Sábado, Dezembro 7, 2024
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Turismo sustentável: Uma ação virada para o futuro

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​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​​O turismo é um dos setores da economia que mais cresceu nas últimas décadas, correspondendo a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e a 7% das exportações. Um em cada 11 empregos, no mundo, estão inseridos numa atividade turística. O número de pessoas que viaja pelo globo é enorme e continua a crescer. Este crescimento trouxe novos desafios sociais, económicos e ambientais. Se, por um lado, é inegável que o desenvolvimento da atividade trouxe crescimento económico às comunidades locais, também é inegável que contribuiu para o aumento das desigualdades e da poluição e para o desgaste dos recursos. Contudo, quando é abordado numa perspetiva sustentável, o turismo pode ter um forte impacto positivo nas comunidades.

Segundo as Nações Unidas, o turismo é responsável por cerca de 5% das emissões de CO2, em todo o mundo, pelo que esta área de atividade tem um papel fundamental na transição energética. E os turistas não são alheios a esta realidade: segundo dados do Tripadvisor, 62% dos viajantes revelam preocupações ambientais aquando da escolha dos hotéis onde se alojam. A sustentabilidade é um caminho incontornável em todas as áreas de negócio e o turismo não é exceção, sendo evidente o crescente comprometimento dos agentes do setor, a nível mundial, com esta questão e, em particular, com a eficiência energética. O turismo sustentável deve ter em consideração as necessidades e as expectativas dos visitantes e do setor, mas também das comunidades onde as respostas turísticas estão inseridas e do impacto ambiental, económico e social desta atividade. A visão da Estratégia Turismo 2027, para Portugal, vê o turismo “como hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território, posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo”. E as Comunidades de Energia Renováveis (CER) podem ter um papel fundamental na prossecução deste objetivo.

Por que não juntar às vantagens competitivas de Portugal, enquanto destino turístico de qualidade, um país que alicerça a sua oferta turística nos princípios da sustentabilidade? Para além das praias, do clima, da gastronomia e da simpatia das nossas gentes, por que não oferecer a quem nos visita a possibilidade de conhecer um país que procura responder aos desafios do seu tempo? Um país que, colocando as pessoas no centro da sua estratégia, valoriza a inovação, mas também o trabalho em comunidade. A capacidade da humanidade para descarbonizar a energia, nos próximos dez anos, irá determinar o destino do nosso planeta e a sustentabilidade de vida na Terra para as gerações futuras. Este é um desafio mundial que devemos enfrentar juntos – e esta preocupação deve ser assumida também pelo setor do turismo. Já foi instalada a primeira Comunidade de Energia em Portugal e estamos, atualmente, a instalar a primeira Comunidade de Energia industrial do país. Para além de salvaguardar a autenticidade sociocultural das comunidades locais, as atividades turísticas devem fazer um uso adequado dos recursos ambientais e energéticos, garantindo, também assim, que as atividades económicas serão viáveis a longo prazo. É preciso monitorizar o impacto local desta atividade – e porque não convocar a participação informada dos agentes locais? As Comunidades de Energia são um novo modelo de negócio, diferente das opções de “autoconsumo individual”, possíveis com investimento zero e sem alterações no contrato com o atual comercializador de energia. A produção de energia na comunidade, com possibilidade de partilha do excedente, permitirá aos agentes turísticos melhorar a vida das pessoas, assumindo, também assim, o seu papel social. É ainda possível gerar receitas com a venda de energia e apoiar causas sociais, de combate à pobreza energética. Para ser uma atividade sustentável, que cria valor social, económico e ambiental, o turismo deve potenciar, para além de uma adequada utilização dos recursos ambientais dos territórios, benefícios socioeconómicos distribuídos de forma justa por todos os atores envolvidos.

Atualmente, todos nos debatemos com os desafios da transição energética, forçada também pelo custo da energia que, tendo em conta o poder de compra em Portugal, é excessivamente cara para o país. As comunidades rurais e em territórios de baixa densidade são sempre as mais vulneráveis a este tipo de fenómeno e é nesta realidade que o projeto “100 Aldeias” se foca: criar uma rede de aldeias sustentáveis, onde todas as pessoas possam consumir energia limpa, produzida localmente e a custos mais reduzidos. Isto está também alinhado com a necessidade que as pequenas aldeias e vilas têm de se diferenciar para atrair um nicho de turismo que, cada vez mais, procura destinos sustentáveis. O projeto “100 Aldeias” procura, também, estabelecer uma rede de aldeias sustentáveis com preocupações sociais de desenvolvimento da economia local – e as pontes que é possível fazer entre este desígnio e o desenvolvimento potenciado pela atividade turística são evidentes.

A pandemia da COVID-19 causou um impacto negativo na economia, na sociedade e, muito particularmente, no setor do turismo, com o fecho das fronteiras e a suspensão das atividades turísticas, gastronómicas e de lazer. Apenas uma estratégia de recuperação responsável e eficiente do setor, no pós-pandemia, permitirá que o turismo retome a sua atividade de forma ainda mais forte. O turismo sustentável vai ajudar o setor a fazer o caminho do futuro. O amanhã está aí!

Por Basílio Simões

É um empreendedor e business angel com mais de 30 anos de experiência profissional. Atualmente é presidente em Portugal e co-fundador da Cleanwatts, empresa tecnológica portuguesa líder mundial em Comunidades de Energia. Anteriormente fundou várias outras empresas tecnológicas destacando-se a ISA  Intelligent Sensing Anywhere, pioneira em telemetria para o sector do Oil & Gas e que foi a primeira empresa portuguesa admitida à Bolsa das PMEs, NYSE Alternext Lisbon, em 2012.

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