“O turismo sensorial cria memórias marcantes e fideliza clientes, além de permitir aumentar o ticket médio da estadia”
Existe uma mudança de mentalidade que já algum tempo está em curso: os turistas não se limitam a escolher um destino apenas pela localização ou pelas comodidades de um hotel, mas sim pelo tipo de experiência que desejam experienciar.
Essa tendência não é apenas uma sensação do mercado — os dados confirmam essa revolução na forma como as pessoas viajam e consomem hospitalidade. A questão é: estamos preparados para essa nova realidade?
E se o seu próximo destino de férias fosse selecionado com base nas sensações que deseja experimentar, em vez de apenas pontos turísticos a visitar?
O turismo está a entrar numa nova era – a do turismo sensorial. Mais do que apenas ver e fotografar, os viajantes procuram experiências que envolvam os cinco sentidos e criem memórias profundas e emocionais. Esta tendência, impulsionada por avanços tecnológicos e uma mudança na forma como encaramos o lazer, está a transformar a forma como os destinos, hotéis e operadores turísticos criam experiências.
O fim da experiência superficial
Nos últimos anos, as viagens tornaram-se cada vez mais visuais e digitais. A “cultura Instagram” levou muitos turistas a focarem-se na estética dos destinos, procurando os lugares mais fotogénicos para partilhar nas redes sociais. No entanto, há sinais claros de que os viajantes estão a mudar de mentalidade: querem sentir mais e não apenas ver.
O turismo sensorial responde a essa necessidade ao integrar elementos que estimulam o tato, o olfato, o paladar, a audição e a visão de forma coordenada. A neurociência já demonstrou que as memórias sensoriais são mais duradouras e emocionais do que aquelas baseadas apenas na imagem, tornando este tipo de experiência muito mais impactante.
1. Aromaterapia nos hotéis: O cheiro da tranquilidade
Alguns hotéis de luxo já oferecem personalização olfativa, onde o hóspede pode escolher entre diferentes aromas para o seu quarto – lavanda para relaxamento, cítricos para energia ou madeira para aconchego.
2. Restaurantes multissensoriais: Comer com os ouvidos e a pele
Em alguns espaços de Xangai, os jantares são experiências imersivas, onde a luz, o som e até a temperatura ambiente mudam a cada prato, amplificando os sabores e criando uma narrativa sensorial única.
3. Spas e experiências de Bem-Estar: O Poder do som e do toque
Um resort nos Himalayas oferece terapias onde as vibrações de taças tibetanas são usadas para induzir relaxamento profundo, enquanto massagens são feitas com óleos aquecidos para estimular diferentes sensações táteis.
4. Museus e espaços culturais: Ver e sentir a história
O principal museu de Madrid, criou uma experiência para invisuais onde réplicas em relevo de quadros famosos permitem “ver” as pinturas através do toque. Já algumas exposições incorporam sons e aromas para transportar os visitantes para outras épocas.
Apesar de do Turismo Sensorial, ser ainda um nicho do mercado, o mesmo pode integrar-se em experiências convencionais e tornar-se mais acessível ao público geral. Algumas estratégias para essa transição incluem:
• Criar conteúdos informativos sobre os benefícios do turismo sensorial, tanto para turistas como para operadores.
• Promover experiências sensoriais em eventos e feiras de turismo para despertar interesse.
• Aplicações móveis que guiam os visitantes em roteiros sensoriais, destacando sons, aromas e texturas de um destino.
• Criar experiências adaptadas para pessoas com deficiências sensoriais, como tours táteis para cegos ou roteiros com foco no som para surdos.
• Destacar o turismo sensorial como uma forma de reconexão e bem-estar, algo que pode atrair um público mais amplo.
Estratégias para aumentar a receita com turismo sensorial
Experiências gastronómicas únicas (Paladar)
• Menus degustação com ingredientes locais e harmonizações especiais (vinhos, azeites, chocolates).
• Pequeno-almoço com produtos artesanais e locais, elevando a experiência e permitindo vendas adicionais (ex.: venda de compotas)
• Jantares sensoriais com degustação às cegas ou explorando texturas e contrastes de sabores.
2. Aromaterapia e identidade Olfativa (Olfato)
• Criar um aroma exclusivo do hotel e vendê-lo como perfume de ambiente ou spray para casa.
• Experiências de perfumaria artesanal ou visita a produtores locais de essências.
3. Ambientes táteis e relaxamento (Tato)
• Massagens temáticas (com vinoterapia, mel, sal marinho, etc.).
• Roupões, lençóis e toalhas de alta qualidade que os hóspedes possam comprar.
4. Paisagens visuais e arte (Visão)
• Quartos e espaços com design inspirador, explorando cores e iluminação para criar diferentes atmosferas.
• Galeria de arte local no hotel, com possibilidade de compra de peças.
• Atividades de fotografia sensorial, captando a essência da região.
5. Experiências sonoras e música (Audição)
• Playlist personalizada do hotel, disponível para compra em plataformas digitais.
• Sessões de sound healing (cura com sons) ou concertos intimistas ao pôr do sol.
• Integração de sons naturais no ambiente (mar, floresta, água corrente).
Como Monetizar o Turismo Sensorial no Hotel
1. Pacotes temáticos – Criar pacotes que combinam experiências sensoriais exclusivas.
2. Vendas diretas – Produtos como perfumes, velas, roupões e artesanato podem ser vendidos na receção ou online.
3. Eventos e workshops – Realizar eventos pagos com chefs, sommeliers, terapeutas e artistas.
4. Parcerias locais – Criar experiências conjuntas com produtores locais, com comissões sobre vendas.
O turismo sensorial cria memórias marcantes e fideliza clientes, além de permitir aumentar o ticket médio da estadia.
No final, a grande pergunta que o turismo do futuro colocará aos viajantes não será “Onde quer ir?”, mas sim “O que quer sentir?”. E essa resposta pode definir toda uma nova forma de explorar os seus sentidos e experienciar.
Por Paulo Ferreira
Diretor geral The Leaf Boutique Hotel Lisbon