Segunda-feira, Novembro 17, 2025
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Uma viagem, uma história | Por Pedro Ribeiro

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Revelamos histórias peculiares e inéditas dos profissionais de turismo vividas durante uma viagem e agora contadas na primeira pessoa.

Por Pedro Ribeiro, diretor comercial dos Hotéis Dom Pedro

Uma das viagens profissionais que mais me marcou foi a Moscovo em 1995, não só pelo momento que atravessávamos, mas também por ser um mercado completamente novo, pelo exotismo, diferenças culturais e até profissionais entre esse mercado e Portugal.

Era a primeira viagem a este destino. Tínhamos acabado de sair do período da Perestroika, existia na Rússia uma crise política forte. Resolvemos ir a Moscovo, participar na 2ª edição da feira mais importante da Rússia, a MITT, numa missão de promoção das empresas no mercado russo. Estava em transição nos Hotéis Alexandre Almeida para assumir a direção comercial do grupo e fui acompanhado pelo João Luís Moita, na altura diretor da Citur, Luis Moura, diretor comercial da Citur, Vitor Manique, do Hotel Meridien, e o Jorge Teixeira, do Hotel Penta (atual Marriott). Estava também o diretor do Hotel Flórida e o Rui Repolho, diretor do Hotel Estoril Sol. O mercado russo estava a dar alguns sinais de crescimento, bastante promissor, com a realização das primeiras operações de operadores turísticos russos na costa do Estoril. Resolvemos por isso participar na feira, todos em conjunto. Foi um viagem única, desde logo à chegada, fomos num voo de ligação via Frankfurt – havia o voo da Aeroflot, mas, por questões de segurança, resolvemos ir com a Lufthansa, via Frankfurt Logo à chegada, encontrámos filas enormes no aeroporto, devemos ter demorado mais de duas horas para passar o controlo de passaporte em Moscovo. Estas filas eram na entrada e na saída da Rússia, tínhamos de chegar ao aeroporto com quatro horas de antecedência para efetuarmos todos os procedimentos de saída do país.

Moscovo era uma cidade muito diferente do que é hoje em dia, era escura, não havia restaurantes na rua, e era muito difícil a locomoção. Não existiam táxis, vínhamos para a rua, esticávamos o braço, e parava um daqueles carros antigos soviéticos que negociavam o preço. Não falávamos russo, a comunicação era bastante difícil, mas lá nos organizámos. Era uma cidade com uma forma de vida ainda bastante fora dos padrões ocidentais, mas notava-se que era o centro de um império. Era já uma cidade com muitos milhões de habitantes, que atraia pessoas de todos os países ex-União Soviética. Notava uma pujança, com uma população flutuante muito grande, com muito movimento, mas depois à noite virava uma noite completamente deserta. Como primeira experiência, recordo-me de termos ficado hospedados num hotel com um nome bastante atrativo para a época – o Sovietskaya. Localizado ao lado do estádio do Dínamo de Moscovo, era um hotel do Estado. Na altura, praticamente todos os hotéis ainda eram do Estado, e era usado muito pelos Governos regionais quando se deslocavam a Moscovo. Nesse hotel, tivemos direito a um pequeno almoço em privado, numa enorme sala, com 1500 metros quadrados. No centro da sala estava uma mesa e só estávamos nós, com vários empregados a servir-nos. Aqui começámos a ter uma noção de como culturalmente ainda tudo era completamente diferente. Os russos, apesar de serem bastante distantes, mostravam grande interesse em fazer negócio. Participámos na MITT e foi uma grande surpresa, estávamos no stand do Turismo de Portugal, cada um tinha um intérprete e as filas à frente de cada mesa eram enormes, chegavam a ter 50, 60 pessoas em fila indiana, para levarem material. Estavam muito ávidos de conhecimento de Portugal.

Houve muitos factos curiosos nesta viagem. Numa das noites, fomos jantar ao hotel Metrópole. Havia poucos restaurantes fora dos hotéis. Pedíamos a conta e dei o meu cartão de crédito. Chegou um empregado muito bem vestido, com luvas brancas, uma bandeja e uma tesoura em ouro, e pergunta de quem é o cartão. Digo que é meu, e ele pega no cartão e corta-o. Fiquei espantado e ele disse: “Visa tell me to cut card”. O que aconteceu é que tinha vindo de uma viagem de duas semanas num roadshow em França. O cartão tinha atingido o limite de crédito. Ele deve ter recebido uma mensagem que o cartão estava com problemas. Sem mais, nem menos, cortou o cartão à minha frente e fiquei sem cartão o resto da estadia em Moscovo.

Em resumo, lembro-me de pormenores interessantes e momentos muito divertidos, ao longo da viagem, e como experiência profissional foi fora do normal. Foi uma viagem muito interessante que depois deu origem a que durante muitos anos tivéssemos presentes no mercado russo. Podemos mesmo dizer que a origem do Portugal United foram estas primeiras viagens à Rússia, achávamos que era difícil fazer promoção sozinhos, e fomos sempre em conjunto, e a partir destas viagens em conjunto fomos realmente tendo noção que éramos mais eficazes a promover o destino e as nossas empresas em conjunto. Passados uns anos, surgiu o Portugal United. Esta foi uma viagem que ficou marcada na memória de todos nós e que ainda hoje recordamos.

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