Como é que um hotel de 13 quartos apenas, em Melides, dá tanto que falar? Talvez porque o seu proprietário seja o designer francês Christian Louboutin, conhecido pela criação de sapatos com sola vermelha. A pouco mais de um mês da sua abertura em soft opening – 1 de abril de 2023 (e não é mentira), o Financial Times visitou o hotel e o resultado foi uma reportagem que teve eco na imprensa nacional e estrangeira, sendo já apontado como uma das aberturas do ano. No extenso artigo são apresentadas fotos e a descrição dos vários espaços do Vermelho, como se denomina a unidade, numa homenagem à cor que o tornou célebre.
Como tudo começou?
Louboutin descobriu pela primeira vez a Comporta no final dos anos 80, mas só comprou casa lá alguns anos depois, descreve o artigo, citando o designer. “Naquela época, era uma espécie de paraíso”, diz. “Sem pessoas, sem luzes [artificiais], o sol o dia todo.” Mas há cerca de 15 anos, “sentia que ia se tornar o que basicamente é: um lugar superdesenvolvido, não tão bonito. Descobri que era menos feliz lá.” Foi então que descobriu Melides e foi amor à primeira vista: “Melides era como a Comporta no início – tranquilo e autêntico”. Pouco tempo depois comprou uma propriedade que transformou em sua casa e, mais tarde, o seu atelier (agora vive num complexo maior ao lado).
Em 2019, comprou mais uma casa num terreno alargado no centro da vila, com a ideia de abrir um restaurante. O presidente da junta de freguesia de Melides sugeriu que pensasse um pouco mais alto, ressaltando que havia terra suficiente para considerar a criação de um hotel. Resultado? A área de receção do Hotel Vermelho agora fica no que restou dessa antiga casa”.
Com três pisos e um jardim criado pelo paisagista Louis Benech, um amigo do designer, o Vermelho está “cheio de murais pintados à mão e madeiras ricamente embutidas, antiguidades do norte da África e da Europa, tecidos extravagantes e pedras portuguesas. E por todo o lado, azulejos e cerâmicas de design personalizado de toda a Península Ibérica”, descreve o artigo.
“Não há dois quartos idênticos”, lê-se, e “cada um apresenta, pelo menos, um detalhe singular, seja uma cama de dossel ou uma mesa de vime em formato de macaco. As cores são destemidas – “uma paleta para desmaiar, com desdobramentos criteriosos, mas imperdíveis, de vermelho, aquele tom característico de Louboutin”, descreve o autor.
Louboutin já tinha “sonhado” com a ideia de criar hotel, mas nunca tinha projetado nenhum. “Tenho a sorte de ter muitos amigos em muitos lugares diferentes, onde fico alojado, por isso a minha estética não vem do mundo dos hotéis. E eu só sei projetar casas”, refere.
A arquiteta do Vermelho é Madalena Caiado, também ela amiga do designer e foi quem restaurou a sua casa em Lisboa. Carolina Irving, editora da Elle Decor e Vogue Living e designer têxtil (vizinha de Louboutin em Melides por anos), emprestou seu vasto conhecimento de designs de tecidos históricos e coleções contemporâneas. Patricia Medina, uma ex-negociante de antiguidades com sede em Sevilha, restauradora de palácios históricos e consultora de design, fez a ponte entre Louboutin a alguns dos principais ferreiros e produtores de cerâmica de Espanha. “As portas impressionantes de cada quarto vieram de Sevilha, assim como as pesadas maçanetas de estanho, incrustadas com delicados motivos de esmalte em branco e (naturalmente) vermelho”. Cada quarto tem seu próprio design de azulejo exclusivo, seja no piso, em paredes ou nas cabeceiras.
Na decoração há também elementos que prestam homenagem à herança egípcia de Louboutin, sendo a mistura de estilos, referências e épocas uma constante.
No final, ficamos a saber que o Vermelho será gerido pela Marugal, uma empresa hoteleira que gere 11 hotéis em Espanha, França, Suíça, Reino Unido e agora em Portugal. São todos hotéis que nasceram em antigos palácios, antigas fortalezas militares ou edifícios históricos que remontam ao século XIX, tratando-se de uma “coleção de hotéis singulares com um algo em comum: luxo personalizado”, descreve a empresa.
Quanto a Louboutin, o designer afirma que não queria que o hotel fosse diferente “de quando estou em minha casa”. “Precisava ser de alguma forma uma extensão de como eu e meus amigos vivemos em Portugal. Então, se esse ambiente [funciona], é também porque eu entendi que o Marugal faria do jeito que precisava ser.”
O designer tem planos para mais dois hotéis nas proximidades de Melides. Um deles, uma propriedade reaproveitada que Louboutin comprou com vista para a lagoa, contará com os designs de interiores de Olivia Putman, filha do lendário decorador francês Andrée; e a sua abertura está prevista para 2024. O outro, será construído de raiz num terreno que Louboutin adquiriu recentemente na floresta de pinheiros.