Durante o Fórum “Vê Portugal”, que decorreu na Covilhã até 31 de maio, os participantes do painel “Caminhos para o Futuro do Turismo Interno” destacaram a importância de várias medidas para impulsionar o setor. Entre os temas abordados, a estruturação adequada do produto turístico, o apoio às empresas, a qualificação dos recursos humanos, a redução da carga fiscal e a promoção da sustentabilidade foram enfatizados.
O painel contou com a participação de Ana Jacinto, Secretária-Geral da AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), Adolfo Mesquita Nunes, advogado e ex-Secretário de Estado do Turismo, e Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT (Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo).
Durante a discussão, foram abordadas diversas questões relacionadas com um turismo interno em Portugal. Um dos pontos levantados foi o Plano Ferroviário Nacional. “Quem não gosta de decidir devia ir para outra função. É cada vez mais difícil decidir, não é uma questão da coragem, mas a verdade é que decidir ganha tempo e conforto e é quase sempre um gesto mais arriscado”, ressaltou Adolfo Mesquita Nunes, apontando a questão do novo aeroporto de Lisboa e da ferrovia como casos emblemáticos “de falta de decisão”.
Adolfo Mesquita Nunes também salientou a necessidade de estruturar o turismo interno para criar experiências atrativas, destacando o território como um recurso valioso e desafiador. O advogado enfatizou a importância de envolver diversos atores nesse processo, sugerindo que as autarquias se concentrem na estruturação do produto turístico, deixando a promoção para as regiões e para o Turismo de Portugal.
No contexto do turismo interno, Adolfo Mesquita Nunes salientou a necessidade de estruturar o que já existe para criar experiências turísticas atrativas. “O mais difícil de ter é o território e isso nós temos, agora estruturá-lo de maneira a que se transforme em algo que possa ser fruído, com regras, cautela, é difícil. Se o território não tiver uma vida própria, mesmo antes dos turistas cá chegarem, então mais difícil é estruturar o produto turístico. Nesse campo acho que há muito para fazer”, disse o advogado, defendendo que as autarquias deveriam focar-se mais na estruturação do produto turístico, deixando a promoção para as regiões e para o Turismo de Portugal.
No que diz respeito aos apoios governamentais, Pedro Costa Ferreira sugeriu que o Estado reduza os encargos fiscais sobre o trabalho, fortaleça a organização estrutural do turismo e aumente os recursos financeiros disponíveis. O presidente da APAVT elogiou a campanha “+Interior +Turismo”, ressaltando a importância de impulsionar o turismo nas regiões de baixa densidade populacional e promover a coesão social.
“A questão do aeroporto também envolve turismo interno, e os territórios do interior não podem viver só de proximidade e de turismo interno. É importante resolver o problema do aeroporto”, acrescentou.
Adolfo Mesquita Nunes destacou a necessidade de canalizar os fundos europeus rapidamente para as empresas, através de projetos inovadores e de capacitação. O advogado enfatizou a importância da qualificação da administração pública e da capacitação dos recursos humanos no setor do turismo, ressaltando a necessidade de “reduzir a carga fiscal sobre o trabalho” e criar um ambiente favorável para o setor privado.
Ana Jacinto abordou a questão da carga fiscal sobre alimentação e bebidas, ressaltando que Portugal está em desvantagem em relação a países como Espanha, onde há uma taxa intermédia de imposto. A dirigente defendeu a necessidade de se “uniformizar as taxas” em Portugal, alegando que essa disparidade afeta o turismo interno, especialmente considerando “o poder de compra cada vez mais reduzido dos portugueses”. Ana Jacinto também destacou os obstáculos burocráticos enfrentados pelas empresas, ressaltando a importância de uma maior agilidade nos processos e de uma maior acessibilidade aos apoios disponíveis.
Quanto aos destinos com potencial de crescimento nos próximos anos, Pedro Costa Ferreira destacou que todos os territórios, especialmente aqueles localizados no interior e de baixa densidade, possuem oportunidades de crescimento. O responsável ressaltou a importância de se procurar “um crescimento em valor”, não apenas em número de visitantes e receitas, e mencionou a necessidade de uma estruturação do produto turístico que vá além da centralidade da unidade de alojamento.
Pedro Costa Ferreira destacou a importância de experiências de turismo ativas e da personalização, ressaltando que a tecnologia desempenha um papel fundamental, mas que o toque humano também é essencial. “A personalização é mais rentável através da tecnologia, mas fica difícil pensar em personalização sem toque humano”, explicou.
Sobre a questão da sustentabilidade, Adolfo Mesquita Nunes enfatizou que a seca não afeta todo o país, mas sim regiões específicas, como o Algarve e o Alentejo. O advogado mencionou a importância da gestão adequada dos recursos hídricos e destacou a central de dessalinização do Algarve como uma medida positiva nesse sentido. Pedro Costa Ferreira acrescentou que a tecnologia desempenha um papel fundamental na procura por soluções sustentáveis, e ressaltou que o turismo não é a causa da falta de água, mas que a tecnologia é a chave para enfrentar esse desafio.