Licenciado em Direção e Gestão Hoteleira, pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, e com um mestrado em Gestão pela Nova School of Business & Economics, com especialização em Hospitality & Service Management, André Godinho é um jovem português, de 24 anos, natural de Lisboa. Desde março do ano passado, está a realizar o “Marriott Voyage Program”, no The Barcelona Edition, unidade hoteleira de cinco estrelas, do grupo Marriott, em Barcelona.
André Godinho ingressou numa licenciatura em Direção e Gestão Hoteleira, em 2017. Durante este curso, efetuou dois estágios, nomeadamente no hotel Pestana Cascais, e no Conrad Algarve, na área de Food & Beverages (F&B). No último ano da licenciatura, fez Erasmus durante um semestre em Budapeste, na Budapest Business School. Terminou o curso em 2020 – ano em que surgiu a pandemia de covid-19.
O setor do turismo foi dos mais afetados pela pandemia, e com uma crescente incerteza acerca do seu futuro profissional, André Godinho decidiu candidatar-se a um mestrado na Nova School of Business & Economics, em Carcavelos. Optou por fazer um mestrado em Gestão, com especialização em Hospitality & Service Management, pelo Westmont Institute of Tourism & Hospitality. Durante o mestrado, teve a oportunidade de estagiar durante dois meses no Hotel Cardoso, em Maputo, Moçambique, graças a uma parceria entre a escola e o grupo hoteleiro Westmont Hospitality Group, que possui diferentes hotéis espalhados pelo mundo.
“Esse estágio é em contacto direto com o diretor do hotel e fazemos diferentes projetos, como gerir as redes sociais, alavancar o training dos trabalhadores e as experiências no restaurante, políticas ESG, foi um mistura de diferentes pontos do hotel”, explica o jovem. “Gostei muito, foi uma experiência completamente diferente, é outra realidade. Conhecer a cultura de Moçambique, honestamente, foi um pequeno choque, porque o país é muito pobre. Percebi que os trabalhadores do hotel nas suas casas não têm as mínimas condições, de saneamento e tudo mais, e mesmo assim conseguem fazer um bom serviço”, acrescenta.
“Não deviam oferecer a uma pessoa licenciada e com mestrado um cargo de rececionista, um pouco acima do ordenado mínimo, como se fosse uma oferta de luxo”
Terminou o mestrado em março de 2022, altura em que tentou ingressar no mercado de trabalho português. “Em Portugal, a indústria hoteleira está estagnada, digo estagnada porque parece que a covid-19 não despertou o setor como podia ter despertado”, refere. Para André, muitos setores transformaram a sua maneira de trabalhar graças à pandemia, mas a indústria do turismo “reabriu mas voltou ao que já fazia antes”.
“Eu vejo à minha volta pessoas formadas, com licenciaturas e mestrados, e as ofertas profissionais que fazem é apenas para rececionista. Nós procuramos um pouco mais. Claro que é importante perceber como funciona o serviço, mas não deviam oferecer a uma pessoa licenciada e com mestrado um cargo de rececionista, um pouco acima do ordenado mínimo, como se fosse uma oferta de luxo”, lamenta o jovem, referindo que é difícil subir na carreira em Portugal, e que os hotéis tendem a escolher para cargos diretivos funcionários que já estão há muito tempo na empresa, ou que tenham “muitos anos de experiência”.
Marriott Voyage: Leadership Development Program
Enquanto procurava emprego na área, André Godinho descobriu o “Marriott Voyage: Leadership Development Program” – um programa internacional para jovens formados em turismo ou hotelaria, com uma duração entre 12 e 18 meses. “É uma mistura entre a parte prática e de gestão, no período do estágio aprendemos ambos e terminamos o programa aptos para desempenharmos cargos de supervisor e manager”, explica. No processo de candidatura, o jovem mostrou-se interessado pela área geográfica de Portugal e Espanha e pelo departamento de Sales & Marketing, mas durantes as entrevistas também se mostrou recetivo a outras áreas, incluindo F&B, porque tinha mais oportunidades. “O programa é que é importante, a área é só um detalhe”, sublinha.
André Godinho foi selecionado pelo hotel de cinco estrelas The Barcelona Edition, para o departamento de F&B. “O programa diverge de hotel para hotel, mas tem uma junção entre a parte prática e de supervisor. Apesar de ser um estágio, no contrato é como se fossemos supervisores, somos considerados trabalhadores, e somos remunerados como primeiro emprego”.
