Afinal o que é o “Slow Tourism”, de onde veio e como poderão os agentes turísticos adaptar-se?
O “Slow Tourism” conquistou a sua popularidade nos últimos anos. O recente contexto pandémico da COVID-19 acelerou a sua importância, tornando-o praticamente numa nova forma de experienciar o Turismo. A estimativa de crescimento corresponde a uma taxa de anual que ronda os 10%. Prevê-se, portanto, a continuidade crescente da popularidade do fenómeno “Slow Tourism”, revelando-se uma alternativa robusta às férias apelidadas de “mais tradicionais”.
Importa, assim, aprofundar o conceito. Afinal o que é o “Slow Tourism”, de onde veio e como poderão os agentes turísticos adaptar-se?
O que é o “Slow Tourism”?
O “Slow Tourism” é descrito como uma abordagem às viagens que procura enfatizar a ligação às pessoas, culturas, gastronomia e música locais. Baseia-se na ideia de que uma viagem se destina a educar e a ter um impacto emocional, permanecendo simultaneamente sustentável para as comunidades locais e para o ambiente.
Como surgiu o “Slow Tourism“?
Este movimento tem vindo a evoluir gradualmente e está relacionado com a tendência igualmente crescente do “Slow Food”. Este fenómeno teve origem nos anos 80 como resposta à abertura de um McDonald’s no centro de Roma. Carlo Petrini juntamente com um grupo de ativistas, iniciaram o movimento “Slow Food” com o objetivo inicial de defender as tradições regionais, o prazer gastronómico e um estilo de vida mais desacelerado. No mesmo sentido, o recente aumento da popularidade do “Slow Tourism” poderá estar relacionado com o crescente foco na sustentabilidade e no bem-estar individual.
Como se pode viajar de forma “mais lenta”?
O “Slow Tourism” envolve uma transição do luxo materialista e consumista para experiências com objetivos propositados e para a criação de momentos com significado. O turista já não procura uma agenda repleta de excursões a locais turísticos clássicos. Pretende, em contrapartida, viajar ao seu próprio ritmo enquanto experiencia e se conecta com a cultura local. Quando se fala em “Slow Tourism” verifica-se recorrentemente o uso da expressão “baseado na experiência”. Viagens baseadas na experiência podem ser realizadas de diversas formas, tais como conectar-se com pessoas, criar uma comunidade, vivenciar a cultura local e efetuar decisões conscientes. O “Slow Tourism” e a associação a estas decisões mais conscientes traduzem-se num impacto ambiental positivo, permitindo uma redução da própria pegada global.
Como pode a indústria do Turismo adaptar-se a este movimento?
Existem abordagens simples que, tanto os hotéis urbanos como os rurais, podem procurar adaptar de forma a melhorar a experiência dos seus hóspedes.
- Food & Beverage: Uma forma já comummente praticada é através de pontos de venda F&B, nos quais a cultura local pode ser facilmente incorporada, servindo pratos regionais com produtos locais e sazonais. Uma tendência significativa, à qual muitas empresas já se adaptaram, e que poderá interpretar-se quase como um “regresso às raízes”. Quanto mais se aprende sobre alimentação, nutrição e o planeta, mais se compreende que os recursos naturais são uma mais-valia. Levar os alimentos de volta às suas raízes, prestar homenagem às ervas aromáticas, vegetais e práticas culinárias locais são exemplos de atividades cativantes relacionadas com o processo de “Slow Tourism”. Ensinar estas práticas culinárias aos hóspedes poderá, no mesmo sentido, ser uma forma de os convidar a participar mais profunda e ativamente na cultura local.
- Wellness & Wellbeing: A realidade quotidiana cada vez mais direcionada para a área tecnológica, traduz-se num aumento da procura de terapias e práticas termais que utilizem alimentos tradicionais, medicamentos à base de plantas, óleos e rituais antigos.
- Experiências e Atividades: As viagens transformadoras inspiram os viajantes a desconectarem-se das suas tarefas diárias, convidando à aprendizagem de novas competências e à aquisição de motivações futuras. As experiências permitem a envolvência e interação dos viajantes com a comunidade local de forma a expandir o seu conhecimento e compreensão cultural.
- Off-Grid: O movimento do “Slow Tourism” em consonância com a tendência das viagens Off-Grid é atualmente possível graças aos avanços tecnológicos. Poderá considerar-se, por exemplo, a energia solar que permite o fornecimento de eletricidade em locais tradicionalmente isolados (alojamento em área de montanha, barcos, entre outros). Tanto os hotéis urbanos como os rurais podem adaptar-se aos viajantes que tentam fugir à agitação da sua vida diária, oferecendo experiências de desintoxicação digital que se estão a tornar cada vez mais populares.
- Transporte: Sendo a sustentabilidade uma prioridade para os “Slow travellers”, os hotéis devem procurar disponibilizar meios de transporte para os seus hóspedes. O aluguer de bicicletas, os passeios a pé ou até as excursões de comboio poderão revelar-se opções atrativas para os viajantes.
Assumo, deste modo, que o “Slow Tourism” continuará a representar uma tendência crescente a nível mundial e local. A indústria do Turismo dedicar-se-á com maior afinco à valorização da história local, da cultura e dos produtos típicos dos destinos turísticos. Esta fenómeno, esta forma de viajar e de “existência” individual, valorizará ainda mais a estadia prolongada que garanta a possibilidade de estender o tempo disponível para ir além do simples “must see”, fazendo ativamente escolhas conscientes no seu percurso.
Termino, assim, revendo-me nas palavras do Papa Francisco relativas à temática do “Slow Tourism”: “Trata-se de um turismo que não é inspirado nos padrões do consumismo ou que deseja somente acumular experiências, mas que é capaz de favorecer o encontro entre as pessoas e o território, e fazer crescer no conhecimento e respeito recíproco”.
Por Miguel Carvalhido Ferreira
Doutorando em Turismo e assistente convidado na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar.