Em entrevista ao TNews, Sérgio Leandro, administrador da Highgate Portugal, partilhou as perspectivas da empresa para 2025, destacando o crescimento no primeiro trimestre, apesar de algumas unidades estarem em obras. A sua análise sobre os desafios da hotelaria em Portugal aborda questões estruturais e fiscais, mas também evidencia as grandes oportunidades que o país oferece, especialmente com o crescente interesse de investidores estrangeiros. Sérgio Leandro acredita que, além do crescimento quantitativo, a qualidade será o principal motor para o futuro do setor.
Como é que correu o primeiro trimestre? Quais são as suas perspetivas para 2025 em termos de tendências e desafios para a Highgate Portugal?
O primeiro trimestre correu muito bem. Temos tido estas quatro unidades temporariamente fora de ação porque estão em obras profundas. No restante portfólio, a atividade tem sido muito positiva. Tanto no Porto como em Lisboa e no Algarve, temos registado melhorias na performance em relação ao período do ano passado. Para o resto do ano, as perspectivas são otimistas. O nosso índice de reservas confirmadas, particularmente para essas quatro unidades que estão agora fechadas, mas que estão a aceitar reservas para a época, está melhor nesta altura do que estava na mesma altura do ano passado. E, considerando que as datas estão fechadas, isso deixa-nos muito confiantes quanto ao desempenho que teremos.
Considera que esta conjuntura internacional não terá grande influência para o nosso turismo em Portugal?
A conjuntura geopolítica neste momento é volátil. Não podemos dizer que não tenha impacto. Cada crise, seja na Ucrânia, em Israel, ou em qualquer outro lugar, sempre tem algum impacto. O que temos feito, e não é por acaso, é diversificar ao máximo a nossa posição no mercado, para que, sabendo que pode haver volatilidade num determinado segmento de mercado, podemos compensar com outro. Vemos com preocupação os problemas que estão a acontecer no mundo, mas, neste momento, não posso dizer que tenham um impacto direto nas nossas perspectivas.
O mercado americano, com estas políticas de Trump, não pode fazer com que haja uma recessão na América?
Tendo mais de 500 unidades nos Estados Unidos, temos um feeling bastante próximo do que está a acontecer no setor, e não tem abrandado. Como acontece normalmente em ano de eleições, que foi o ano passado, o mercado abranda um pouco até as pessoas saberem o que vai acontecer, mas depois volta ao normal.
Qual é a projeção de crescimento para este ano?
Embora este ano tenha a condição das unidades fora de ação durante um período significativo, posso dizer que, no período homólogo com unidades homólogas, procuramos aumentar, geralmente, 10% de receita. Algumas unidades vão ter mais do que isso, e outras ligeiramente abaixo.
“A questão da sustentabilidade (…) é uma oportunidade disfarçada para podermos atingir ainda mais potencial hoteleiro em Portugal”
O que considera ser fundamental para manter a competitividade no setor hoteleiro português?
Vivi 10 anos em Londres, no mesmo setor, e, ao regressar a Portugal, é inevitável que haja algumas comparações feitas e que, porventura, tenham ou não impacto direto naquilo que é o potencial imediato e a longo prazo do setor em Portugal. Estruturalmente, temos alguns desafios que podem, naturalmente, ser ultrapassados, mas requerem investimento e compromisso político também. Um exemplo é o transporte público. Em Lisboa existe uma rede com vários meios de transporte, mas no Algarve e noutras zonas não é tão presente, não é tão disponível. E claramente há a mesma necessidade por parte da população residente, principalmente aquela que trabalha no nosso setor, de poder estar disponível nos horários necessários. Essa área precisa, sem dúvida, de ser trabalhada. A nível social, também há a questão do alojamento. Com as dificuldades conhecidas no mercado, a nível de acesso, preço e disponibilidade, tentamos contrariar e ajudar o nosso setor através de alojamento próprio. Oferecemos alojamento a cerca de 150 a 200 pessoas no Algarve, em particular. É uma forma que encontramos de combater diretamente este problema, que é social, não setorial. Economicamente, também acho que há algumas oportunidades para reavaliar, nomeadamente a estrutura fiscal que o setor tem. Vejamos o IVA: o IVA na restauração em Portugal é de 13%. Em Espanha, Itália, França e outros países, está a 10%. Essa diferença é significativa tanto para o operador quanto para o consumidor. E havendo a possibilidade de ser mais competitivo nesse patamar, fará a diferença não só para os hotéis, mas também para a restauração e para o próprio consumidor. Dinamizaria muito mais. E, numa altura onde a empregabilidade é tão crítica de se manter, fatores como esse fazem toda a diferença. Voltando ao tema da sustentabilidade, é uma oportunidade disfarçada para podermos atingir ainda mais potencial hoteleiro em Portugal. Temos condições geográficas, climatéricas e até culturais. Podemos abraçar novas práticas, novas maneiras de estar, que outros países não têm. Conseguir implementar isso de forma holística no que fazemos no setor vai fazer toda a diferença para quem quer trabalhar nele e para quem quer experienciar a nossa versão da hotelaria. Não se trata só da distância que estamos da praia, quantos quartos temos, quantos restaurantes oferecemos, mas da nossa consciência social e ambiental, não só para quem lá está, mas também para a comunidade onde estamos integrados. Claramente que, e eu estou convicto disso, cada vez mais as decisões tomadas têm esse critério por base. Quanto mais for feito nesse sentido, melhor.
Ainda há oportunidades de negócio em Portugal?
O mercado português, apesar de relativamente pequeno comparado a outros internacionais, tem bastantes diferenças regionais. O mercado de Lisboa, por exemplo, não é o mesmo que o do Alentejo ou do Algarve. Num panorama geral, ainda há muitas oportunidades. O potencial claramente está lá, não só a nível destino. O interesse de investimento estrangeiro em Portugal nunca foi tão alto. Enquanto destino, Portugal está num patamar nunca antes alcançado, o que facilita o nosso trabalho para otimizar o potencial hoteleiro, não só das unidades que temos, mas também das que ainda estamos a ambicionar ter. Portanto, há uma sinergia muito positiva entre o potencial do mercado e as nossas aspirações. A leitura que fazemos do mercado agora é que há oportunidades, claramente, para introduzir não só mais unidades, mas, acima de tudo, qualidade. Aliás, Portugal está num mini-boom de crescimento a nível de unidades. E o importante é que se mantenha a qualidade e não se olhe só ao número de hotéis que estão a aparecer.