No entanto, André sublinha que “é um primeiro trabalho um pouco diferente”. “Temos a parte da aprendizagem – temos uma plataforma da Marriott com diferentes cursos que devemos fazer online – e ainda uma outra parte que eu estou a começar agora: uma rotação pelos diferentes departamentos do hotel. Já estive no departamento de eventos, sales & marketing, recursos humanos, cozinha, finanças, vou passar mesmo por todos”, refere, salientando que apesar do seu departamento principal ser o de Food & Beverages, está a ter um “overview” de todo o hotel.
Voyage Program: “É uma mistura entre a parte prática e de gestão, no período do estágio aprendemos ambos e terminamos o programa aptos para desempenharmos cargos de supervisor e manager”
“O programa é muito bom, acho que qualquer pessoa da área devia candidatar-se a este programa. No meu caso, eu queria ir para outra área, porque já tinha estado em F&B, mas também vou contactar com os outros departamentos”, explica André. O que considera mais positivo neste programa da Marriott é o facto de estar “num trabalho/estágio, porque estou a aprender e posso fazer perguntas, mas ao mesmo tempo sou trabalhador, por isso é o melhor dos dois mundos”.
Passados 11 meses em Barcelona, e com o programa a chegar ao fim, André Godinho admite que a pior desvantagem de ser saído de Portugal é o facto de ter deixado a sua vida em Lisboa e ter começado do zero. No entanto, com esta experiência está a enriquecer o seu currículo, melhorou o espanhol, ganhou uma maior autonomia no trabalho, conhece melhor os departamentos de um hotel, e tornou-se um jovem mais independente e responsável.
Escassez de mão-de-obra no setor do Turismo
André Godinho conta que a escassez de mão-de-obra no turismo também chegou a Espanha. No entanto, refere que, ao contrário de Portugal, os hotéis não querem que os funcionários trabalhem horas extra. “As horas extra em Portugal são quase um dever, aqui não, querem o mínimo possível que façamos horas extra. Já tive que fazê-las, porque também há falta de mão-de-obra, mas essas horas são anotadas e depois recebemo-las de volta, ou saímos mais cedo”, frisa.
André diz entender porque é que muitos profissionais desistiram do setor. “Os profissionais do turismo perceberam, com a pandemia, que noutros trabalhos – em que dá para trabalhar remotamente, ou com uma mistura entre trabalho remoto e presencial – conseguem ter uma vida mais estável”.
No setor hoteleiro, o jovem conta que os funcionários recebem os seus horários de trabalho com pouca antecedência. “Eu não sei como será o meu horário daqui a um mês. Se eu quiser marcar uma viagem num dia específico tenho de pedir os dias, porque tenho horários e folgas rotativas. Agora que estou a começar, e sou jovem, não me importo, mas para alguém que queira construir família já não é tão fácil”, afirma, salientando que Portugal não devia “vangloriar-se” por ir buscar mão-de-obra a países africanos. “Temos tantas pessoas em Portugal que querem trabalhar”.
“Os profissionais do turismo perceberam, com a pandemia, que noutros trabalhos conseguem ter uma vida mais estável”.
Futuro
Questionado sobre o futuro, após a conclusão do programa, André Godinho constata que “é uma pergunta complexa”.
“O programa está a terminar e eu penso no futuro, vou voltar para Portugal? Não sei, honestamente depende da proposta de trabalho que me oferecerem. Eu queria voltar, porque adoro o país e temos um potencial gigante. Gastronomia, clima, ambiente, Portugal é magnifico, só que a parte profissional é que me dá pena”, afirma.
Apesar de gostar de hotelaria, André já ponderou trabalhar em gestão, fora da área do turismo. “Às vezes ouço uma voz que me diz: André, vai trabalhar para um escritório, para teres uma vida estável, com um horário das 9:00 às 18:00, com fins-de-semana livres. Porque é que estás nesta área, a fazer todos estes sacrifícios, quando podes ter algo mais estável? Mas depois tenho o outro lado que me diz para ficar, porque eu gosto de hotelaria”.
Ao mesmo tempo, o jovem admite que gostava de mostrar que é possível chegar a diretor-geral sem ter de fazer “imensos sacrifícios”. “Quero mostrar que é possível fazer um percurso normal: ir para a universidade, trabalhar na parte operativa – porque um bom diretor ou manager também tem de saber fazer – e com um percurso mais curto chegar a esse patamar [de diretor-geral]”, concluiu.