A pergunta do título surge num artigo no jornal The Independent, duas semanas depois de França ter anunciado que vai proibir os voos domésticos em rotas que podem ser percorridas por comboio em menos de duas horas e meia.
Agora, um grupo que promove viagens ferroviárias e, em particular, operadores ferroviários, está a pedir a extensão do conceito. Trata-se da Allrail – Alliance of Rail New Entrants, uma associação europeia sem fins lucrativos de empresas ferroviárias independentes de passageiros e operadoras ferroviárias. A Allrail defende que, os voos em rotas europeias onde os comboios podem cobrir o mesmo percurso em quatro horas ou menos, devem ser interrompidos.
“Não consigo ver nenhuma perspetiva dos legisladores a adotarem esta política – por causa das consequências não intencionais”, refere o autor do artigo, que em seguida dá dois exemplos: as ligações entre Frankfurt e Berlim; e entre Edimburgo e Londres.
Em ambos os casos, a viagem de avião tem uma duração limite igual ou inferior a quatro horas. “Obrigar ao cancelamento dessas ligações seria cansativo para o viajante – e, em última análise, contraproducente”, defende. “Um passageiro que planeia viajar de Edimburgo via Heathrow para Joanesburgo ou de Miami via Frankfurt para Berlim deseja aproveitar as possibilidades do hub-and-spoke(aeroportos centrais alimentados por secundários) que oferecem as companhias de bandeira, como a British Airways e a Lufthansa”.
O que o autor pretende explicar com estes dois exemplos é que, para voos de conexão, a hipótese de fazer o percurso de comboio é pouco atraente: “A LNER (operadora ferroviária britânica) oferece uma conexão excelente, rápida e frequente entre o centro de Edimburgo e King’s Cross, nos limites do centro de Londres. Quando chegar à estação, o viajante com destino à África do Sul deve, de acordo com a Allrail, carregar as malas até à Linha Piccadilly e apanhar o metro para chegar a Heathrow? Por outro lado, o viajante com destino a Berlim, vindo da Flórida, aterra em Frankfurt às 8h e, simplesmente, quer passar pelo controlo de passaportes e seguir para a porta de embarque onde tem um voo às 9h45 com destino à capital alemã”.
Em ambas as rotas domésticas descritas aqui, haverá uma mistura de passageiros em trânsito e de ponto-a-ponto. Uma forma de transferir parte do último grupo do avião para o comboio é baixar o preço do comboio e taxar o bilhete de avião, refere o artigo.
Mark Smith, o guru ferroviário internacional que criou o site Seat61.com, concorda: “Pessoalmente, eu nunca faria um voo para uma viagem que poderia fazer em quatro horas de comboio de ponto-a-ponto, e um número crescente de pessoas sente o mesmo , por motivos relacionados às mudanças climáticas e porque é uma experiência mais agradável e, francamente, tão rápida quanto a deslocação para o aeroporto, o check-in demorado, voo e novamente a deslocação do aeroporto para a cidade. ”
Então qual é a receita? “Fazer as companhias aéreas pagarem imposto sobre o combustível e remover o IVA nas passagens de comboio onde ele é cobrado”.