O novo presidente da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP), Fernando Garrido, afirmou esta terça-feira, dia 3 de maio, que a apesar da retoma estar a acontecer, o setor enfrenta grandes desafios.
Para o novo responsável, que falava no discurso de tomada de posse dos novos órgãos sociais da ADHP, o país não pode “almejar superar os números de 2019 e, depois, as estruturas de suporte ao turismo não estarem preparadas para acompanhar este crescimento”. Fernando Garrido referia-se à construção de um novo aeroporto para Lisboa e às longas filas do SEF nos postos de controlo de estrangeiros. “Perderam-se dois anos de pandemia, e, além disso, recuámos na solução [do novo aeroporto]. Não está em causa se era boa ou má, mas uma não decisão é sempre uma má decisão”.
Fernando Garrido apontou o dedo à tutela: “Os sinais, a montante, revelam que a partir do segundo trimestre o turismo está em plena atividade, as companhias aéreas estão a cerca de 15% acima da sua capacidade normal para este período. Abril foi um dos melhores meses dos últimos anos do seotr, na maioria dos casos, superando mesmo o ano de 2019. No entanto, este crescimento não está a ser acompanhado devidamente pela tutela”.
Já no caso do do funcionamento do SEF nos aeroportos, Garrido lamenta o o primeiro impacto dos turistas no país seja “dado com elevados tempos de espera, por falta de operacionais do SEF para controlo da identidade à chegada dos turistas”.
“Não há memória de uma escassez de recursos humanos como esta”
A ausência de recursos humanos é outro dos desafios levantados pelo novo presidente da ADHP, que chega mesmo a considerar este o “nosso maior problema”. “Este é um setor que é feito de pessoas para pessoas. Se não houver recursos para prestar serviços de qualidade de nada vale publicitar o destino”, defende.
Fernando Garrido afirma que “não há memória” de um momento como este, em que “a escassez de recursos põe em causa a operacionalização das unidades”.
“Se antes da pandemia, os diretores de hotel falavam da importância de reter talentos, produzidos nas nossas universidades e escolas profissionais, neste momento, dada a escassez, falamos simplesmente em ter recursos”, constata.
O presidente da ADHP afirma que este problema tem de ser visto do ponto de vista de cinco dimensões. A primeira é que a remuneração “é desajustada e assente na premissa de reconhecimento financeiro dos clientes pelo serviço prestado”. Para ajudar a mitigar este problema, a ADHP está desenvolver um estudo entre os profissionais do setor, com vista a “obter indicadores que serviram de guideline ao setor para se criar novos modelos de remuneração assente em premissas atuais”, refere o responsável.
Outra das dimensões é o ajuste da vida pessoal com a profissional. Fernando Garrido reconhece que os interesses profissionais mudaram e que os profissionais deixaram de ver as remunerações como o principal fator motivacional. “A possibilidade de terem uma maior disponibilidade para a sua vida social é um fator motivacional grande e essa disponibilidade passa, por exemplo, por ter uma carga horária diferente, de forma a terem mais dias de descanso”, constata. O responsável defende que, uma associação com a ADHP, “pode ter um papel verdadeiramente importante na negociação de contratos coletivos de trabalho com os sindicatos, por se tratar de uma associação não patronal”.
Quanto à terceira dimensão, passa, no entender de Fernando Garrido, pela “necessidade de tornar as profissões do setor turístico e hoteleiro novamente atraentes”. Para esse efeito, defende que “as instituições públicas do setor têm de assumir um papel mais ativo. Neste momento há necessidade urgente de publicitar, além do destino, as profissões do setor”.
Fernando Garrido refere, ainda, a “continuação na aposta na formação através de escolas profissionais e superiores que tem vindo a ser feita, mas com espaço de progressão”, como a quarta e última dimensão do problema.
Como quinta e última dimensão, o presidente da ADHP defende o reconhecimento das profissões, dando o exemplo de uma proposta defendida pela associação há vários anos: “A valorização dos recursos humanos qualificados na majoração aquando da reclassificação das unidades unidades, conforme foi proposto pela ADHP há vários anos, bem como a valorização dos próprios profissionais com o reconhecimento das carreiras”.
O novo presidente da ADHP também não esqueceu um tema proposto pela anterior direção: a criação da Ordem dos Diretores de Hotéis. “A função de diretor de hotel é altamente especializada e ampla em termos de responsabilidade e competências. Não é possível continuar a menosprezar esta profissão que é a garantia da qualidade das unidades hoteleiras e, consequentemente, do turismo. O caminho para a Ordem dos Diretores de hotéis é um percurso natural no sentido deste reconhecimento”, afirma.
Relativamente a este mandato, os pilares continuarão assentes nas mesmas premissas, garante Fernando Garrido. “É um trabalho de continuidade e que foi iniciado pelo Raul [Ribeiro Ferreira]. “Vamos continuar a proximidade ao ensino, contribuindo de forma ativa na definição das competências dos profissionais futuros através da formação ministrada pelos diferentes instituições de ensino. Nesse sentido, iremos criar um conselho pedagógico dentro da associação que irá reunir as entidades públicas e privadas que ministram cursos no Ensino Superior relacionado com o setor”, adiantou o responsável.
A nova direção quer continuar a ser “uma referência na formação dos profissionais com o curso de Especialização e Direção Hoteleira, adicionando módulos complementares a esta formação”.
Por outro lado, está previsto o alargamento “das parcerias com entidades externas para criação, certificação e formações tailor-made”.
Quanto aos eventos, Ferando Garrido destacou a celebração dos 50 anos da associação no próximo ano e a continuidade dos congressos nacionais, assim como dos Prémios Xénios.