Viajámos para o Uzbequistão para participar numa fam trip a convite da DIT Portugal, da Turkish Airlines e do recetivo Orient Star Group. Foram oito dias de viagem, em que conhecemos a cultura milenar dos uzbeques através das suas cidades e monumentos históricos. Tashkent, Khiva, Bukhara e Samarcanda conquistaram-nos pela sua beleza e estado de conservação, mas foram os uzbeques que mais nos surpreenderam, pela forma simpática e afável com que nos receberam.
Jadvyga Korecka é lituana e viaja num comboio clássico da série Sharq entre Khiva e Bukhara, duas cidades históricas do Uzbequistão. São cerca de sete horas de viagem para percorrer 400 quilómetros que separam os dois destinos, atravessando o deserto de Kyzil Kum. A viagem só terá uma paragem técnica, em pleno deserto para deixar passar outro comboio que segue em sentido oposto.
Jadvyga viaja acompanhada de amigos, seguem todos na mesma carruagem que a nossa. É agente de viagens como a maioria do nosso grupo. Ao fim de um par de horas, trocam-se as primeiras impressões entre lituanos e portugueses. Falam de Portugal e trocam impressões sobre destinos em Portugal que Jadvyga Korecka já visitou, como o Porto e os Açores. Não demora muito tempo até que lituanos e portugueses estejam a brindar, com vodka ou com favaítos trazidos ainda de Portugal. As conversas prosseguem e aproveito para perguntar a Jadvyga o que pensa do Uzbequistão. Para o nosso grupo este é o terceiro dia no país. Começámos a viagem na capital Tashkent, e seguimos para a cidade de Khiva e agora espera-nos Bukhara. Para Jadvyga, esta é a segunda vez que visita o país. A primeira foi há 10 anos. Diz que o Uzbequistão está muito diferente desde essa primeira viagem. Atribui a diferença à mudança de presidente. Se há dez anos era preciso visto para entrar no país, hoje em dia as regras estão mais relaxadas, pelo menos para os países do Ocidente – onde se inclui Portugal. Jadvyga nota que o país está agora “mais aberto” e quer conquistar turistas europeus. A opinião de Jadvyga veio confirmar a nossa.
Atualmente, o Uzbequistão é um dos países que mais cresce em termos turísticos na Ásia Central e atrai cada vez mais a atenção da comunidade turística – em 2019, o The Telegraph colocou-o na lista dos 10 destinos turísticos mais bonitos e surpreendentes a visitar. Desde 2015, com a mudança de presidente e Governo, o país tem realizado reformas no setor e o número de voos nacionais e internacionais está a crescer. Embora se tenha tornado um país independente apenas em 1991, após a queda da União Soviética, o território do Uzbequistão tem uma história milenar, marcada pela ocupação de vários povos, desde os persas aos árabes, turcos e mongóis. A riqueza da sua cultura permanece viva nos seus monumentos antigos e lendários, que podem ser visitados nas cidades de Samarcanda, Bukhara, Khiva ou Tashkent, sem esquecer que o país desempenhou um papel central na Rota da Seda durante séculos, sendo um dos lugares favoritos de comerciantes e viajantes. A posição central na Ásia fez do Uzbequistão um território cobiçado por invasores de renome mundial como Alexandre, o Grande (século IV a.C.), Genghis Khan (século XIII) ou o grande herói nacional do Uzbequistão, Amir Temur (século XIV).
A capital Tashkent
A viagem de Portugal para o Uzbequistão fez-se com a Turkish Airlines (ver informação ‘Como ir?’) com escala em Istambul. A porta de entrada no país foi a capital Tashkent. À chegada tínhamos à nossa espera Abdumalik Muninov (Malik), diretor geral da empresa Orient Star Group, um recetivo do Uzbequistão que pretende atrair turistas portugueses para o país. Encontrámos uma cidade chuvosa e fria, meteorologicamente falando – já que os uzbeques não são nada frios, pelo contrário. Após uma rápida paragem no hotel para deixar a bagagem, seguimos para as primeiras visitas do dia e também para as primeiras impressões e curiosidades sobre a cidade e o país.
Com mais de 2200 anos, Tashkent é uma cidade com quatro milhões de habitantes, mas, com a Guerra na Ucrânia, a população quase duplicou devido à imigração de jovens russos. A caminho da parte antiga da cidade, passámos por avenidas largas, onde praticamente só circulam carros brancos da Chevrolet. A marca automóvel que pertence ao Governo do Uzbequistão tem a vantagem de ser mais acessível para os bolsos dos uzbeques, que ganham em média 400 euros. Nas ruas avistam-se edifícios modernos e outros do tempo da União Soviética. Na cidade estão a ser construídos arranha-céus que aos poucos vão substituir a arquitetura soviética. Não é só na arquitetura que a cidade quer mostrar-se moderna, mas também na economia, já que pretende atrair negócios de outros países. Para isso, o país criou um pacote de benefícios fiscais para as empresas estrangeiras que queiram abrir filiais no Uzbequistão. No que concerne à religião, Malik, que nos acompanhará durante toda a viagem, esclarece que, no Uzbequistão, que é um país laico, todas as religiões são bem toleradas e convivem bem entre si. 70% dos uzbeques são muçulmanos e a restante população é cristã católica, ortodoxa ou judia, há ainda uma pequena percentagem de budistas. Não existem regras para a forma como os turistas devem vestir-se e nas ruas podem andar livremente sem que seja preciso, por exemplo, as mulheres taparem a cabeça com lenços. Apenas em algumas mesquitas é necessário tapar os ombros e não usar calções curtos.
A primeira paragem é no centro religioso de Tashkent, o complexo Khast Iman, construído entre os séculos XVI e XX, onde encontramos o Mausoléu Kafal Shashi, e as Madrassas Barakhan e Muyi Muborak. As madrassas são antigas escolas islâmicas com dois pisos, geralmente os alunos estudavam no rés do chão e os dormitórios ficavam situados no primeiro andar. Hoje em dia são locais de visita e no interior há comércio de artesanato. Em meados do século XVI, com a edificação do Mausoléu de Kafal Shashi e a Madrassa Barakhan, o complexo ganhou o nome de Khast Iman.
Mais tarde foram edificadas a Madrassa Muyi Muborak e a mesquita de Namazgoh. Na Madrassa Muborak encontra-se a sagrada biblioteca com o Alcorão original escrito pelo ordem do Califa Osman (século VII), conhecido em todo o mundo islâmico. O manuscrito foi trazido para aqui por Amir Temur no século XIV e continua exposto. Numa sala ao lado, é ainda possível ver uma coleção de vários manuscritos do Alcorão em diversas línguas, incluindo português. De referir que esta zona foi devastada pelo terramoto de abril de 1966, mas viria a ser reconstruída.
Outro dos locais de visita obrigatória em Tashkent é o mercado Chorsu, o mais antigo da cidade, que tem duas dezenas de mercados. Destaca-se pela sua arquitetura abobadada mas também pela variedade de produtos que ali se vendem. Antigamente era um local de comércio de ouro e pedras preciosas, agora é um mercado de alimentação: carne, fruta, vegetais, chá, frutos secos e pão. Está aberto todos dias, à exceção de segunda-feira. Pode-se circular livremente, tirar fotos e os vendedores são muito simpáticos, posando inclusive para as fotografias.
Com um dia apenas para conhecer Tashkent, a visita prossegue para outra das atrações da cidade, desta vez uma atração subterrânea, falamos do metro. Foi construído nos anos 70, já depois do terramoto de 1966 que destruiu grande parte da cidade antiga. De várias partes da URSS vieram arquitetos, engenheiros e trabalhadores para criar um novo modelo de cidade soviética, com o metro a constituir-se uma peça central na mobilidade, sendo a arquitetura e a decoração inspiradas no metro de Moscovo. A primeira linha de metro abriu em 1977 com 29 estações. Amplas, extremamente limpas e seguras – é frequente a presença de seguranças – , as estações são visitadas por turistas. Cada uma delas apresenta uma decoração diferente e inspirada na cultura uzbeque ou em alguma figura histórica. Por exemplo, na estação Mustaqillik Maydoni, Ulugbek, neto de Amir Temur, e conhecido astrónomo, é homenageado nos padrões de estrelas no piso de mármore da plataforma. O preço dos bilhetes de metro é de 0,11€.
