Segunda-feira, Maio 12, 2025
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O que mudou com a pandemia? “Não mudou muita coisa, são as mesmas tendências, mas a uma velocidade maior”

Foi para perceber o que mudou com a pandemia na oferta turística e o que fica destes dois anos de covid-19 que o Fórum de Turismo Interno Vê Portugal juntou, no painel “O Covid 19 e o impacto na oferta turística”, três dirigentes associativos: Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Alexandre Marto, Vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal Joaquim Robalo de Almeida, Secretário-geral da Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor.

Partindo da premissa que “raramente há alterações na oferta, o que há são alterações na procura e há que reagir”, Pedro Costa Ferreira considerou que não há “uma era pré-covid e pós-covid”. Não acho que tenha havido. O que houve foi uma incapacidade física entre a procura e a oferta. Sempre dissemos que iríamos recuperar como um interruptor, de um dia para o outro, é o que está a acontecer em Portugal”, começa por dizer o responsável da APAVT, que vê, no entanto, alterações no próximo ano, nomeadamente relativamente às viagens de lazer que não terão o mesmo desempenho no próximo ano, por causa dos efeitos da inflação e aumentos de custos. “Agora as pessoas querem viajar e têm poupanças para o fazer”, defendeu.

“Sempre dissemos que iríamos recuperar como um interruptor, de um dia para o outro, é o que está a acontecer em Portugal”

Pedro Costa Ferreira lamentou, porém que, num tema em concreto, não se tenha aproveitado a pandemia para fazer avanços. O presidente da APAVT falava do aeroporto de Lisboa. “Não fizemos nada com esses dois anos, a não ser protelar, tenho vergonha dos nossos políticos”.

Pedro Costa Ferreira

À pergunta, o que mudou e veio para ficar, Pedro Costa Ferreira enumerou alguns aspetos como as experiência ativas, natureza, autenticidade, corporate + lazer + viagens. No entanto, não considera “que haja muita coisa nova por causa da pandemia, acho que houve uma aceleração de tendências, uma delas é a digitalização”. Em suma, o presidente da APAVT aponta as “mesmas tendências, mas mais velocidade”.

Pedro Costa Ferreira, que veio também falar das oportunidades para o setor, apontou alguns caminhos, como a especialização. “É provavelmente fundamental, não há boas nem mais especializações, há oportunidades em todo o lado”. A par disso, o acompanhamento do cliente ao longo de toda a jornada de consumo e a digitalização com mais serviço são duas oportunidades identificadas. “Não é fazer um site, é velocidade de processo, intervenção mais rápida, mais longa e mais efetiva”, refere a propósito da digitalização.

“Perdemos sete a dez anos de resultados”

O presidente da APAVT falou ainda das perspetivas das agências de viagens, que esperam retomar os resultados de 2019 este ano. “O momento da pandemia não podia ter sido pior, perdemos sete a dez anos de resultados. Em 2022 esperamos ter resultados semelhantes a 2019. É importante que o Governo não se esqueça de uma das promessas eleitorais. Prometeu o pagamento do Apoio à Retoma de abril a dezembro de 2021 e não cumpriu até à data. Quero acreditar que vai cumprir. Até porque, como dissemos em março de 2020, é no momento da retoma que os problemas de tesouraria e de financiamento se vão colocar. A maior parte das nossas empresas não vai conseguir dialogar com bancos nos próximos cinco anos”, defendeu.

Mas, se por outro lado as agências enfrentaram momentos difíceis, por outro “foi um momento com alguns factos engraçados que vão ficar para a história”, assumiu. “Aumentámos a nossa credibilidade. Foram as agências de viagens que repatriaram os seus clientes. Tivemos apenas uma operação turística com relevo que não foi reembolsada. Em março de 2020, as agências de viagens tinham 300 milhões para reembolsar e a 14 de janeiro de 2022 não houve nenhum problema. Isto é da maior relevância, trouxe credibilidade às agências, como trouxe visibilidade o fato de ser mais fácil durante a pandemia perceber que informação é diferente de conhecimento”, concluiu.

