Sexta-feira, Janeiro 24, 2025
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Uma viagem, uma história | Por Paulo Pavão

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Revelamos histórias peculiares e inéditas dos profissionais de turismo vividas durante uma viagem e agora contadas na primeira pessoa.

Por Paulo Pavão

Corria o ano de 2014 e eu estava mais uma vez em Maputo em trabalho. Nos vários anos em que viajei a Moçambique aconteceram sempre peripécias, mas julgo que estas situações são sempre apanágio de qualquer viagem a África.

Esta história que aqui vou contar aconteceu num fim de semana em que, normalmente, não há muito para fazer na cidade e grande parte das pessoas, especialmente os expatriados, aproveitam para sair em busca de lugares de descanso ou de praia. A Ponta do Ouro é um desses lugares, mas embora a distância não seja muito grande, devido às más condições da estrada e ao facto de, nesse tempo, se ter que fazer uma travessia por ferry, acabava por fazer com que a viagem durasse umas boas quatro horas ou, por vezes, até mais.

Já andava a querer conhecer a famosa Ponta do Ouro e, desta vez, parecia que as condições estavam reunidas. Juntamente com um amigo que estava a trabalhar em Maputo nessa altura, lá decidimos ir passar um fim de semana e conhecer as praias daquela zona.

Resolvemos sair de Maputo bem cedo, por volta das 6h30 da manhã, para apanhar o ferry para fazer o primeiro percurso. Normalmente, e ao fim de semana em particular, a fila costumava ser grande, pelo que ali perdemos quase duas horas para conseguir embarcar e fazer a travessia até à localidade de Catembe.

Tinha chovido bastante na noite anterior. Todas as ruas da localidade estavam alagadas e, embora tivéssemos um veículo 4×4, havia que passar com cuidado para não ficarmos atolados.

Lá tomámos a estrada (não pavimentada) em direção à Ponta do Ouro e cerca de 45 minutos depois lembrámo-nos que não tínhamos trazido água, o que talvez fosse necessário. Claro que, de imediato, começámos a sentir uma sede daquelas, mas havia que continuar e não pensar no assunto.

Uns quilómetros mais à frente, à sombra de uma árvore à beira da estrada, estavam dois polícias que nos fizeram parar.

Começaram por alegar que íamos em excesso de velocidade.  Coisa impensável naquela estrada de terra batida e cheia de buracos onde, além disso, nem havia sinalização de velocidade. Perceberam que não poderiam ir por aí. Mudaram de assunto, dizendo que tinham sede.

E eu respondi: “Nós também e não temos água ahahaha!!” Mas, obviamente, não era água que eles queriam.

Lá conseguimos desfazer a conversa e continuar viagem.  Não se via nada, nem ninguém, naquela estrada, até que, de repente, ouviu-se um barulho estranho e o carro fez uma ligeira inclinação para a esquerda.

Olhei pela janela e qual é o meu espanto quando vejo algo insólito. E digo: Perdemos uma roda! O meu amigo não queria acreditar. Parámos o carro, saímos para verificar melhor, e, de facto, constatámos que a roda tinha saído por inteiro e viam-se apenas os ganchos de encaixe. Onde teria ido parar a roda? Além da estrada só se via uma vala funda cheia de silvas, canavial, e depois, mato.

A sede voltou a assolar-nos e ficámos uns minutos sem saber o que fazer, pois não havia ninguém a quem pedir ajuda e a rede de telemóvel também era fraca.

A solução era entrar na vala cheia de silvas e tentar a sorte. Esta não era uma palavra que nos estava a acompanhar neste dia, mas à segunda tentativa, lá a conseguimos encontrar. Uffff!
A roda era muito pesada para a retirar de onde estava, pelo que não foi fácil trazê-la de volta para perto do carro.

Findo este processo, pensámos: Agora não temos parafusos para prender a rota. Estes também se tinham soltado e precisávamos de a aparafusar aos eixos.

Desatámos a rir e, de repente, chegamos à conclusão que o melhor seria retirar um parafuso de cada roda e ficarem todas apenas com três parafusos em vez dos quatro realmente necessários. Assim fizemos, mas era preciso tomar uma decisão: Seguir a viagem de fim de semana com o carro menos seguro ou voltar para Maputo?

Optámos pelo mais seguro e iniciámos a viagem de regresso, desiludidos e aborrecidos. Com todo este esforço tínhamos cada vez mais “sede” e continuávamos sem água para beber.

Uns bons 15 minutos mais à frente, lá estavam novamente os polícias que voltaram a fazer sinal para pararmos. Nem nos reconheceram e voltaram a fazer a mesma abordagem que anteriormente.

Nem os deixei terminar e só lhes disse: nem sabem o que nos aconteceu! Contei a peripécia e acabaram por ficar tão sensibilizados que até nos indicaram uma localidade onde poderíamos ir comprar água apenas efetuando um pequeno desvio.

Seguimos as indicações e, finalmente, conseguimos comprar a tão desejada garrafa de água. Continuámos o regresso até à localidade de Catembe, onde acabámos por comer algo, e voltámos para fila do ferry para chegar a Maputo.

Conclusão: Acabámos por chegar a Maputo por volta das 4h da tarde, com o fim de semana abortado e com uma aventura daquelas para ficar na nossa memória para sempre.

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