A visita a Tashkent terminou com uma caminhada no parque no centro de Tashkent até à avenida Amir Temur e à praça com a estátua deste herói nacional. Nascido em 1336, Temur conquistou em 1370 o último território do reinado mongol e fez de Samarcanda a sua capital. Governou durante 35 anos e, nesse período, expandiu o território uzbeque. É descrito como um governante cruel e temido no campo de batalha, mas um homem extremamente culto e inteligente, ávido de conhecimento, e um apaixonado por história, medicina e astronomia.
Khiva, a cidade das Mil e Uma Noites
Partimos de Tashkent para Urgench, mas o destino final é a cidade de Khiva. O voo da Uzbekistan Airways dura uma hora e meia e é o único voo interno que fizemos nesta viagem. Chegados a Urgench, espera-nos um autocarro com destino a Khiva. O trajeto dura apenas trinta minutos. Khiva é uma pequena cidade com 80 mil habitantes na região de Khorezm. No entanto, a nossa visita ficará apenas pela cidade muralhada (Ichan Qala), onde só habitam cinco mil pessoas. O hotel onde iremos pernoitar fica fora das muralhas mas apenas a 10 minutos a pé de uma das quatro entradas: Ota Davorza. A entrada custa 15 euros e dá acesso a todos os locais que visitaremos. Khiva é conhecida por ‘Cidade das Mil e Uma Noites’ ou por ‘Museu ao Ar Livre’ e percebe-se porquê. Há um certo encanto e até uma certa magia assim que se passa a muralha. A sensação deve ser semelhante à de estarmos num cenário cinematográfico preparado para um filme de sultões, khans e emires, tal é a beleza e o estado de conservação da Ichan Qala.
A cidade é composta por várias madrassas, palácios e mesquitas, mas o que salta à vista são as cúpulas e os minaretes azul turquesa. No total, são 120 monumentos arqueológicos e arquitetónicos edificados entre os séculos V a.C. até ao princípio do século XX. A cidade muralhada é património da UNESCO desde 1990. Algumas madrassas, hoje em dia, estão transformadas em museus ou hotéis, como é o caso da madrassa de Muhammed Aminkhan, a maior de Khiva, construída pelo Khan (rei) Muhammed Aminkhan (1851-1853). Está localizada ao lado do Kalta Minor, um minarete que atrai pela sua dimensão (28 metros) e decoração com pequenos azulejos e mosaicos de vários tons de azul.
Khiva desempenhou um papel importante na Rota da Seda. Se é verdade que os governantes e mercadores da cidade gastaram dinheiro a construir mesquitas e madrassas, também construíram palácios para os seus convidados e para eles próprios usufruírem. Os palácios eram divididos em zonas públicas para cerimónias, receber convidados ou fazer negócio, e zonas privadas, onde o Khan e a família residiam e uma parte importante (o harém) era mantida longe dos olhares indiscretos. Sugere-se a visita a Khona Ark, uma palácio fortificado construído no século XVII pelo Khan Aragan. É uma cidade dentro de uma cidade, com as suas próprias muralhas, mesquitas, vários pátios e residência dos governantes. Subindo à torre deste complexo, podemos apreciar uma vista de cortar a respiração sobre Khiva (aconselhável ao fim da tarde). Outro palácio de visita obrigatória, para quem quer perceber como viviam os Khans, é o Palácio Tash Khauli e o seu harém, mandado erigir pelo Khan Jiva Allakulikhan, em 1830. A parte mais antiga do palácio é o harém construído à volta de um pátio. É possível visitar alguns quartos que albergavam as várias mulheres do Khan ou as suas concubinas. Passámos de uma visão mundana de Khiva para outra mais religiosa, com a visita à mesquita Juma, a mais antiga da cidade e também uma das primeiras mesquitas construídas na Ásia Central (século X, embora com construções adicionais nos séculos seguintes ). As 212 colunas de madeira únicas são a grande atração desta mesquita. À primeira vista parecem iguais, mas um olhar mais próximo deixa perceber que são todas diferentes na sua ornamentação. Atualmente, a mesquita funciona como museu.
