Em entrevista ao TNews, José Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, fala das expectativas para os próximos meses, que passam por um crescimento superior dos mercados internacionais. A região definiu uma meta clara de elevar a participação do turismo internacional para 40% até 2030. Além disso, o presidente quer desenvolver um plano que identifique de uma vez por todas qual a vocação do Aeroporto de Beja. O documento deverá estar pronto até ao final do ano.
Quais são as suas expectativas para o turismo no Alentejo e Ribatejo nos próximos meses?
Creio que temos a expectativa de que os mercados internacionais apresentem um ritmo de crescimento superior ao mercado nacional. Aliás, precisamos que o Turismo do Alentejo se internacionalize cada vez mais, pois ainda dependemos muito do mercado nacional. Portanto, apesar de termos algum espaço para crescer no mercado interno, esse crescimento não é tão expressivo, especialmente considerando que o mercado internacional está a crescer mais rapidamente. Entre 2013 e 2023, os mercados norte-americano e canadiano tiveram uma taxa de crescimento média de 20% no Alentejo. Precisamos apostar cada vez mais no mercado internacional. Embora seja difícil igualar a representatividade do Algarve ou de Lisboa, o mercado internacional deve ser o foco principal para o crescimento futuro.
O turismo interno continuará a ter um papel importante. Temos uma meta para 2030: que o turismo internacional no Alentejo represente 40%, em comparação com os atuais 32%. Antes da pandemia, esse valor era de 34%.
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Ainda não recuperou completamente?
Sim, recuperou em termos absolutos, mas como o turismo interno também cresceu, a representatividade internacional é ainda inferior ao que era antes da pandemia. No entanto, em 2023, a NUT do Alentejo Central, que não havia recuperado em 2022, agora já recuperou. Tanto o Alentejo Central quanto o Alentejo Litoral tiveram mais de um milhão de dormidas em 2023, o que é muito significativo. Portanto, a nossa expectativa é que o turismo internacional continue a crescer. Atualmente, os mercados canadiano e americano têm uma quota de 5% do total da procura externa, enquanto o mercado europeu representa 70%. Estamos um pouco preocupados com o mercado espanhol, que apresentou uma redução de quase 10% nas dormidas, embora não tenha havido uma diminuição no número de hóspedes. Vamos iniciar uma campanha para o mercado transfronteiriço, que é a primeira candidatura aprovada pelos fundos europeus, para tentar atrair mais turistas espanhóis para a região. No mercado nacional, há uma desaceleração visível no crescimento, conforme mostram as estatísticas. Vamos acelerar a promoção nos próximos 16 meses. Tendo feito um grande esforço de promoção no primeiro ano do nosso mandato, vamos intensificar ainda mais, especialmente com o aumento do orçamento para 2025. Admito que possa haver uma redução no crescimento, pois não podemos continuar a crescer sempre a dois dígitos. No ano passado, tivemos um crescimento de 11% nas dormidas, 9,5% no mercado nacional e 14% no mercado internacional. O grande desafio será manter um crescimento sustentado no mercado interno, enquanto o mercado internacional pode ter um crescimento mais fácil.
“Temos uma meta para 2030: que o turismo internacional no Alentejo represente 40%, em comparação com os atuais 32%”
A promoção será uma grande aposta para o próximo ano. Quais são duas ou três bandeiras dessa promoção?
Como sabe, a competência de promoção no mercado espanhol é das ERTs. No Alentejo, essa competência está delegada à Agência Regional de Promoção Turística (ARPT), mas decidimos, em articulação com a ARPT, fazer uma promoção específica no mercado transfronteiriço, basicamente na Andaluzia e Estremadura. Essa é uma grande novidade. A partir do outono, iniciaremos uma campanha de promoção para o mercado interno, similar à campanha “Agora é que é um Descanso” do ano passado, mas com um orçamento maior. Também seremos o destino convidado da Bolsa de Turismo de Lisboa na edição de março do próximo ano, o que nos proporcionará grande visibilidade e promoção. Teremos uma campanha de verão com um orçamento mais substancial e lançaremos a refundação do nosso programa de embaixadores.
Ainda este ano, teremos o primeiro Festival de Caminhadas do Alentejo, o Walking Festival, em outubro; o Festival do Turismo Literário, em dezembro; e a segunda edição do nosso Alentejo Ribatejo Food Love Fest, em fevereiro do próximo ano. Portanto, teremos um período muito intenso de atividades.
Aeroporto de Beja
“Hoje, de uma forma mais realista, podemos pensar no aeroporto de Beja. Acredito que até ao final do ano teremos um documento para apresentar ao ministro das Infraestruturas e ao ministro da Economia.
Sobre o Aeroporto de Beja, qual é sua visão atual sobre o papel que pode desempenhar para o turismo regional? Quais são os próximos passos para melhorar a acessibilidade e a conectividade da região?
Isso é o que queremos saber. É claro que o aeroporto de Beja nunca poderia ser a solução para o reforço da Portela, por várias razões, como a falta de acessibilidade. Quando a Comissão Técnica Independente concluiu os seus trabalhos, respirei de alívio e pensei: Ótimo. Agora podemos pensar com calma sobre o futuro do aeroporto de Beja. A própria comissão sugeriu que o aeroporto pudesse assumir a responsabilidade pelos voos charter quando a Portela não conseguisse atendê-los.
O aeroporto de Beja tem uma excelente localização. Em 2011, quando foi inaugurado, foi realizado um estudo de aproveitamento do aeroporto. Naquela época, o Alentejo tinha menos camas turísticas do que a freguesia de Fátima, com menos de 10 mil camas. Hoje, temos 30 mil camas e uma oferta muito mais consistente. Há projetos em desenvolvimento no litoral alentejano e no Alqueva. O turismo no Alentejo está muito mais maduro do que há 12 ou 13 anos.
A ANA tem feito investimentos no aeroporto. Há a ideia de que não há investimentos, mas há, provavelmente são necessários mais. A pista está certificada e o aeroporto é bem reconhecido no segmento de aviação executiva, mas precisamos de mais do que isso. O que é que fizemos? Passei a representar o Turismo do Alentejo no Conselho Consultivo do aeroporto, onde está a ANA, a Câmara Municipal de Beja e a Comunidade Intermunicipal, e propusemos fazer um pequeno estudo, não um plano estratégico, para identificar a vocação do aeroporto. Vamos contratar uma consultora para realizar focus group com agentes turísticos e outras partes interessadas. A ideia é sistematizar a informação dispersa e encontrar uma vocação e função comercial para o aeroporto. Se me perguntar se eu acredito que isso é possível? Acredito que isso é possível, pelos dados que temos. Só que isso nunca foi feito. Hoje, de uma forma mais realista, podemos pensar no aeroporto de Beja. Acredito que até ao final do ano teremos um documento para apresentar ao ministro das Infraestruturas e ao ministro da Economia.
Tem alguma ideia de qual deve ser o aproveitamento do aeroporto?
Não tenho. A minha formação é técnica e respeito muito o trabalho técnico. O que fiz foi identificar a prioridade, definir o caminho, mobilizar os meios financeiros e contratar uma equipa. Aliás, esta equipa está a ajudar-nos em mais dois trabalhos. Estamos a estudar a questão dos constrangimentos, desafios e soluções para o eixo Tróia-Comporta-Melides e também o Alqueva. Acredito que há uma ligação estratégica entre o desenvolvimento destes pólos turísticos e o aproveitamento do aeroporto de Beja.
Qual é a principal novidade na estruturação dos produtos turísticos no Alentejo?
Diria que a principal novidade é a estratégia recentemente aprovada para a valorização e promoção do Enoturismo. O Enoturismo é atualmente um grande passaporte para atrair turistas para o Alentejo e o Ribatejo, especialmente turistas internacionais. Procuramos candidatar-nos a um programa europeu e, das 15 candidaturas apresentadas à CCDR Alentejo, a nossa foi a que obteve a melhor pontuação. Isso permitirá, nos próximos três anos, trabalhar a valorização do produto. São mais de 21 milhões de euros em investimento, entre público e privado, e já temos um investimento inicial aprovado de 1,2 milhões de euros. Apresentámos a candidatura até ao final de julho para financiar um conjunto de projetos. O objetivo é integrar melhor todos os pólos de atração do Enoturismo.
Atualmente, ao chegarmos ao Alentejo, nem sempre temos a percepção de que estamos em um território de Enoturismo. Claro, temos benchmarks como Mendoza na Argentina e Rioja na Espanha, e precisamos de nos aproximar mais desses exemplos. O que oferecemos em termos de Enoturismo é de altíssima qualidade. No entanto, é necessário colocar esses polos de atração em rede, com uma lógica de afirmação do território, para trazer mais turistas. O vinho e o Enoturismo são os fatores que atraem turistas para áreas mais remotas do Alentejo. Por isso, escolhemos o enoturismo como um tema central para o nosso PROVERE.
Outro projeto que é uma ideia da antiga Secretária de Estado, Ana Mendes Godinho, e do ministro Pedro Siza Vieira, é a dinamização das fortalezas no interior, que está na estratégia de sustentabilidade transfronteiriça assinada entre Portugal e Espanha. Pretendemos criar um roteiro de animação de fortalezas ao longo da raia, envolvendo sete câmaras municipais no Alentejo e duas no Algarve. Coordenamos o projeto Algarve-Alentejo, com a participação da Região de Turismo do Algarve, para criar um roteiro de visitação de Niza até Castro Marim, com um sistema de bilhete único e uma estratégia de animação. O projeto está candidatado a fundos europeus e aguardamos a decisão.
Também vamos investir no turismo literário, com destaque para o roteiro José Saramago em Montemor-o-Novo/Évora e Florbela Espanca em Vila Viçosa. Além disso, estamos a retomar o desenvolvimento das Estações Náuticas, um produto do qual estávamos afastados, mas que estamos agora a coordenar para melhorar a competitividade dos operadores marítimo-turísticos e fortalecer a estratégia de promoção.
Vamos também dinamizar mais o turismo industrial e vai abrir um hotel temático ainda este ano, que recupera uma antiga fábrica de moagem em Viana do Alentejo. Além disso, avançaremos com a candidatura ao programa de atração de nómadas digitais do Turismo de Portugal, que pode ser uma oportunidade interessante.