Sexta-feira, Janeiro 24, 2025
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Hoteleiros sem fronteiras | Com Pedro Franqueira Dias, Assistant Director of Revenue do Mandarin Oriental Hotel Group

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“Hoteleiros sem Fronteiras” consiste numa série de entrevistas com profissionais portugueses que desenvolvem a sua atividade no estrangeiro, procurando explorar os seus percursos profissionais e as experiências que têm adquirido em diferentes mercados.

Pedro Franqueira Dias

Nesta entrevista, conversamos Pedro Franqueira Dias, que assumiu recentemente as funções de Assistant Director of Revenue at Mandarin Oriental Hyde Park & Mayfair. Com passagens por destinos como Dubai e Londres, Pedro partilha os desafios e as lições aprendidas ao longo da sua carreira, além das suas perspectivas sobre o futuro da indústria. Conheça mais sobre o seu percurso e as motivações que o levaram a procurar oportunidades no exterior, bem como suas visões sobre o mercado hoteleiro em Portugal.

Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso profissional?
O meu primeiro trabalho em hotelaria foi no McDonald’s do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, com 18 anos. Estive lá seis meses, numa experiência curta mas extremamente enriquecedora do ponto de vista pessoal e profissional. Mal entrei na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, comecei logo a estagiar extracurricularmente, passando ao longo desses três anos por vários hotéis incluindo o Penha Longa Resort, em Sintra, e o Kempinski Hotel Adriatic, na Croácia. No final do curso de Direção e Gestão Hoteleira, candidatei-me e fui um dos 25 selecionados entre mais de 300 candidatos para o programa Vita Futura da Starwood Hotels & Resorts, um elevator program, e fui colocado nos Westin & Le Meridien Mina Seyahi, no Dubai. Durante o Vita Futura, tive a sorte de ter tido mentores bastante presentes que me souberam apoiar e guiar numa fase inicial da minha carreira, onde pude passar por todos os departamentos do hotel antes de me especializar, durante quase um ano, em Revenue Management. No final do programa, e enquanto estava em vários processos de recrutamento dentro da Starwood (na altura adquirida pela Marriott), surgiu uma proposta da IHG em Londres e não hesitei – despedi-me dos meus amigos no Dubai e vim para Londres como Revenue Manager no Hotel Indigo Kensington. Na minha primeira experiência como Revenue Manager, tive mais uma vez a sorte de ter um general manager que me apoiou e lá fiquei durante quase dois anos antes de me juntar à equipa do Crowne Plaza The City como Director of Revenue, também gerido pela IHG. Durante a covid, o dono do hotel decidiu mudar de empresa de gestão e fiz então a transição para o atual Hyatt Regency Blackfriars, que abriu em junho de 2023. Na semana antes da abertura, fui desafiado para me juntar à Unite Students, a maior empresa de alojamento de estudantes no Reino Unido e cotada na bolsa FTSE 100, na minha primeira experiência em Revenue Management fora da hotelaria tradicional. Em junho deste ano, juntei-me à Mandarin Oriental como Assistant Director of Revenue no emblemático Mandarin Oriental Hyde Park e no muito antecipado Mandarin Oriental Mayfair, que abriu em junho deste ano.

O que o inspirou a procurar oportunidades de trabalho no exterior?
Em retrospectiva, quando saí do país há quase nove anos, nunca pensei que fosse ficar tanto tempo fora. Na altura em que fui para o Dubai, não conhecia ninguém que lá vivesse e desconhecia também totalmente a cultura, o que acabou por ser um desafio que também me fez crescer. Saí do país depois de ter sido selecionado para o programa Vita Futura da Starwood e colocado no The Westin & Le Meridien Mina Seyahi, no Dubai. A oportunidade era imperdível: um dos maiores complexos hoteleiros do Médio Oriente, reputado por treinar alguns dos melhores profissionais da indústria, com 16 outlets de F&B e recordes de faturação dentro da cadeia, uma equipa de 1.300 pessoas e uma localização privilegiada entre a marina e a entrada para a Palm Jumeirah. Hoje em dia, o complexo cresceu ainda mais com a abertura do W Mina Seyahi. Não pensei duas vezes antes de aceitar.

Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao mudar-se para Londres e começar a trabalhar na indústria hoteleira lá?
A mudança para Londres foi mais fácil do que para o Dubai. Do ponto de vista pessoal e profissional, o choque cultural que tive na mudança para o Dubai foi muito maior do que para Londres. Em Londres, e também no Dubai, a indústria hoteleira é muito grande e competitiva, mas fiquei surpreendido por, depois de uns anos aqui, perceber que muitas das pessoas se conhecem e/ou já trabalharam juntas. O mercado laboral é muito ativo, com pessoas do mundo inteiro a competirem pelas melhores oportunidades, mas se se ficar uns anos conhece-se muita gente dentro da indústria. Do ponto de vista de gestão, liderar equipas de diversos backgrounds culturais foi também um dos aspetos mais interessantes destes anos em Londres.

Como analisa o mercado hoteleiro em Londres em comparação com outros lugares onde já trabalhou? Quais são as tendências atuais nesse mercado?
Dubai e Londres são diferentes, mas ao mesmo tempo muito semelhantes. O mercado dos hotéis de luxo é extremamente dinâmico nos dois destinos, com uma grande competição e oferta hoteleira: todas as grandes cadeias estão representadas, e a crescente competitividade de hotéis independentes ou de cadeias de menor dimensão faz-se notar, principalmente com o surgimento de empresas de software e consultoria hoteleira que vêm competir com o know-how das grandes cadeias.

Londres sempre foi um mercado estável, quando comparado com outras grandes cidades na Europa. No mercado de luxo, nos anos seguintes à pandemia, abriram vários hotéis que trouxeram uma nova dinâmica à cidade com novos recordes de ADR e RevPAR batidos todos os anos – por exemplo, Raffles At The Owo, The Peninsula London e este ano o antecipado Mandarin Oriental Mayfair. Enquanto que em segmentos inferiores, os efeitos da incerteza económica e crise do custo de vida se fazem sentir, o segmento luxury tem crescido de ano para ano não só em Londres mas a nível mundial – como prova disso, várias cadeias hoteleiras têm registado um interesse muito grande por parte de proprietários, com um pipeline ambicioso: Rosewood com 34 hotéis abertos e 24 em pipeline, Four Seasons com 138 hotéis e mais de 50 em pipeline, Mandarin Oriental com 40 hotéis e branded residences e outras 40 em pipeline.

Considerando a sua experiência internacional, tem planos específicos para o futuro da sua carreira na indústria hoteleira? Há alguma área específica que gostaria de explorar ou algum objetivo profissional que deseja alcançar?
Vejo-me a crescer dentro do departamento comercial de uma grande cadeia, nomeadamente da Mandarin Oriental onde comecei recentemente. Como disse, a Mandarin Oriental está numa fase de crescimento incrível, duplicando a sua dimensão com 40 novos hotéis e branded residences a abrirem nos próximos seis anos.

“O grande desafio de quem emigra é que o fosso entre as condições que se consegue lá fora e as que se conseguem em Portugal vai aumentando consoante a carreira progride”

Considera a possibilidade de regressar a Portugal em algum momento? Quais seriam os principais fatores que influenciariam essa decisão?
Sim, apesar de reconhecer que não é fácil tomar a decisão de voltar. O grande desafio de quem emigra é que o fosso entre as condições que se consegue lá fora e as que se conseguem em Portugal vai aumentando consoante a carreira progride. Pelo menos no meu caso assim é. A minha rede de networking é naturalmente mais forte no estrangeiro, pelo que a maioria das oportunidades acaba por surgir também cá fora. Quero um dia voltar, mas será sempre para o desafio certo e não agora. Não estou com pressa.

Como analisa as oportunidades de carreira na indústria hoteleira em Portugal em comparação com outros países onde trabalhou? Existem diferenças significativas que consideraria ao planear o seu regresso?
Como disse, a decisão de regressar será sempre igualmente pessoal e profissional. O aspeto fiscal e remuneratório em Portugal continua a ser desvantajoso, sobretudo quando comparado com outros países geograficamente perto. Já nem comparo com o Dubai, onde trabalhei, e onde a taxa fiscal é baixíssima. Há passos positivos a serem dados pelo atual Governo que visam não só reter os mais jovens a ficar no país, como aqueles que saíram terem um incentivo fiscal para regressar, o que considero essencial para a atração e retenção de talento no país. Sair do país deveria ser sempre uma opção profissional, com vista a diversificar o currículo e conhecer novas culturas e formas de pensar, e não por necessidade financeira ou dificuldade em progredir na carreira. Estes aspetos deveriam estar assegurados num país como Portugal. É esse o país que acho que todos queremos ter.

“Sair do país deveria ser sempre uma opção profissional, com vista a diversificar o currículo e conhecer novas culturas e formas de pensar, e não por necessidade financeira ou dificuldade em progredir na carreira”

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