Outro dos pontos de visita da cidade é o Mausoléu de Pahlavan Mahumd, o santo patrono de Khiva. Andar pela labiríntica cidade muralhada, apreciar como vivem os habitantes ou tentar captar a essência e a beleza desta cidade em fotografias pode ocupar boa parte da visita à cidade muralhada de Khiva, mas o melhor é deixar isso para o final do dia, em que a cidade parece mais calma e com menos gente. Durante o dia, há muitas atrações para visitar, se conseguirmos desviar a nossa atenção do comércio de artesanato. De notar que, no interior da maioria dos monumentos do Uzbequistão, o comércio é autorizado, o que pode causar alguma estranheza, mas é preciso ter em conta que o comércio está enraizado na cultura uzbeque. No entanto, o Governo já tem um plano para retirar o comércio dentro das madrassas e mesquitas. Dentro só ficarão cafetarias com esplanadas para que os visitantes possam desfrutar dos monumentos.
Bukhara, cidade sagrada e nobre do mundo muçulmano
O destino seguinte é Bukhara, uma das cidades mais importantes e turísticas do Uzbequistão. Com quase 3000 anos de história, o centro histórico é património da UNESCO desde 1993. Se Tashkent e Khiva conquistaram-nos devido à monumentalidade das suas mesquitas, madrassas e mausoléus, o que dizer de Bukhara? Os edifícios são ainda mais imponentes, as decorações das fachadas são diferentes do que vimos até aqui e exibem outras imagens (incluindo a de animais), conferindo um estilo próprio e inigualável a Bukhara. Acresce toda a história e herança da cidade ligada à Rota da Seda patente nos vários mercados cobertos por cúpulas. É preciso mais do que um dia para visitar a cidade. O local de maior imponência é o complexo de Kalyan, edificado entre os séculos XII e XVI. Aqui encontramos o minarete Kalyan, o mais alto dessa época no oriente com 46 metros de altura; a Madrasa Ulugbek, de 1417; a Madrassa Abdulazizkhan (século XVII) e também três antigos mercados, recintos abobadados do século XVI, cujas abóbadas unem entre si um grande número de galerias, hoje em dia lojas de souvenirs e atividades artesanais. A beleza e atração de Kalyan é tal, que não conseguimos decidir se é mais bonita de dia, com as cores que exibe, ou quando a noite cai e o minarete surge iluminado. O melhor é visitá-la nos dois períodos e decidir por si.
Bukhara não tem apenas mesquitas, madrassas e mausoléus de eruditos e figuras destacadas do mundo islâmico. A cidade tem palácios, caravenserais (antigas estruturas onde as caravanas paravam e comercializavam mercadorias; serviam também de locais de alojamento e alimentação para os comerciantes), banhos públicos, e muitos mercados cobertos por cúpulas, que podem ser visitados. Há ainda outros locais recomendados na visita a Bukhara. São eles: a fortaleza Ark, a estrutura mais antiga de Bukhara, ocupada desde o século V até 1920 por governantes; o Mausoléu de Ismail Samani, uma obra prima dos séculos IX e X, cuja arquitetura apenas pode ser avistada em mais duas mesquitas no mundo: em Toledo e Marraquexe, tendo sobrevivido à invasão dos mongóis no século XIII; a madrassa Cor Menor (século XIX), um dos edifícios mais impressionantes da cidade com quatro minaretes, construído em 1807 pelo mercador Khalif Niyazkul do Turquemenistão, pelo o seu estilo único e diferente de outras madrassas, recomenda-se a visita; e, por fim, a residência de verão “Sitorai Mohi Hosa”, uma das residências dos Emirs de Bukhara, também conhecida como o “Palácio da lua e das estrelas”, que exibe uma mistura da arquitetura russa, oriental e europeia.
