Nasceu em Cabo Verde, mas foi em Portugal que Josimar Brito fez grande parte do seu percurso académico, tendo imigrado de propósito para o nosso país, acompanhando pela mãe, para tirar um curso superior. Estudou Engenharia e Gestão Industrial na Universidade Nova de Lisboa e foi lá que revelou a sua veia para o associativismo, entrando na Associação do Núcleo de Estudantes Africanos da faculdade, tornando-se no primeiro estudante africano a ser presidente de uma Associação Académica.
O empresário foi Coordenador da Delegação da União de Exportadores da CPLP, CEO da African Business Supports, CEO da Cabo Verde Time – Tour Operator e Ceo Sealand Market.
Atualmente, está no ramo do turismo com a criação do All Inclusive Group, um grupo empresarial com sede em Lisboa que detém participações em diversas em empresas na área do turismo, que operam em Portugal, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Cabo Verde e Senegal. Aos 36 anos, vive no Dubai e tenciona criar um táxi aéreo, com aviões executivos em Cabo Verde, para concretizar o seu grande sonho da aviação.
Como é que passa de um percurso académico na área da Engenharia e Gestão Industrial para negócios no setor do turismo? Pode contar um pouco do percurso? Como é que se dá a ligação ao turismo?
Antes do turismo, vem a aviação. A paixão pela aviação sempre me perseguiu. Desde pequeno, sempre quis ser piloto. Passei a infância e a adolescência a ver aviões a levantar voo, por isso, era o meu grande sonho. Quando concluí o liceu, que era o grupo de Ciências e Tecnologia, queria ser piloto, mas fui para o curso de Engenharia Industrial na Universidade Nova de Lisboa.
Regressei para Cabo Verde e estive a trabalhar com empresários cabo-verdianos e portugueses e fui convidado para coordenar a Delegação da União Exportadores da CPLP em Cabo Verde. Essa organização promove encontros e fóruns empresariais dentro da lusofonia, e havia necessidade de organizar a parte logística das viagens de todos esses empresários. Em conjunto com um sócio, decidimos abrir uma agência de viagens que prestasse um serviço personalizado a esses empresários e a todas as outras pessoas que tivessem interesse, naturalmente.
Acabou por ser, também, uma necessidade em Cabo Verde, um serviço com esta especificidade.
O que é que o atraiu no setor turístico?
25% do PIB de Cabo Verde vem do turismo e é um país onde se está a dar os primeiros passos e há muita coisa para fazer. O turismo tem outros segmentos que o compõem. Hotelaria, restauração, experiências…. Tudo isto carecia de investimento e também era interessante. E, obviamente, viajar é a minha maior paixão, por isso, faço o que mais gosto.
Como e quando surge a All Inclusive Group? O que é que desenvolve a empresa? Foi criada com capitais próprios?
Vem fazer o aglomerado de várias empresas que criei ou que tenho participações. São agências, rent-a-cars, participações em stand automóveis, etc. São várias empresas às quais fui chegando sozinho ou com outros sócios e dei-lhe o primeiro nome da agência que tive: All Inclusive que, como o próprio nome diz, está tudo incluído. Foi criado com capitais próprios e já vem de uma experiência de 15 anos.
Em que negócios o grupo opera em cada um dos países: Portugal, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Cabo Verde e Senegal?
Em Portugal temos participações em agências de viagens Ebroker; nos Emirados Árabes Unidos e no Brasil, operamos nas áreas de agências de viagens, rent a car de luxo e imobiliária. Em Cabo Verde operamos em agência de viagens, rent a car, hotelaria, restauração, imobiliária; e no Senegal com agência de viagens.
A escolha do Brasil resulta do facto de ser o maior mercado da lusofonia. O Senegal, pela proximidade com Cabo Verde e também questões familiares. Vou muitas vezes e conheço bem a realidade do país. O Senegal é a porta de entrada para a CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental). Os Emirados surgem de oportunidades e contactos dos meus sócios que estão lá para receber estes negócios. Percebemos que é um dos maiores centros de negócios da atualidade. É lá que estão pessoas com capacidades financeiras.
Olhando para estes países, quais são os que têm agora melhores oportunidades de investimento no turismo?
É no Dubai que estão as pessoas com maior capacidade financeira para investir nesta área.
Quantas pessoas emprega a empresa?
