Quarta-feira, Fevereiro 19, 2025
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Entrevista Alexandre Solleiro: “O nível dos hotéis em Portugal subiu um degrau alto”

Alexandre Solleiro, um dos líderes hoteleiros mais conhecido e experiente do mercado português, dirige a Highgate Portugal, depois desta ter entrado no país com a aquisição de um portfólio de 18 hotéis distribuídos pelo Algarve, Lisboa, Porto e várias outras regiões em Portugal. Conhecedor há pelo menos três décadas do setor hoteleiro português, Alexandre Solleiro fala dos desafios e do salto qualitativo que observa na hotelaria em Portugal, nesta primeira parte da entrevista ao TNews.

Quais os desafios que enfrenta a hotelaria em Portugal atualmente?

Em Portugal, estamos a evoluir bem a nível da qualificação dos hotéis. Ou seja, vemos cada vez mais hotéis com melhor qualidade, a nível de decoração, construção, localizações, há uma preocupação em fazer coisas não só boas, como bonitas. As cidades também entenderam que o turismo é uma fonte importante de desenvolvimento das economias locais e têm investido no seu desenvolvimento e na sua qualificação. Vemos as cidades cada vez mais bonitas e mais atrativas. O problema é que não temos recursos humanos para acompanhar o desenvolvimento do turismo. Acho que o grande desafio vai ser a adequação da quantidade de recursos humanos necessários para o turismo. Não existe fórmula mágica, vai ter que existir um trabalho contínuo, sobretudo das empresas que trabalham no turismo, para encontrarem fórmulas para que as suas empresas, e a atividade em geral, seja mais atrativa para os jovens e para os menos jovens que tenham vontade de trabalhar nesta atividade.

Mesmo com fatores de atração faltam pessoas?

Sim, não há pessoas.

Como é que fazem?

Hoje estamos a trabalhar com 90% da capacidade de recursos humanos. Faltam-nos 10% para dizer que temos o número ideal de pessoas a trabalharem nos nossos hotéis.

Em alguns casos, não se desenvolve todo o potencial de receita do hotel, porque não tem capacidade de recursos humanos para o fazer. Isso é um problema. Mais uma vez, não há uma fórmula mágica para resolver isso, não é só importando pessoas que se vai resolver. Há um misto de soluções a serem encontradas para o futuro, mas para mim, a base é como tornar este setor mais atrativo para o futuro.

“Hoje estamos a trabalhar com 90% da capacidade de recursos humanos. Faltam-nos 10% para dizer que temos o número ideal de pessoas a trabalharem nos nossos hotéis”.

Identifica mais algum desafio para a hotelaria em Portugal?

Portugal evoluiu muito nos últimos anos ao nível da qualificação do turismo, mas penso que ainda falta ir para a parte de cima da pirâmide do turismo de grande nível, de luxo. Falta dar esse pulo. Existem já algumas iniciativas, mas acho que, para dar esse pulo, ainda vai faltar um investimento maior, não só a nível de equipamentos, mas sobretudo a nível do ambiente e das componentes globais para o turismo de alto luxo. Lisboa e Porto são um bom exemplo, têm lojas de alto luxo, belíssimos restaurantes, mas é preciso alargar isso a outras partes do país, para que o turismo de alto luxo chegue a outras partes.

Esteve fora do país durante sete anos, que diferenças encontra na hotelaria portuguesa?

Noto duas grandes diferenças, que para mim são importantes e excelentes: primeiro, a qualificação da hotelaria de uma forma geral. O nível dos hotéis subiu um degrau alto, ou seja, mesmo nos hotéis que já cá estavam há dez anos nota-se uma grande diferença de nível, todos eles subiram para um nível muito alto, e não foi só a nível da decoração, e do modernismo dos hotéis, foi também a nível do serviço. A outra grande satisfação foi ver como os restaurantes, de uma forma geral, também evoluíram significativamente e modernizaram-se. Hoje, a restauração portuguesa está muito mais atrativa do que há uns anos. Foi muito bom ter visto isso e ver o investimento que foi feito pelas cidades para se tornarem mais agradáveis para os turistas. Isso faz com que, sete anos depois de ter saído Portugal, note uma evolução do turismo a nível da qualidade das pessoas, a qualidade dos turistas, a diversificação dos mercados: o americano voltou, o mercado brasileiro também aumentou, veem-se outros mercados asiáticos a virem para cá, isso é muito interessante para o país.

Qual é o seu grau de confiança para os próximos tempos no que diz respeito à procura turística?

É alto porque acho que Portugal está bem posicionado para continuar a ter um nível elevado de turismo. Logicamente que é impossível pensar que vai existir um crescimento como os que se verificaram no ano passado, porque vínhamos de um época de pandemia. Acredito que Portugal vai continuar a ser procurado a nível internacional, se fizermos o nosso trabalho de mantermos o nível e a qualificação do turismo, não há razão nenhuma para não pensarmos que o turismo vai continuar a evoluir. Se pensarmos que o mercado chinês ainda não voltou, quando voltar, haverá mais pessoas para visitar Portugal.

“acredito que Portugal vai continuar a ser procurado a nível internacional, se fizermos o nosso trabalho de mantermos o nível e a qualificação do turismo”

O aeroporto de Lisboa é uma preocupação?

O aeroporto para mim é um fator de limitação de crescimento, é evidente. É um pena que se esteja a falar na história do aeroporto há tanto tempo. Se pensarmos que, no dia em que for decidida a localização, só dez anos mais tarde é que o aeroporto vai ficar operacional, estaremos com um atraso tremendo. Isso vai fazer com que eventualmente o Porto continue a evoluir, porque tem mais capacidade de crescimento. Digamos que não me tira o sono, mas é evidente que é um problema sério. 

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