Sexta-feira, Maio 23, 2025
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Entre geradores e grelhadores: como o turismo nacional enfrentou o apagão

O apagão que afetou Portugal e Espanha na passada segunda-feira, 28 de abril, teve um impacto transversal na economia, atingindo também o setor do turismo. Desde falhas nos aeroportos e comunicações, até constrangimentos operacionais em hotéis, restaurantes e operadores turísticos, o setor foi colocado à prova.

Apesar da energia ter sido restabelecida ao fim de algumas horas, os efeitos do corte foram imediatos e reveladores de algumas fragilidades, mas também da resiliência de quem trabalha na linha da frente do turismo.

Hotéis: geradores garantiram operação, mas combustível foi ponto crítico

Nos hotéis Vila Galé, a operação foi mantida praticamente sem interrupções, graças à infraestrutura já preparada para emergências. Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo, esclareceu: “No caso dos hotéis Vila Galé, todos os hotéis conseguiram manter a sua operação normal, dado que todos estão equipados com geradores preparados para funcionar em situações de falha de energia.

Mesmo assim, a incerteza quanto à duração do apagão obrigou a gestão a tomar medidas de precaução, nomeadamente a restrição do consumo de energia a serviços essenciais, como forma de garantir autonomia por mais tempo. Segundo o responsável, a maior dificuldade não foi no funcionamento dos hotéis em si, mas sim nos serviços centrais, que não estão integrados em unidades hoteleiras: “Houve alguns constrangimentos nas comunicações e no funcionamento dos serviços centrais, uma vez que foram forçados a interromper o serviço durante o período da tarde.”

Questionado sobre as fragilidades que este episódio poderá ter revelado, Gonçalo Rebelo de Almeida destacou uma questão estrutural: o acesso ao combustível para alimentar os geradores. Como medida de emergência, o país limitou temporariamente o consumo de combustíveis, reservando-o para serviços essenciais, o que teve impacto imediato na autonomia dos hotéis: “A principal vulnerabilidade do sistema foi alguma dificuldade na obtenção de combustível para o funcionamento dos geradores, o que provocou perturbações no funcionamento deste serviço.”

Ainda assim, a situação acabou por ser controlada e nenhuma unidade hoteleira do grupo registou falhas significativas.

Nos Hotéis Turim, o apagão causou alguns constrangimentos. Bruno Lima, diretor operacional, sublinhou: “O apagão teve um impacto significativo na operação diária. As comunicações com clientes e parceiros foram interrompidas, o que dificultou o processamento de reservas de última hora e o acompanhamento de pedidos em curso. Os pagamentos eletrónicos foram também afetados, criando constrangimentos tanto para os hóspedes como para a equipa, que teve de recorrer a soluções alternativas”.

Apesar dos constrangimentos, o diretor operacional realça que “os hóspedes mostraram, felizmente, grande compreensão perante a situação anómala e colaboraram de forma exemplar, o que foi fundamental para manter o ambiente calmo e o serviço funcional, dentro do possível. Como pequeno gesto para reforçar o espírito de hospitalidade e aliviar a tensão, disponibilizámos gratuitamente um serviço de snacks e bebidas durante a tarde, que foi muito bem recebido.”

Sobre o que pode ser feito para prevenir futuras situações, Bruno Lima alertou para a dependência excessiva de sistemas centralizados: “Este episódio revelou vulnerabilidades sérias, não só no setor do turismo, mas também a nível nacional. Dependemos em demasia de infraestruturas externas e de soluções centralizadas, o que nos torna mais expostos a falhas generalizadas. Falhas desta natureza evidenciam a importância de existirem sistemas de contingência bem definidos (…). Investir em redundâncias tecnológicas e em canais de comunicação alternativos deve ser encarado como uma prioridade estratégica para o setor.”

Restaurantes: operação parcial e riscos para segurança alimentar

O apagão teve impacto imediato no setor da restauração, com muitos estabelecimentos impossibilitados de operar e outros a recorrerem a soluções alternativas como fornos a lenha, grelhadores ou fogões a gás. A ausência de eletricidade comprometeu também o funcionamento de equipamentos de frio, essenciais para garantir a segurança alimentar.

A secretária-geral da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal , Ana Jacinto, sublinha que “a maioria dos estabelecimentos foi impedida de operar, enquanto outros apenas conseguiram funcionar parcialmente”. A associação preparou, em articulação com a ASAE, “um conjunto de orientações claras para apoiar os empresários” na gestão das consequências e na aplicação de boas práticas de higiene e segurança.

Apesar dos constrangimentos, a AHRESP garante que “não há motivos para alarmismo” e reforça o histórico de responsabilidade do setor: “Os nossos empresários saberão agir com a prudência que a situação exige”.

A AHRES refere ainda que, no alojamento turístico, as dificuldades passaram também pelo acesso a plataformas de reservas, processamento de check-ins e atendimento. O encerramento do aeroporto de Lisboa agravou o cenário, gerando cancelamentos e atrasos que afetam diretamente o turismo nacional.

Operadores turísticos: resposta rápida graças à cooperação

Para os operadores turísticos, o apagão traduziu-se sobretudo em atrasos e reprogramações de voos e circuitos. No caso da Lusanova, o impacto foi notado, mas a resposta foi imediata. Tiago Encarnação, diretor operacional do operador, garantiu que a situação está sob controlo:

“O apagão desta segunda-feira afetou algumas partidas e chegadas; contudo, a Lusanova identificou todas as situações, que estão a ser resolvidas com a maior celeridade. Retomaremos a normalidade ainda durante o dia de hoje.”

Mais do que os constrangimentos logísticos, o responsável sublinhou a importância das relações de confiança e da capacidade de coordenação numa situação de crise: “Num momento como este, torna-se evidente salientar a importância das parcerias sólidas e de uma comunicação eficaz. Todos os agentes e parceiros estão a colaborar estreitamente, com total alinhamento e empenho, para minimizar o impacto junto dos clientes e garantir uma resposta rápida e coordenada.”

Aeroportos: atrasos e filas prolongadas

O setor da aviação foi um dos mais afetados pelos efeitos do apagão. A ANA – Aeroportos de Portugal indicou esta terça-feira, dia 29, que a operação estava a decorrer com normalidade , mas “persistem alguns impactos relacionados com os voos cancelados ou atrasados de segunda-feira, devido ao apagão, e afluência elevada para entrega de bagagens”.

Em Lisboa, onde os efeitos foram mais prolongados, foi ativado um plano específico para gestão das bagagens retidas, com os passageiros a serem contactados gradualmente pelas companhias aéreas.

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