A All Inclusive na globalidade emprega cerca de 50 pessoas. A maior delegação está no Dubai e em Cabo Verde.
Qual é o balanço da atividade da empresa?
No ano passado, faturamos cerca de 1 milhão e meio de euros.
Por onde passa o crescimento da All Inclusive Group?
O crescimento passa por dois destinos: a CEDEAO é extremamente importante. Tem potenciais milhões de clientes. É uma zona emergente. Queremos começar no Senegal, a seguir chegar à Nigéria, que tem cerca de 211 milhões de pessoas e onde está a grande parte dos novos milionários.
O outro não menos importante é o Dubai. Os Emirados Árabes Unidos estão, nesta altura, no momento ideal para investir ou captar investimentos.
Há outras áreas de negócio que gostaria de desenvolver no Turismo? Ou outros projetos que idealizasse realizar na área do turismo. Se sim, em que países?
Sim, claro. O objetivo é a criação de um táxi aéreo, com aviões executivos em Cabo Verde, para concretizar este meu grande sonho da aviação. Além do sonho, existe uma grande procura deste serviço no Dubai, mas no continente africano ainda não há nenhuma empresa que o faça de forma eficiente, lucrativa e com qualidade.
Olhando para o seu país natal, Cabo Verde, e para o setor turístico, como é que analisa a evolução do turismo no país? Em que áreas é que o país deve apostar?
Desenvolveu-se muito e isso é graças ao trabalho e à resiliência do povo, mas também porque tivemos sempre bons governantes, que apostaram na nossa formação e capacitação. Trataram a educação como o nosso tesouro. E é nesta aposta que resulta tudo aquilo que o país é hoje. Um país estável e uma referência de democracia, que representam caraterísticas essenciais para as pessoas que queiram apostar e investir no país.
Creio que o país deve continuar a apostar na qualidade e na diversificação dos produtos turísticos, ainda pouco explorados como o turismo rural, cultural, desportivo, náutico e de montanhas. Poucas ilhas ainda viram o seu potencial turístico materializado.
São essas vertentes que podem diferenciar o destino Cabo Verde de outros destinos de sol e praia
Temos tido em Portugal uma necessidade muito grande de mão-de-obra para o turismo, e o Governo tem feito acordos com países da CPLP, nomeadamente com Cabo Verde, para trazer mais trabalhadores. Pode ser uma oportunidade para os trabalhadores em Cabo Verde, mas, por outro lado, pode retirar mão de obra a Cabo Verde. Qual é a sua leitura?
É um país em que 75% da população tem menos de 35 anos. Sempre houve essa cultura da educação e, como tal, grande parte da população é formada. Mas o ritmo que produzimos, não é o mesmo da oferta. Do lado de Cabo Verde é que vamos obviamente perder os melhores profissionais, mas é também um desafio que temos que saber ultrapassar. A meu ver, compensa porque estes jovens vão agregar valor e trazer outras valências quando voltarem. É uma grande oportunidade para as pessoas que estão sem emprego e terá um impacto forte nas estatísticas do país, nomeadamente na diminuição do desemprego e no aumento das remessas.
É, também, vice -presidente da UJE-CPLP. Para os países da CPLP o turismo é um negócio atraente?
As oportunidades estão lá, mas a grande preocupação destes jovens é o acesso ao crédito. Os bancos não estão a acompanhar a aposta em algumas áreas. Calculam o risco de negócios de outra forma, com alguma desconfiança, quando estes projetos são trazidos por jovens empresários. Acho que tem que haver ferramentas e mecanismos criados pelo Governo para que esses jovens possam validar projetos bem estruturados e bem fundamentados, de forma a ter acesso a esses créditos.
Cabo Verde tem um exemplo muito interessante, o Pró-Garante, que tem dado um contributo interessante na materialização dos projetos. Os empreendedores têm acompanhamento do processo da sua ideia de negócio, na estruturação e organização da sua empresa, dando acesso a uma rede de contabilistas e auditores, e ter a pasta toda preparada para apresentar aos bancos. Se os bancos validarem a ideia de negócio, acaba por exigir que haja uma participação de 20%. É aqui que a Pró-Garante entra, para agilizar o procedimento e o estado entra com estes 20% para garantir que o projeto avança. Esse valor é mensalmente pago pelo empreendedor. E tem funcionado muito bem.