A Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) revelou esta segunda-feira, 2 de junho, que as companhias aéreas reviram em baixa as previsões de tráfego e lucros para este ano face aos “ventos contrários”. Ainda assim, 2025 deverá ser “um ano melhor para as companhias aéreas do que 2024”.
Durante a sua assembleia-geral anual em Nova Deli, na Índia, a IATA reviu as suas previsões para o setor perante as guerras comerciais e o abrandamento económico mundial.
A organização prevê agora que o lucro líquido conjunto das companhias aéreas atingirá 36 mil milhões de dólares (31,7 mil milhões de euros), ou seja, menos 600 milhões (528 mil milhões de euros) do que o previsto em dezembro de 2024. Ainda assim, este valor é superior aos 32,4 mil milhões de dólares registados no ano passado.
Além disto, a IATA estima que serão realizadas menos de cinco mil milhões de viagens aéreas este ano – mais 4% face a 2024 – contra os 5,22 mil milhões anteriormente previstos.
O resultado operacional projetado é de 66,0 mil milhões de dólares (57,8 mil milhões de euros), acima da estimativa de 61,9 mil milhões de dólares em 2024, mas abaixo dos 67,5 mil milhões de dólares inicialmente previstos.
Já as receitas da aviação comercial deverão manter-se abaixo do valor de um bilião de dólares (888,1 mil milhões de euros) previstos aquando das projeções anteriores, com a IATA a antecipar agora 979 mil milhões (862 mil milhões de euros).
O número de viajantes transportados, medido em passageiros por quilómetros realizados (RPK), deverá crescer 5,8%, representando “uma normalização significativa após o crescimento excecional de dois dígitos da recuperação da pandemia”, segundo a IATA.
Willie Walsh, diretor geral da IATA destaca que “o primeiro semestre de 2025 trouxe incertezas significativas aos mercados globais”. No entanto, “por muitos indicadores, incluindo o lucro líquido, ainda será um ano melhor para as companhias aéreas do que 2024, embora ligeiramente abaixo das nossas projeções anteriores”, acrescenta o responsável, referindo como “maior fator positivo” o preço do combustível de aviação, que caiu 13% face a 2024 e 1% em relação às estimativas anteriores.
O diretor geral da IATA prevê também que “as companhias aéreas transportem mais pessoas e mais carga em 2025 do que em 2024, mesmo que as projeções anteriores da procura tenham sido prejudicadas pelas tensões comerciais e pelas quedas da confiança dos consumidores”.
“O resultado é uma melhoria das margens líquidas de 3,4% em 2024 para 3,7% em 2025. Isto ainda representa cerca de metade da rentabilidade média em todos os setores”, sublinha o Willie Walsh, considerando que, tendo em conta os “ventos contrários”, este é “um resultado forte que demonstra a resiliência que as companhias aéreas trabalharam arduamente para fortalecer”.
Recorda-se que, a 2 de abril, o presidente norte-americano Donald Trump lançou uma ofensiva tarifária global, mas a situação permanece “altamente volátil”, de acordo com a agência Lusa. Além de um adiamento de algumas das sobretaxas para o início de julho, na pendência de negociações com os países visados, um tribunal norte-americano contestou na passada quarta-feira a autoridade da Casa Branca para impor tais medidas. Poucas horas depois, um tribunal de recurso confirmou as sobretaxas aduaneiras, enquanto se aguarda uma decisão sobre o mérito da questão.
Neste contexto, Walsh refere que “obter um lucro de 36 mil milhões de dólares é significativo”, porém “isto equivale a apenas 7,20 dólares por passageiro por segmento”. Para o diretor geral da IATA, esta é “ainda uma margem de segurança pequena, e qualquer novo imposto, aumento das taxas aeroportuárias ou de navegação, choque de procura ou regulamentação onerosa colocará rapidamente à prova a resiliência do setor”.
“Os decisores políticos que dependem das companhias aéreas como o núcleo de uma cadeia de valor que emprega 86,5 milhões de pessoas e sustenta 3,9% da atividade económica global devem ter isso em mente”, disse Walsh.
A IATA salientou que o Produto Interno Bruto (PIB) é o “motor tradicional da economia das companhias aéreas”, e este deverá cair para 2,5% em 2025, em média, a nível mundial, contra 3,3% no ano passado. No entanto, “a rentabilidade das companhias aéreas deverá melhorar”, com uma margem líquida agora estimada em 3,7%, contra 3,6% anteriormente projetados para este ano, uma situação “em grande parte atribuível à queda dos preços do petróleo”.
A nível de frota, a IATA indica que o portfólio de aeronaves ultrapassa os 17.000, com um tempo de espera implícito de 14 anos. Segundo a associação, os problemas na cadeia de abastecimento têm tido “impactos negativos significativos” nas companhias aéreas, com o aumento dos custos de leasing, a subida da idade média da frota para 15 anos (de 13 em 2015), o corte da taxa de substituição da frota para metade dos 5-6% de 2020 e a redução da eficiência da utilização da frota.
Em 2025, a organização antecipa que sejam entregues 1.692 aeronaves. Apesar de este ser o número mais elevado desde 2018, é quase 26% inferior às estimativas do ano passado. A IATA acrescenta que “são prováveis mais revisões em baixa, dado que os problemas na cadeia de abastecimento deverão persistir em 2025 e possivelmente até ao final da década”.
Os quatro principais “riscos” para a aviação comercial em 2025
A IATA identificou ainda os quatro “riscos mais significativos” para a indústria da aviação este ano, face às atuais “incertezas” geopolíticas e económicas.
A associação começa por destacar os conflitos, nomeadamente a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, defendendo que a sua resolução “beneficiaria as companhias aéreas ao voltar a ligar economias desvinculadas e reabrir o espaço aéreo”.
Além disso, “as tarifas e as guerras comerciais prolongadas reduzem a procura de carga aérea e potencialmente de viagens”, sublinhou a IATA. As políticas comerciais impostas pela administração de Trump poderão vir a “atrasar decisões comerciais críticas que impulsionam a atividade económica e, com ela, a procura de carga aérea e viagens de negócios”.
Outro “risco” é a “fragmentação dos padrões globais ou o enfraquecimento das instituições e acordos multilaterais”, que podem trazer “custos adicionais para as companhias aéreas com um ambiente regulamentar mais complexo ou instável”.
Por fim, os preços dos petróleo são “um dos principais impulsionadores da rentabilidade das companhias aéreas”, e os fatores que os impactam podem causar “alterações rápidas na volatilidade dos preços, com impacto significativo nas perspectivas financeiras das companhias aéreas”.