“O que ficou da pandemia foi a morte” e, em contraponto, o Turismo é vida

A ideia de que os temas que estão atualmente em cima da mesa já eram falados antes da pandemia foi defendida por Alexandre Marto e não faltaram exemplos dados pelo hoteleiro e dirigente da AHP.

Alexandre Marto

Primeiro, relativamente a dois problemas de curto prazo, o aeroporto de Lisboa e os recursos humanos. “Hoje continua a haver um problema com o aeroporto, é uma vergonha nacional o país não ter capacidade de avançar com uma solução”, considerou. Já quanto aos desafios de longo prazo, Alexandre Marto apontou dois temas que já eram abordados antes da pandemia: sustentabilidade e digitalização. “Quanto à sustentabilidade é um problema da sociedade, as empresas têm de se adaptar, mas ainda não assisto a uma massificação da procura. Quantos pagam a taxa de compensação de carbono?”, questionou o responsável para em seguida tirar uma conclusão: “Nada se alterou”.

Antes de avançar para a resposta à questão: o que mudou com a pandemia? Alexandre Marto defendeu a ideia de que há uma certa bipolaridade quando se fala de tendências e recuperação.

“Durante a pandemia os analistas apontavam o mercado corporate como o primeiro mercado a recuperar e depois surgiu o zoom, que valorizou muito em bolsa no pico da pandemia, e baixou em 2022. Ou seja, a digitalização veio para ficar, mas não veio para tomar conta da nossa realidade. Já participamos em eventos, já voltámos ao escritório. Não podemos ser bipolares, apesar de tudo muito poucas coisas mudaram brutalmente”, considerou o responsável.

Já quanto à pergunta: o que veio para ficar e o que mudou brutalmente no turismo e em tudo o resto na nossa vida? Alexandre apontou uma resposta inesperada: “O que ficou foi a Morte. Pela primeira vez na história da Humanidade, o mundo ocidental que está sempre conectado, a morte entrou pela a nossa casa todos os dias. Isto é que marcou, mas a grande oportunidade para o turismo é a Vida, acho que é a única coisa que vai ficar. O Turismo é vida. Vendemos pedaços de vida: viver, sentir, viajar, passear”, defendeu o responsável.

Alexandre Marto rematou com a mensagem que devemos focar-nos em dar “maior prioridade a ser, menos tempo para o trabalho e mais tempo para o planeta”. Acredita que haverá mais autenticidade, mais eficiência e mais sustentabilidade”.

“Pela primeira vez na história da Humanidade, o mundo ocidental que está sempre conectado, a morte entrou pela a nossa casa todos os dias. Isto é que marcou, mas a grande oportunidade para o turismo é a Vida, acho que é a única coisa que vai ficar.”

Por sua vez, o secretário geral da ARAC confirmou a recuperação do turismo: “Já começou e está em bom andamento. O ano de 2022, a manter-se, pode vir a ser um ano recorde na nossa atividade. Em termos de faturação, estamos com uma oferta menor, mas com maior faturação”, afirmou o responsável.

O ano de 2020 foi “negro” para o setor da rent-a-car e a recuperação só chegou no início de junho de 2021, tendo sido “lenta, com abertura e fechos de países”, recordou Joaquim Robalo de Almeida.

Joaquim Robalo de Almeida

Os dias cinzentos parecem já ter ficado para trás, na medida que os primeiros “quatro meses têm sido fantásticos”, embora não existam carros suficientes para a procura, “devido à falta de semi-condutores”.

Os prejuízos acumulados com a pandemia foram grandes, e, se não fossem os ativos vendidos teria havido empresas em dificuldades. “Nenhuma empresa fechou, as dificuldades foram ultrapassadas pela venda de ativos, a redução de pessoal, e o recurso aos apoios do Estado”, sublinhou o responsável da ARAC, embora tenha lamentado um apoio que nunca chegou: “o pedido de suspensão do IUC nunca foi atendido”.

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