Terça-feira, Novembro 18, 2025
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“Vamos reforçar os escritórios nos EUA e abrir no México”

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Em entrevista ao TNews, Carlos Abade detalha a estratégia de Portugal para diversificar mercados turísticos e aumentar o valor das receitas. Com um reforço planeado para os Estados Unidos e novos escritórios planeados no Mexico e na Argentina, o Turismo de Portugal procura atrair turistas de maior poder de compra e tornar o destino cada vez mais resiliente e competitivo.

Quando será apresentada a Estratégia Turismo 2035? Quais os principais objetivos e desafios que o Plano pretende abordar?

A Estratégia Turismo 2035 será apresentada até ao final do ano. O Sr. Ministro da Economia e da Coesão Territorial já deu nota disso, portanto, será apresentada até ao final do ano, em data a anunciar pelo Sr. Ministro ou pelo Sr. Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços.

A estratégia é uma estratégia — como se sabe — que foi criada em articulação com todas as entidades do território, resultado de um conjunto vasto de workshops e reuniões temáticas. É uma estratégia muito focada, sobretudo em três dimensões, ou pelo menos em três grandes objetivos.

Um grande objetivo é o crescimento — crescimento em valor. Sobretudo numa lógica de continuar a progredir na cadeia de valor, tornando as empresas cada vez mais produtivas e gerando cada vez mais riqueza, porque esse é o pressuposto do nosso objetivo principal: fazer com que haja mais rendimento para os portugueses, para quem vive em Portugal, e criar mais bem-estar.

Por outro lado, é preciso ter noção de que este crescimento, num setor tão internacionalizado como o turismo, e no caso de Portugal especificamente, exige outro objetivo muito claro: crescer no ranking de competitividade internacional. Portanto, queremos que o destino Portugal se posicione no top 10 mundial, o que significa, tão só, ultrapassar o Canadá e a Suíça, num ranking que inclui mais de 140 países.

Portugal está agora no décimo segundo, mas é bom ver que, quanto mais nos aproximamos do topo, mais difícil é — podemos subir um a um. Neste momento, estamos a entrar num top onde temos países como França, Estados Unidos, Espanha e Canadá, ou seja, todas grandes economias mundiais.

Até quando?

Queremos que esse objetivo aconteça o mais depressa possível, se possível nesta legislatura. Em qualquer dos casos, é uma dimensão que estará na estratégia enquanto objetivo a atingir, o mais depressa possível e, se possível, dentro desta legislatura.

Por outro lado, a terceira dimensão é um crescimento que se pretende que tenha uma concretização prática do ponto de vista da sustentabilidade do seu crescimento e da inteligência do seu crescimento. É possível acreditar que vamos crescer em valor de forma sustentável e que o crescimento se faça ao longo de todo o país.

O turismo tem que, por um lado, crescer, mas, por outro lado, ser uma ferramenta de coesão económica do país. Para que isso aconteça, claramente, o grande objetivo é crescer ao longo de todo o país, crescer ao longo de todo o ano, e ter uma preocupação grande com a valorização dos profissionais do turismo.

“Queremos que o destino Portugal se posicione no top 10 mundial, o que significa, tão só, ultrapassar o Canadá e a Suíça, num ranking que inclui mais de 140 países”

Concorda com a posição da CTP de que o turismo português não pode crescer mais sem a construção de um novo aeroporto?

Não vou comentar as afirmações do Sr. Presidente da Confederação de Turismo de Portugal, com quem, aliás, temos uma relação muito próxima. A Confederação tem desenvolvido um conjunto de projetos importantes, e tem sido o resultado desta cooperação que o turismo também tem crescido de forma tão significativa.

Portugal tem um conjunto de aeroportos e, aliás, temos feito um esforço significativo na diversificação das rotas aéreas, por exemplo, para os Estados Unidos. Neste momento, todos os aeroportos estão conectados com os Estados Unidos — Faro, há bem pouco tempo, e outras rotas para o Porto. Estamos a trabalhar com todos os aeroportos e, de facto, a criar condições para que o país cresça em todo o lado.

É claro que, no caso do aeroporto de Lisboa — e penso que o Sr. Presidente da CTP se referia a este caso —, o aeroporto está muito perto dos seus limites de capacidade. Isso significa que, do ponto de vista do seu crescimento, tem obviamente limitações. Todos sabemos disso e, por isso, existe um projeto para a construção de um novo aeroporto, com uma capacidade completamente diferente.

O que temos que fazer é aproveitar ao máximo a infraestrutura existente. Por um lado, diversificar, como temos feito, em termos de rotas e de aeroportos. Por outro lado, aproveitar ao máximo a infraestrutura aeroportuária de Lisboa.

Se perguntássemos há 15 ou 16 anos qual era a capacidade do aeroporto de Lisboa, provavelmente diriam que era bastante inferior à capacidade real hoje, considerando os passageiros que embarcam e desembarcam. Isto significa que temos que ser cada vez mais inteligentes na gestão da infraestrutura.

