O desenvolvimento da vertente turística numa região, em particular do turismo urbano, é uma estratégia levada a cabo por diversos órgãos de gestão municipal, a fim de revitalizar as suas cidades. O desenvolvimento turístico traz inúmeros benefícios às comunidades recetoras, uma vez que está diretamente associado à criação de emprego, ao aumento dos gastos efetuados por parte dos visitantes, ao desenvolvimento de infraestrutura, e a um impulso da vida e programação cultural no destino.
Não obstante, o crescimento desta área estratégica implica custos para a comunidade local, tais como o aumento do tráfego e consequentes aumentos de níveis de poluição, o aumento do custo de vida na área, a especulação imobiliária, além da perda de sentimento de pertença e autenticidade do local. A manutenção, a longo prazo, da comunidade residente, está a tornar-se um ponto-chave de avaliação do sucesso do desenvolvimento sustentável de um destino. Deste modo, um destino necessita de gerir, numa base sustentável, o impacto do turismo nos seus residentes de forma a manter o seu bem-estar.
É sabido que esta visão de elevado consumo se reveste de caráter intensivo, mas transitório, facto decorrente do próprio conceito de turismo e turista, sendo óbvio que estes atores apenas produzem uma riqueza momentânea e fugaz. Estas ações levaram a uma degradação, de forma geral, da cidade e dos seus habitantes. Será a geração de riqueza e aumento de receitas turísticas vertentes mais valiosas do que a qualidade de vida da população residente? Os mesmos residentes investiram na cidade, num determinado momento das suas vidas, efetuando por muitas vezes, investimentos de uma vida, sendo este mesmo investimento anterior ao desenvolvimento do turismo de um determinado local, cidade, território ou destino. O turismo pode ter a capacidade disruptora em relação ao equilíbrio da cidade com a sociedade residente e recetora.
Como podemos equilibrar este paradigma? É possível deduzir que um dos pratos da balança épreponderante? Com que autoridade se pode efetuar esta seleção? Cabe às organizações de interesse público de cariz nacional, regional e local, realizar este estudo e análise de forma a apresentarem uma visão do turismo urbano para o futuro, que obrigatoriamente será inclusiva, resiliente, inovadora e inteligente. Deve procurar-se uma influência, ética e isenta, das decisões governamentais, procurando que sejam tomadas melhores decisões, quer a curto, médio e longo prazo.
O turismo precisa de ser repensado. É necessário parar, pensar, analisar e combater os erros que foram apresentados como soluções no passado.
A tecnologia e a inovação desempenharão um papel fundamental nesta visão, mas apenas se as cidades investirem em infraestruturas e competências adequadas, estabelecerem um quadro regulamentar favorável e quebrarem a interação e correlação inexistente entre as fontes de dados. Paralelamente, é importante salientar o papel que os próprios turistas desempenham no respeito pelas comunidades locais, tradições e valores das cidades.
Existem casos de cidades que conseguiram melhorar a sua dinâmica turística porque foram capazes de prever mudanças na indústria, na tecnologia, na sociedade e ambiente, de forma a seguirem as tendências e a reagirem adequadamente aos desafios. Não é de descurar o benefício, em valor, significativo, o que a partilha da cidade com os viajantes acrescenta aos residentes. Será, talvez, necessário alterar a motivação dos turistas. O turismo é um setor de elevada importância na economia de experiências, que está agora a tornar-se a economia motora desta alteração. Para as cidades serem competitivas, precisam de ser autênticas e proporcionar experiências únicas e diferenciadoras.
Como nota final, é necessário apelar à inclusão do turismo na governação urbana, liderado pela cooperação entre o sector público, o privado e a sociedade civil, planear e gerir tendo em consideração as necessidades e benefícios para a comunidade local, e promovendo o aumento da implementação de soluções inteligentes e inovadoras que procurem diligenciar experiências autênticas, monitorizar o impacto do turismo e implementar políticas de dispersão, conseguindo desta forma disseminar os benefícios a toda a cidade.
Por Miguel Carvalhido Ferreira
Doutorando em Turismo e assistente convidado na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar.