na Europa: “Se conseguimos aumentar a nossa frota para 100 aeronaves nos últimos 15 anos na Europa, devemos ser capazes de fazer a mesma coisa em Abu Dhabi. ” Os passageiros que voaram com a Wizz Air na Europa estarão familiarizados com o modelo de baixo custo da companhia aérea, cujas tarifas básicas incluem apenas o assento e uma mala pessoal. Malas de cabine, bagagem despachada, refeições, seleção de assentos, serviço prioritário e tudo o mais são cobrados. A Wizz Air Abu Dhabi resulta de uma joint venture entre a ADQ, o Fundo Soberano de Abu Dhabi, e a Wizz Air Holdings, detentora da Wizz Air, a companhia de baixo custo húngara.