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TAP (zinha) ou a (escusada) dependência?

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A TAP sempre contribuiu para a economia nacional, mas as greves brutais em tempos de contínua sobrevivência, num país onde o salário mínimo é abaixo dos mínimos, sempre foi sinal de um jogo impercetível.

Refira-se que sempre contribuiu para os desígnios do país, contudo, nunca gerou poupanças, antes pelo contrário. Deu muito a ganhar, apesar de constantemente atacada, impulsionou o turismo recetivo, mas o passivo acumulou-se ano após ano.

Não olvidemos que pagava acima da média, que é a verdadeira universidade da aviação (não “explorada”), que transportou milhões de turistas para Portugal, contribuiu indiretamente para encher hotéis e restaurantes e, por ter sempre privilegiado os agentes de viagens, embora a tendência para a venda direta seja uma ameaça à intermediação. Já as companhias Low Cost têm custos de distribuição muito reduzidos, explorando de forma muito agressiva a venda de serviços (ancillary services) incluindo os seus lugares através dos seus sites e das aplicações móveis.

Uma companhia aérea privada regular a operar em Portugal, em concorrência com a TAP, jamais sobreviveria: atente-se o caso da Portugália Airlines. E por que razão? A TAP, apesar de deficitária, sempre conseguiu ser “competitiva”, e “secar” tudo o que estava à sua volta.
Em 2007, como se não bastasse, e sem músculo financeiro, consegue comprar a PGA, também esta, na altura, em grandes dificuldades. Como é possível?

Entretanto assolados globalmente pela pandemia, a TAP tem de reestruturar violentamente e a TAP Express (PGA) acaba por aparecer como mais competitiva, e por isso, mais reativa e com maior capacidade de sobrevivência.

Afinal de contas percebe-se por que razão compraram a PGA: anteciparam a COVID 19, e descobriram que uma companhia aérea privada não pode ser despesista, e por definição, mais competitiva que uma empresa estatal. Tudo errado!!! Só assim foram capazes de perceber o buraco em que estavam metidos, mesmo depois dos gravíssimos erros, como por exemplo, a negociada reconversão.

Também não é possível que cada autarca queira um avião para desenvolver a sua região embora tenham toda a razão. Não é, porque a TAP é uma companhia de hub: por definição a operação serve para convergir tráfego para depois dissipar pelos seus spokes.

Por ser uma companhia estatal, a TAP deve ser equitativa na sua operação, e por isso, necessita de reavaliar o seu modelo de negócio. Deve ser integrada num plano nacional para o transporte aéreo e cada um dos seus gateways continentais devidamente analisados evitando a entrada de outros concorrentes.

É difícil ouvir a expressão “Tapezinha” em especial por pessoas responsáveis, e que deveriam compreender que a transportadora nacional não podia ter crescido nos moldes verificados, e face aos atuais acontecimentos, antes de desaparecer ou ser vendida, terá de reduzir a sua operação.

Concordarão que a TAP sempre alavancou a economia, mas a própria nunca beneficiou, bem pelo contrário, acumulou passivo.

Tapezinha ou um sistemático aproveitamento?

Por Rui Castro e Quadros

Foi membro do Conselho de Administração (Grupo SATA), diretor geral para Itália (PGA) e Supervisor de Vendas (Ibéria). É atualmente professor coordenador da Licenciatura em Gestão Aeronáutica do ISEC Lisboa e professor adjunto convidado na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril.

2 COMENTÁRIOS

  1. Excelente artigo de alguém que conhece por dentro a aviação e com experiência vasta na indústria.
    Infelizmente a TAP tem sido governamentalizada e gerida com pressupostos políticos pouco abonatórios da sua credibilização e estabilidade financeira. Sem rumo nem consistência nas rotas.
    Tem andado décadas aos solavancos e laterizações ao sabor dos interesses politico-partidários.
    Com gestores verdadeiramente independentes do poder político e acima de tudo com uma cultura de visão estratégica alavancada em continuadas avaliações e benchmarking podia estar numa situação favorável.
    Sem paz social nem dimensão ao nível do País e essencialmente sem projectar o futuro , dificilmente teremos a curto prazo perspectivas de resultados sólidos.

    • Boa perspetiva sob a Tapezinha que voa baixinho.
      A TAP à semelhança de outras empresas é o reflexo do sistema democrático que vivemos, nada mais do que mesa onde estão sentados políticos de todos os quadrantes, sindicatos, consultores, agentes turísticos… e que ao longo dos anos têm vindo a saborear o prato.
      Na gestão existem dois modelos de propriedade e de gestão, público e privado, o resto são variações que por ai abundam para agitar águas e ficar tudo na mesma. É uma bizarria em 2021 discutir o que se quer da empresa que todos de uma forma carinhosa sentados à mesa a saborear o prato apelidam de “companhia de bandeira”!
      Decidam claramente que modelo pretendem e sejam bons naquilo que escolherem, sabendo de antemão que a cultura da empresa é uma pesada condicionante à mudança. O mundo é global, o mercado e a concorrência são globais e não perdoam os aventureirismos que a companhia tem alimentado.
      No setor dos transportes seria interessante abrir outras caixas de Pandora :a CP e o metro de Lisboa,tudo em nome e fazendo jus a um livro bem conhecido “na quinta há porcos que são mais porcos do que outros porcos”!

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