No Verão, o que mais apetece é desfrutarmos do nosso tempo de lazer e nos banharmos em águas frescas para temperar o calor do corpo. Uma volta de barco é o programa perfeito para conciliar todos estes desejos mas, o que parece ser uma experiência adquirida apenas à distância de uma marcação e de tempo livre para alguns, para pessoas com mobilidade reduzida pode ser algo nunca alcançável.
E assim era também em Portugal, mas Paulo Gonçalves, CEO da Ria Formosa Boat Tours, mudou essa narrativa, este Verão, com o projecto The Algarvian Queen, um catamarã preparado em tamanho e equipamentos para receber pessoas com deficiências motoras e proporcionar-lhes uma experiência imersiva (literalmente!) nas águas da Ria Formosa, no Algarve. Este é um dos felizes exemplos, com carimbo nacional, alinhado com o conceito do Turismo Inclusivo, uma ramificação do Turismo que está a crescer em Direitos Humanos e oportunidades de negócio para empresas privadas e governos um pouco por todo o mundo. Falamos de independência, equidade e dignidade para todas as pessoas com alguma deficiência física e intelectual e que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), representam 15% da população. Se ainda não conhece o que é o Turismo Inclusivo, convido-o a acompanhar-me durante alguns minutos de leitura.
Sobre o Turismo Inclusivo barra Acessível barra Para Deficientes
O Turismo Inclusivo acontece, por exemplo, quando uma pessoa invisual consegue ler uma brochura de um dado destino em braille. Ou também quando alguém, com mobilidade reduzida, está a viajar num país estrangeiro e os funcionários de uma estação de metro ou comboio estão preparados para informá-la sobre a logística do espaço e as direcções a seguir, assim como acompanhá-la e ajudá-la a entrar na carruagem que a levará ao seu destino. Inclusive, poder andar de camelo na imensidão do deserto marroquino! Ou seja, o Turismo Inclusivo soma serviços personalizados a uma experiência típica de viagem para pessoas com necessidades específicas de mobilidade, visão, audição e dimensões cognitivas. Estes serviços estão representados em infraestruturas sem barreiras nos espaços públicos, comerciais e privados, nos serviços de transporte e de hotelaria, nas equipas de apoio devidamente formadas e em actividades lúdicas que embraçam a participação de todos. Se, hoje, temos Salvador Almeida, tetraplégico e uma referência nacional na luta por melhores condições para pessoas com mobilidade reduzida, a felicitar com entusiasmo a experiência no The Algarvian Queen: “Até fiz um 360º lá dentro e os insufláveis como bancos também são muito bons porque podem ser removidos permitindo aproximar-nos da borda”, diz o presidente da Associação Salvador ao jornal digital, Algarve Primeiro, nem sempre foi assim. Nem em Portugal nem noutros países. O facto de só este ano, 2021, se ter oficializado a norma global sobre turismo acessível (ISO 21902), significa que há ainda um longo caminho a percorrer. Foi no passado 13 de Julho, que este padrão internacional foi oficializado para o mundo através do trabalho exímio da Organização Mundial do Turismo (OMT), a Fundação ONCE (Organización Nacional de Ciegos de España) e a Associação Espanhola de Normalização (UNE). Com este documento, requisitos e directrizes são descritos para que pessoas de todas as idades e capacidades tenha melhor acesso à sua experiência turística. A norma inclui informações direccionadas a pessoas com dificuldades de acessibilidade permanentes e temporárias (acidentadas, grávidas, famílias com crianças pequenas) e pessoas com incapacidades cognitivas, físicas e sensoriais. Uma verdadeira conquista sem barreiras.
Quando inclusão social rima com crescimento económico
“Os governos e o sector privado devem ver o potencial de inclusão de 15-17% da população como um mercado inexplorado, como um investimento sólido na inclusão social – algo que poderia beneficiar grande parte da população”. Quem o diz é Charlotte V. McClain- Nhlapo, Conselheira Global para Deficiências do Banco Mundial e nós estamos com ela, não é verdade?
É que, além da evolução social que o Turismo Inclusivo representa para as pessoas com incapacidade física, sensorial ou cognitiva, no que respeita aos seus direitos fundamentais como cidadãos, também é uma área de negócio ainda com muito potencial para crescer. A OMS diz-nos que cerca de 1 bilião de pessoas em todo o mundo sofre com alguma forma de deficiência e também que muitos possuem grande poder de investimento. Só na Europa, temos cerca de 60 milhões de europeus com deficiência com possibilidades físicas e económicas de viajar e muita vontade de fazê-lo frequentemente. Se somarmos a estes números, o facto da maioria das pessoas com deficiência ser apoiado por cuidados, compreende o efeito multiplicador sobre os gastos nos diversos serviços turísticos. A Austrália dá-nos números sobre esta oportunidade de negócio promissora: 2,8 a 3,4 é a média do número de pessoas num grupo de viagens que envolve pessoas com deficiência, tanto em viagens nocturnas, como diurnas, em diversas empresas de serviços turísticos preparados para o Turismo Inclusivo. Pegando nas palavras do antigo secretário-geral do OS e actual Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres: “É fazer as contas”.
Por Rodrigo Oliveira
É diretor geral e fundador da Zyrgon Network Group, agência de marketing e comunicação digital