Para assinalar o 4º aniversário do TNEWS, lançamos uma rubrica especial que reúne vozes do setor do turismo. Convidamos personalidades a refletirem sobre o futuro do turismo em Portugal, respondendo à seguinte questão: “Se tivesse poder sobre o país por uma hora, qual seria a decisão que tomaria para o setor do turismo?”
Por Bruno Lima, diretor operacional da Turim Hotels
Como diretor de hotel e diretor da Academia Turim, sempre acreditei que o turismo é, antes de mais, feito de pessoas. E digo-o com conhecimento de causa: cresci a ver o impacto que a hospitalidade pode ter na vida de alguém — tanto de quem chega, como de quem recebe. Ao longo do meu percurso profissional, aprendi que a diferença entre um destino comum e um destino memorável está na forma como as pessoas se relacionam com o lugar e com os outros.
Por isso, se pudesse decidir o futuro do país durante uma hora, criaria um Plano Nacional de Educação para o Turismo, com um propósito claro: preparar Portugal para ser não só um destino de excelência, mas uma sociedade onde o turismo é compreendido, valorizado e vivido com consciência.
Este plano não parte do zero. Há iniciativas valiosas já em curso — mas falta-lhes escala, coordenação e continuidade. O que proponho é um reforço estratégico, ancorado em três pilares fundamentais:
1. Educação nas escolas
Introduziria no currículo escolar, desde cedo, conteúdos sobre o turismo, não apenas enquanto setor económico, mas como fenómeno cultural e social. Ensinaríamos às crianças o orgulho pelo nosso património, pela nossa história, pelas nossas tradições. Ensinaríamos o que é a portugalidade: o saber receber, a autenticidade, a alma de um povo que tem no acolhimento uma das suas maiores virtudes. A educação para o turismo é, também, educação para a identidade.
2. Capacitação das comunidades locais
Portugal já tem bons exemplos de envolvimento comunitário, mas precisamos de ir mais longe. Apostaria na expansão de programas que aproximem as populações locais da realidade turística, com ações contínuas de sensibilização e capacitação. Um destino sustentável começa pela sua própria gente e, para isso, é essencial que as comunidades sintam que fazem parte da equação, e não apenas do cenário. Só assim manteremos viva a autenticidade que nos torna únicos.
3. Formação contínua para os profissionais do setor
Temos estruturas formativas sólidas, mas é tempo de dar o salto. Reforçaria os programas existentes com foco em competências do futuro: inovação, sustentabilidade, hospitalidade emocional e liderança. O objetivo não é apenas formar para as necessidades atuais, mas preparar o setor para o que ainda está por vir, sempre com o compromisso de sermos reconhecidos, dentro e fora de portas, como um destino de turismo de excelência, capaz de conjugar modernidade com a nossa essência portuguesa.
O turismo é cultura, é identidade, é território, mas é também economia. É uma alavanca financeira essencial para o desenvolvimento do país, para a coesão social e para o combate às assimetrias regionais.
Para o consolidar a médio e longo prazo, é preciso visão com sabedoria, é preciso força para executar e é preciso beleza para inspirar e diferenciar.
Esta decisão, tomada em apenas uma hora, teria efeitos que durariam gerações. Porque, no fundo, acredito que o futuro do turismo português depende menos de campanhas de marketing e mais de uma visão estruturada, partilhada e enraizada nas pessoas e na portugalidade, que fazem desta Indústria da Paz algo verdadeiramente único.
Nota de editor
Também queremos ouvir a sua voz! Envie sugestões e ideias sobre o futuro do turismo em Portugal para cmonteiro@tnews.pt e faça parte deste debate crucial para a transformação da nossa indústria.