A Air France anunciou um novo sistema de catering “buy-on-board” (compra a bordo), que, a partir de 2025, será implementado nas suas rotas domésticas/europeias. A ligação Lisboa-Paris foi uma das duas rotas escolhidas para servir de teste.
“Esta nova abordagem do produto visa apenas aumentar a receita da companhia e o único objetivo destes testes é garantir que as tripulações estejam totalmente capacitadas para operar este novo formato que já existe na Transavia, outra companhia do grupo”, comenta Pedro Castro, diretor da SkyExpert, empresa de consultoria em aviação, aeroportos e turismo, sobre a novidade da companhia pertencente ao grupo Air France-KLM.
O conceito de catering “buy-on-board” foi uma novidade introduzida pela SAS há mais de 20 anos, sublinha o consultor, acrescentando que, “curiosamente, não foi isso que evitou os prejuízos e a falência técnica da SAS até porque essa medida terá contribuído para o afastamento dos passageiros mais fiéis”.
“Algumas companhias americanas e a Lufthansa, que adotou este conceito em 2021 ao mesmo tempo que a TAP, acabaram por reintroduzir o catering gratuito em certas rotas após perceberem que muitos passageiros migraram para outras companhias. No caso da rota Lisboa-Paris, o grupo Air France já tem uma companhia que opera nesses termos, a Transavia. A Air France corre o risco de dar mais razões para os passageiros optarem por concorrentes como a easyJet (que também voa para o aeroporto Charles de Gaulle) ou como a TAP, Vueling e Transavia, que operam voos para o aeroporto de Orly. A TAP, em particular, oferece vários benefícios adicionais devido ao estatuto de ponte aérea atribuído à rota Lisboa-Paris, o que pode torná-la ainda mais atrativa para os passageiros que voem entre as duas cidades”, lê-se no comunicado da SkyExpert.
Para Pedro Castro, “os preços das tarifas da Air France não serão impactados, porque o único verdadeiro objetivo é gerar novas fontes de receita sem comprometer demasiado a
competitividade. Num setor com uma escala tão grande mas com margens tão apertadas, cada café ou snack vendido a bordo pode fazer a diferença entre lucro e prejuízo”, frisa. “Se a TAP não tivesse este conceito em 70% dos voos que opera, provavelmente não teria tido lucros no primeiro semestre”.
O diretor da SkyExpert defende também que os reguladores, as associações de consumidores e tribunais devem desempenhar um papel de monitorização destas mudanças no setor “para evitar abusos e violação daquilo que logicamente é indissociável à viagem de avião”, indica a mesma nota de imprensa.
O consultor conclui que “as tarifas aéreas são facilmente comparáveis, mas todos os extras cobrados à parte não. O preço da mala, do lugar, do café ou do snack a bordo são elementos demasiado camuflados e é quase impossível para um consumidor normal compará-los. O que é certo é que uma vez comprada a passagem, o passageiro não tem mais escolha relativamente a todos esses extras e, por vezes, são surpreendidos pelo seu custo”.