Um dos pontos altos desta viagem foi o contacto com o povo uzbeque e a sua cultura, seja numa banca de artesanato, num jantar animado típico uzbeque ou num pequeno espaço comercial onde parámos para beber um chá verde – hábito frequente dos uzbeques. Antes de partir de Bukhara, almoçámos na Casa de Artesanato da família de Rahmon. O estabelecimento comercial, que vende os tecidos tradicionais do Uzbequistão, bordados à mão, os suzanis, pertence à família de Rahmon há sete gerações. Fica localizada num bairro típico junto à Madrassa de Nodir Devongbegi. Viemos finalmente provar o prato típico do país, o Plov Uzbeque, um arroz de carne de vaca, vegetais e azeite. É servido em todas as celebrações dos uzbeques e confecionado geralmente pelos homens. No interior da casa de artesanato há salas privadas de refeição decoradas com suzanis empilhados em prateleiras ou expostos nas paredes. É um ambiente bonito e acolhedor, sentimo-nos em casa. Enquanto degustámos o plov, ouvimos com atenção Malik, que nos conta como são os casamentos das famílias tradicionais uzbeques. Há tradições que se mantêm e envolvem as famílias do noivo e da noiva, consentimentos, refeições que selam compromissos e bodas que duram três dias.
Tempo de partir para o último destino desta viagem, Samarcanda. A viagem entre Bukhara e Samarkanda faz-se num comboio de alta velocidade e o percurso dura menos de duas horas.
Samarcanda, Joia da coroa do Oriente
Na construção de um itinerário pelo Uzbequistão, Samarcanda deve ser o último destino a visitar, já que o melhor costuma ficar para o fim. Não é por acaso que é apelidada de ‘Jóia da coroa do Oriente’, e outros tantos cognomes, como ‘Pérola da Arquitetura Islâmica’, ‘Roma do Oriente’. Equivalente a cidades antigas como Roma, Atenas ou Babilónia, Samarcanda exibe mais de três mil anos de história, e desde a sua fundação que desempenha um papel importante na vida económica, política e cultural da Ásia Central. Em Samarcanda, encontrámos mais turistas do que nas restantes cidades. Um dia pode ser pouco para visitar com calma as atrações de Samarcanda, e não são poucas. Começámos pela visita ao Mausoléu de Amir Temur (foi também a primeira multidão que encontrámos num local de visita). Durante o seu reinado, Temur fez de Samarcanda a capital de um império que se estendia da Índia ao Mediterrâneo. Este mausoléu foi construído para o seu neto preferido, Muhammad Sultan (1376-1403), que morreu antes de um dia vir a suceder o avô. As cinzas do neto foram aqui enterradas e dois anos depois as suas. Foi outro neto de Temur, Ulugbek, que terminou de construir o mausoléu. No século XIX, quando a Rússia invadiu o Uzbequistão, foram destruídos monumentos e símbolos ligados ao principal herói nacional do país, Amir Temur. No entanto, no século XX, durante a ocupação soviética, foram restaurados por pressão de organizações mundiais, como a UNESCO.
Seguimos para a Praça Registan, um dos locais mais visitados do país. O primeiro impacto é o de estarmos perante uma praça imponente que queremos captar com os nossos telemóveis. Nela residem três madrassas construídas em períodos diferentes. É preciso recuar ao século XV para contar a história desta praça. Era um importante centro de comércio da Rota da Seda. Aqui existiam, além caravanserais, um hammam e um mercado de gorros. A primeira madrassa foi mandada construir por Ulugbek (1417 e 1420) e era uma um centro de conhecimento de astronomia, antes mesmo de construir o seu observatório na cidade. Só dois séculos mais tarde foi construída a segunda madrassa da praça. A madrassa ao centro foi a última a ser construída, funcionava como mesquita principal da cidade, e era também conhecida como Madrassa de Ouro.
Outros monumentos na cidade rivalizam em importância e interesse com a Praça Registan, muitos deles ligados ao reinado de Amir Temur. É o caso da Mesquita Bibi Khanum (séculos XIV-XV) construída em homenagem à sua amada, a rainha Bibi khanum, que já foi conhecida como a maior mesquita da Ásia Central; a Necrópole de Shakhi Zinda, dos séculos XIV-XV, conhecida como a “Cidade dos Túmulos” já que é um complexo de mais de 20 edifícios únicos de diferentes época; e o Observatório Ulugbek, fundado pelo famoso astrónomo Mirzo Ulugbek (século XV) cujo conhecimento nele produzido contribui significativamente para a civilização mundial. Hoje em dia, é possível visitar o museu. Como curiosidade, além de Ulugbek, o Uzbequistão foi berço de outras figuras que se destacaram em várias ciências como a medicina, no caso do médico e filósofo Avicena, que nasceu em Bukhara, e o pai da álgebra Al-Khwarizmi, nascido em Khiva. Não restam dúvidas de que a maior riqueza do Uzbequistão reside na sua cultura, feita de conquistas, batalhas e trocas comerciais. Apesar de desconhecido para a maioria de nós, o Uzbequistão rapidamente se tornou um país familiar. Foi fácil sentirmo-nos em casa, talvez porque encontramos semelhanças com os portugueses na forma de receber dos uzbeques.
* A jornalista viajou a convite da DIT Portugal e da Turkish Airlines
Informações úteis Como ir? A Turkish tem voos diários do Porto e de Lisboa para Istambul (Turquia), destino que, por sua vez, tem ligações a cinco aeroportos do Uzbequistão, incluindo Tashkent e Samarcanda. São cerca de 4h30 entre Lisboa/Porto e Istambul, e mais quatro horas entre Istambul e Tashkent. A bagagem tem um limite de 30 kg por passageiro. De referir também que todas as tarifas incluem refeições a bordo e todos os assentos têm sistema de entretenimento individual e entradas USB para dispositivos móveis. No aeroporto de Istambul, existem dois lounges da companhia, exclusivos para os passageiros que voam em classe Business, para passageiros com tarifas corporate e para os clientes do programa de fidelização Miles&Smiles da Turkish Airlines. Não é possível pagar para aceder aos lounges. No entanto, o aeroporto de Istambul disponibiliza diversos lounges. Alojamento Tashkent - Art Deluxe Hotel, Navruz Hotel Khiva - Minor Boutique, Hotel Khiva Palace, Bek Khiva Bukhara - Kavsar Boutique, Rayyan Boutique Samarcanda - Asia Samarkanda, Registon Saroy Hotel Moeda 1€ = 11.640,6 SOM Preços Um café - Entre 1,5 a 3€, depende do café (expresso curto, cappuccino) Cervejas - Entre 2 e 4€, nos restaurantes Um copo de vinho - entre 2 e 4€, nos restaurantes Uma garrafa de vinho - 10 a 15€, nos restaurantes Chá e água são gratuitos nos restaurantes. Além de terem um grande produção, os uzbeques também bebem muito chá, inclusive nas refeições. Deslocação e transportes - Os táxis no Uzbequistão são muito baratos. Há dois tipos de táxi: O Yandex Taxi que tem um funcionamento semelhante à Uber, é preciso descarregar a app e o preço é definido; ou os táxis tradicionais, que se chamam na rua, neste caso os preços são negociados, desde 1 a 4 euros. 5 coisas para fazer no Uzbequistão e sentir-se como um uzbeque 1- Tomar chá verde, é um hábito comum entre os uzbeques, 2- Comer o plov uzbeco, prato típico do Uzbequistão de arroz com carne de vaca, vegetais e azeite, 3- Ficar instalado num hotel boutique, porque os hotéis boutiques têm o estilo das casas uzbeques e os viajantes vão sentir-se como em casa, 4- Visitar a praça Registan, em Samarcanda, 5- Comprar uma peça de roupa de seda, bordada à mão, ou comprar um gorro típico uzbeque. Limpeza dos locais A limpeza no país é um fator cultural, ligada à história da religião islâmica - no Islão dizia-se antigamente "onde não há limpeza nesta casa ou neste bairro, não há boa sorte". A população mantém esse hábito, apesar de ser um país laico. “Quando entramos num restaurante, se há lixo, os uzbeques nunca comem, vão embora”, afirma Malik. Nas escolas, é ensinado às crianças este costume. Na rua, se não há caixotes de lixo, põem-no no bolso e deitam no lixo em casa. Quando as famílias tradicionais do Uzbequistão procuram uma noiva para os seus filhos, vão à casa da rapariga e antes de pedir a mão verificam se a sua casa está limpa. A limpeza é muito importante na cultura uzbeque. O governo gasta muito dinheiro na limpeza das ruas.
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Pela sua vertente essencialmente cultural, é esta a viagem que gostaria de fazer num futuro próximo. O testemunho aqui registado é ilucidativo para mim e, julgo, para a maioria das pessoas. É uma agradável surpresa.