Sábado, Dezembro 7, 2024
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Hoje é Dia Mundial do Turismo: Qual o futuro do setor?

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Chegados ao Dia Mundial do Turismo, num dos períodos mais difíceis para a indústria do turismo, que se vê a braços com os efeitos da pandemia há mais de ano e meio, a luta para manter as empresas abertas e os postos de trabalho continua. Para assinalar a data, publicamos um conjunto de mensagens de Secretários de Estado do Turismo sobre o atual momento do turismo e o que esperam para o futuro do setor.

“Se em tempos Portugal procurava descobrir um mundo novo, podemos dizer, agora, que o mundo ainda tem muito a descobrir em Portugal. Por isso acredito que, enquanto saneamos as cicatrizes, rapidamente retomaremos o nosso caminho, prosseguindo metas ambiciosas de sustentabilidade económica, social e ambiental definidas na ET2027, reforçadas entretanto no Plano Reativar o Turismo | Construir o Futuro. A nossa ambição é reconstruir um turismo com propósito, mais inclusivo, uma força para o bem. Um setor que nos faz sonhar, que projeta Portugal no mundo, com uma imagem de modernidade, de qualidade e de talento. Só assim recompensaremos, também, os residentes e todos aqueles que todos os dias dão tudo por este setor. E são muitos.”

Rita Marques, atual Secretária de Estado do Turismo,

“18 meses muito difíceis.
Depois de tantos anos a crescer, consolidar, gerar ideias, alimentar sonhos…eis que o turismo foi confrontado com esta crise sem precedente.
Falo o turismo porque é aquela atividade que mais depende da Mobilidade dos cidadãos. Estando essa mobilidade fortemente condicionada foi quem mais sofreu. Simples.
Mas desenganem-se os que vaticinaram – nalguns casos alegremente – o seu fim.
O turismo em Portugal não só é a atividade que mais merece o olhar e a confiança de quem do exterior nos observa, como é a atividade capaz de alimentar um sem número de outras atividades. Sim, o turista em Portugal alimenta-se de produtos portugueses, e utiliza para tal a cutelaria portuguesa. O turista dorme confortavelmente no têxtil português, e no WC admira a cerâmica portuguesa…
E podia continuar…
Bom, chegados aqui, a mensagem é de confiança. Vamos regressar. Com muitos desafios é certo, mas sobretudo conscientes do papel desta grande família em torno da recuperação que todos ansiamos.”

Bernardo Trindade, Secretário de Estado do Turismo nos XVII e XVIII Governos Constitucionais entre 2005 e 2011

“Como atuar após um ano e meio de uma pandemia que provocou a maior crise de sempre do Turismo?
Como empresário – e tendo presente sinais de alguma recuperação – considero que temos que atuar em simultâneo em diferentes direções.
Em primeiro lugar uma preocupação prioritária: manter as Empresas em vida, recuperar a atividade e prepará-las para novas batalhas. Cientes de que a pandemia não está dominada e que a recuperação não está garantida. E de que se mantêm as incertezas de mercados e governos.
Ao mesmo tempo as Empresas devem refletir sobre as alterações e eventuais novas tendências de evolução do Turismo na Europa e no mundo e iniciar a preparação para as enfrentar.
Finalmente, não subestimar e enfrentar com muita atenção, as alterações de sensibilidade e de novos interesses dos turistas de diferentes perfis, procurando adequar a nossa oferta turística.
Como ex SET, considero que estes três vetores – adaptados à especificidade de cada região – poderiam constituir a base de um plano de ação para superar a crise e ganhar o futuro.

Vítor Neto, Secretário de Estado do Turismo nos XIII e XIV Governos Constitucionais entre 1997 e 2002

“A pandemia de Covid foi, é ainda e continuará a ser uma catástrofe para os indivíduos, famílias e comunidades que sofreram e sofrem na pele os efeitos directos e indirectos e as consequências da mesma, tanto do ponto de vista sanitário, como económico e social.

Embora de forma diversa no que respeita à dimensão, intensidade e abrangência, por todo o mundo, as economias nacionais foram significativamente impactadas na sua evolução positiva, a partir de Janeiro/Fevereiro de 2020, em função das medidas aplicadas pelos governos, para contenção da disseminação e controle da pandemia, com as consequências de imediato sentidas, nomeadamente no congelamento do investimento, redução acentuada da produção de riqueza e aumento do desemprego.

Os recursos disponíveis foram preferencialmente reafectados aos sistemas de cuidados de saúde e aos apoios às famílias e às empresas, como forma de, em simultâneo, salvar o máximo de vidas humanas, garantir meios mínimos de subsistência às famílias e minimizar o impacto e a destruição de valor no tecido produtivo.

Entre todos os sectores produtivos afectados, as medidas de confinamento interno e as fortes limitações/restrições às viagens internacionais, tiveram um impacto brutal e imediato nos sectores do transporte aéreo, serviços aeroportuários e do turismo, que na década anterior, até 2019, ano após ano, alcançavam novos recordes de crescimento e performance. Portugal não era excepção e, após um ano de 2019 que ultrapassou as melhores expectativas, as previsões de reservas, já no início do ano, indicavam 2020 como o provável melhor ano de sempre do Turismo Nacional.

Eis que em Fevereiro de 2020, a pandemia veio a interromper este ciclo muito positivo do Turismo no país e apesar de vários anúncios de expectável retoma da economia e das viagens de estrangeiros, sempre desmentidos pela realidade, só 18 meses passados e atingidas as metas de vacinação nos principais países emissores de turistas, parece existirem sinais de uma ainda lenta, mas aparentemente consistente, retoma das viagens e do turismo internacionais.

Em Portugal, o único aspecto positivo vislumbrável em todo o desastre económico e financeiro verificado nas empresas de Transporte Aéreo (ex. TAP) e do Turismo, foi o súbito reconhecimento, por parte do governo, autarquias, entidades públicas, empresas fornecedoras de bens e de serviços de outros sectores da economia e dos portugueses em geral, para a dimensão, interdependência, capacidade competitiva e importância estratégica para a criação de riqueza e emprego, de todo um sector que raramente mereceu a devida atenção e protagonismo nas opções e escolhas que, ao longo de anos, orientaram e orientam as estratégias de desenvolvimento económico e social do país.

Mais, rapidamente, o esforço de empresários e autarquias, em todo o país, investindo na criação de uma moderna e adequada oferta de alojamento e animação turística e no aproveitamento sustentável dos recursos e atributos dos diferentes destinos locais, tornando o Turismo no sector porventura internacionalmente mais competitivo do país, com um enorme efeito de arrastamento sobre outros subsectores produtivos, descambou numa opinião publicada centrada na “pretensa assinalável dependência nacional do Turismo”.

Quem trabalha neste sector há várias décadas e passou por diferentes ciclos, testemunhando os esforços e investimentos realizados por muitos para suplantar décadas de dificuldades, não pode ficar indiferente aos que, de forma míope, opinam o que não sabem nem conhecem, sobre um conjunto de actividades único, presente e distribuído por todas as regiões e municípios do país – que outro sector tem contribuído, de forma assinalável para fixar ou trazer pessoas para o interior, criando milhares de micro e PME´s de iniciativa local, contribuindo decisivamente para atenuar consistentemente as desigualdades regionais.

A súbita descoberta por alguns comentadores, da “dependência económica do Turismo”, por quem anteriormente o desvalorizava, fruto do impacto e das consequências nas pessoas e comunidades dos efeitos pandemia, resulta não do efectivo crescimento do sector, que já acontece há mais de quinze anos, mas do limitado crescimento ou mesmo estagnação, de vários outros subsectores produtivos, sempre considerados estratégicos, mas cuja contribuição para o “decisivo” desenvolvimento do país, vem sendo continuadamente ou adiada (ex. disso a recente aposta na nova industrialização do país, inscrita no PRR).

Como se pode já verificar, muitas empresas turísticas sucumbiram à pandemia, mas a grande maioria, recorrendo aos poucos apoios financeiros disponíveis, mostrou e vai continuar a mostrar a sua resiliência e a reafirmar a sua capacidade competitiva. E outras virão preencher as oportunidades agora surgidas, umas e outras reajustando os seus modelos de negócio às novas exigências e necessidades dos turistas de futuro.

Se a pandemia se mantiver sanitariamente controlada e os países/mercados se abrirem de novo, sem restrições, às viagens internacionais, as empresas turísticas nacionais e os territórios locais/destinos estão de novo capazes e prontos para os receber.

Estou convicto que, tendo sido o sector que mais rapidamente sofreu e tentou enfrentar o impacto inicial, o Turismo Nacional vai ser o, ou um dos que melhor e mais rapidamente vai recuperar para níveis pré pandémicos.

O interesse dos investidores internacionais nas oportunidades de negócio de futuro e nos activos que compõem o tecido empresarial turístico nacional, bem o confirmam.

O Turismo em Portugal está ainda longe de atingir os níveis de carga de outros países europeus de similar dimensão, pelo que, com a excepção para algumas situações pontuais, talvez as melhores sugestões para o futuro sejam: i) planear melhor o uso dos recursos ii) tornar os destinos locais ambiental, económica e socialmente sustentáveis, minimizando a “pegada de carbono” da presença dos turistas e das actividades das empresas iii) tornar as empresas financeiramente mais fortes e mais competitivas iv) valorizar as profissões turísticas e atrair e formar mais e melhores pessoas para o sector v) apostar na digitalização como ferramenta essencial para o sucesso e na Inteligência Artificial (IA) para melhor conhecer e antecipar os comportamentos dos futuros potenciais clientes.

Se as apostas para os próximos 5-10 anos forem estas, julgo que iremos retomar o ciclo de crescimento sustentado do Turismo interrompido pela pandemia. Temos tudo para isso.”

Luís Correia da Silva, Secretário de Estado do Turismo no XV Governo Constitucional 2003-2004

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