Catarina Guedes e André Cabete são alunos da Licenciatura em Gestão e Administração Hoteleira, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Politécnico do Porto. Foi na qualidade de estudantes, mas também de trabalhadores que estão a entrar agora no mercado de trabalho, que apresentaram durante a conferência “Mercado de Trabalho”, organizada pela AHRESP, as conclusões de um trabalho académico sobre como atrair e reter profissionais.
Numa primeira abordagem identificaram os principais desafios do setor. A começar pela dificuldade crónica em contratar mão de obra qualificada. “O setor do turismo sempre teve dificuldade na contratação da mão de obra qualificada, algo que tem vindo a ser agravado por conta do contexto pandémico”, afirmam.
“O tecido dos recursos humanos é, ainda, na maioria não especializado, pese embora a quantidade de formações que têm surgido. Dados do Turismo de Portugal na apresentação da Estratégia 2027 indicavam que 60% dos colaboradores do setor possuíam o ensino básico, é um indicador que tem vindo a melhorar através da iniciativa das associações que disponibilizam cursos, mas é importante agilizar, fiscalizar as formações dentro das empresas e garantir as certificações aos colaboradores”, defendem.
O segundo desafio identificado é a migração dos profissionais. “Sabemos que o setor da hotelaria e do turismo foi extremamente fustigado com a pandemia, o que fez com que muitos e bons profissionais do setor se perdessem para outros setores de atividade”, constatam, apontando os números: “Perderam-se 76 mil trabalhadores no setor do turismo e hotelaria em 2021”.
Em terceiro lugar surge o desafio demográfico, transversal a todos os setores. “Portugal apresenta uma pirâmide demográfica envelhecida e, segundo os dados do INE, existem 182 para cada 100 jovens, é importante captar jovens”, defendem.
Face à exposição destes desafios, e no âmbito de um trabalho académico, Catarina e André lançaram-se à missão de fazer uma revisão ao Contrato Coletivo de Trabalho atual, incidindo na revisão das categorias profissionais e das hierarquias existentes.
Para enriquecer a pesquisa, foram para o terreno e fizeram duas questões aos profissionais da área. Conclusão? “No que diz respeito às categorias profissionais e à sua designação, consideramos que têm, a montante, uma importância na atratividade do setor e, a jusante, vão ter impacto na retenção dos colaboradores”.
A explicação surge em seguida com a apresentação das questões. A primeira pergunta colocada aos profissionais foi a seguinte: Considera que as funções que desempenha estão de acordo com a sua categoria profissional? Catarina e André elegeram duas respostas que receberam para ilustrar um sentimento geral: “Sinto que as categorias profissionais estão desatualizadas e algumas são desprestigiantes para certos cargos da hotelaria” e “realizo tarefas de gestão diariamente e estou como empregado de balcão”.
A segunda questão foi: “Entende que um novo figurino para as nomenclaturas das categorias e funções deve ser considerado no Contrato Coletivo de Trabalho?” Um das respostas foi esta: “Deveria, principalmente porque a maioria das pessoas que trabalham na área, fazem-no por gosto e não por circunstância, e o facto de serem reconhecidos pelo seu cargo é o que mais os motiva a fazer um bom trabalho, às vezes, mais que um bom salário”.
Partindo destas respostas, Catarina e André concluem que, para estes dois aspetos em concreto, o atual Contrato Coletivo de Trabalho encontra-se “desatualizado e desenquadrado para aquilo que são as exigências do mercado de trabalho hoje em dia e urge uma revisão”.
Por outro lado, tendo em conta “a disseminação tecnológica e o incentivo à versatilidade”, os dois estudantes também defendem “uma revisão da hierarquia funcional dentro das categorias de trabalho”. “Existe um excesso de hierarquias, em alguns cargos existe chefia, subchefia, colaborador de 1º e 2ª categoria. A hierarquia é essencial nas organizações, mas em alguns casos pode ser um entrave ao desenvolvimento”.
Propostas para a retenção de colaboradores
Catarina e André não se limitaram a observar os problemas do setor e lançaram propostas para reter talento.
“Acreditamos que a mudança se inicia dentro de cada empresa, cabe a cada uma descortinar quais são as aspirações e motivações dos seus colaboradores e, perante isso, adotar as estratégias de captação, sejam elas por questões salariais ou planos de carreiras”, defendem.
No campo da estratégias lançaram vários exemplos:
Benefícios gerais: subsídios escolares aos colaboradores com filhos, descontos nos produtos e serviços das próprias empresas;
Recompensas financeiras: prémios de produtividade e comissões; atribuição de prémios aos colaboradores por fidelização à organização superior a x anos;
Recompensas de saúde e bem-estar: parcerias com clubes de fitness e wellness, gabinete médico, seguro de saúde, aconselhamento nutricional e psicológico;
Oportunidades de carreira: estágios e ofertas de emprego internas, promoções e rotatividade de funções, formação e qualificação dos profissionais, gestão do stress e gestão emocional;
Ambiente de trabalho: plano de benefícios de grupo, premiar e recompensar objetivos de grupo, iniciativas de teambuilding, modernizar metodologias de trabalho;
Conciliação da vida pessoal e profissional: promoção de rotatividade de fins de semana por colaborador, horários de trabalho seguidos.
Em jeito e conclusão, Catarina e André encontram na migração dos profissionais e na dificuldade em contratar mão de obra qualificada a maior urgência de resolução. “Estes dois desafios entre si acabam por gerar um antagonismo, por um lado vivemos tempos em que temos cada vez mais mão de obra qualificada ao nível da formação técnica e superior e por outro lado não conseguimos reter os profissionais dentro do nosso setor”.
“Empresas não entregam experiências sem as suas pessoas. Se as condições laborais corresponderem à entrega de alguns trabalhadores, os stakeholders vão percecionar a cultura da empresa de forma muito positiva e, consequentemente, será uma área para ficar”.
A conferência “Mercado de Trabalho'” decorre esta quarta-feira, dia 20, na Alfândega do Porto, e pretende responder à questão: Que profissionais teremos amanhã?