Há investimentos que vão ser feitos no aeroporto para melhorar a qualidade da experiência de quem lá está, aumentar o número de rotações por hora — o que permite alguma margem de crescimento — e também aumentar o load factor de cada avião, permitindo que mais turistas venham por voo, assegurando o crescimento.

Temos que ter consciência de que é uma infraestrutura com limitações. O que vamos fazer é criar condições para que seja o mais eficiente possível. Atualmente, comparando os números com o ano passado, o número de passageiros está a crescer. Portanto, o turismo pode continuar a crescer.

É importante frisar que o crescimento que queremos é, sobretudo, em valor. Isso significa criar cada vez mais um turismo de qualidade e sofisticado, capaz de atrair mercados de maior valor acrescentado. Devemos criar condições para que esse mercado chegue a Portugal — em Lisboa, Porto, Faro, Madeira e Açores — e trabalhar para que o turismo possa crescer em valor.

Aeroporto de Lisboa: “O que temos que fazer é aproveitar ao máximo a infraestrutura existente. Por um lado, diversificar, como temos feito, em termos de rotas e de aeroportos. Por outro lado, aproveitar ao máximo a infraestrutura aeroportuária de Lisboa”.

A diversificação de mercados é uma prioridade. Os EUA já são o segundo maior mercado para Portugal. Que outros mercados estão a ser alvo, como Argentina ou México, e como isto se integra na Estratégia 2035?

Temos uma estratégia de diversificação de mercados, procurando, lá está, os mercados de maior valor acrescentado, que possam trazer para Portugal vantagens substanciais do ponto de vista do crescimento em valor que queremos implementar.

Já foi, aliás, anunciado — e naturalmente fará parte da concretização depois da estratégia — a expansão dos escritórios do Turismo de Portugal fora de Portugal, o que significa uma aposta nos mercados e nos países onde vamos abrir os respetivos escritórios.

Além do esforço que temos feito nos Estados Unidos, que tem sido muito significativo, pretendemos reforçar os escritórios nesse país e continuar a fazer um investimento bastante relevante no mercado norte-americano. Mas queremos também começar a fazer um grande esforço de investimento na Argentina e no México. O nosso propósito é, além de reforçar o escritório nos Estados Unidos, abrir um escritório na Cidade do México, com Buenos Aires também associada.

Por outro lado, continuamos a trabalhar de forma muito forte com o Brasil. O Brasil é um mercado particularmente importante para nós, não é propriamente novo — já é relevante há muito tempo — mas queremos reforçar os fluxos provenientes deste país.

Temos também desenvolvido um trabalho significativo na Ásia, quer ao nível da China — onde, aliás, temos o primeiro voo direto da China para Portugal — quer ao nível da Coreia do Sul, onde pretendemos autonomizar o escritório relativamente ao Japão, porque, neste momento, o nosso escritório de Tóquio trata também de Seul. Portanto, vamos separar a Coreia do Sul do Japão e trabalhar muito os mercados da China, Coreia do Sul e Japão. É bom ver que, no caso da Coreia do Sul, por exemplo, a percentagem de crescimento desde a implementação da rota direta é superior a 35%.

Relativamente a estes mercados, estamos a trabalhar com muito afinco, o que resulta no conjunto de intervenções que temos feito este ano, como roadshows, fóruns, aproveitando também a dinâmica causada pelo pavilhão da EXPO Osaka.

Portanto, há de facto a necessidade de diversificar mercados, continuar a trabalhar aqueles que são relevantes e importantes, sem esquecer o Reino Unido, Alemanha, Espanha e França. Este esforço de diversificação visa garantir que o nosso mix de mercado seja o mais valioso possível, tornando-o cada vez mais resiliente e capaz de trazer mais valor para Portugal.

Estão a trabalhar para aumentar as ligações aéreas entre Portugal e Argentina e para o México?

A dimensão da conectividade é trabalhada diariamente pelo Turismo de Portugal e pelas entidades regionais, que trabalham connosco e também com a ANA. Estamos a trabalhar todos os dias na captação de conectividade.

Isto significa que, obviamente, quando estamos a trabalhar num novo escritório ou num novo mercado, a conectividade aérea está associada. Por isso, estamos a trabalhar no sentido de conseguirmos vir a ter ligações diretas destes mercados para Portugal.

“Quando estamos a trabalhar num novo escritório ou num novo mercado, a conectividade aérea está associada.”

Em 2026?

Isso eu não vou adiantar, porque depende de muitos fatores. Claro que existem conversações com diversas companhias aéreas. Da nossa parte, há sempre total cooperação e total afinco, reconhecendo também a importância, para as próprias companhias aéreas, de trabalhar com Portugal. No entanto, temos que conciliar vontades, calendários e planos de investimento, o que implica uma parceria continuada e conversas contínuas.

O que é esperado em termos de performance do turismo em Portugal este ano?

Neste momento, do ponto de vista das receitas, que é sobretudo o dado que considero importante porque nos dá a dimensão e o valor que pode ser gerado pelo setor, estamos a falar de um crescimento entre os 5% e os 6%.

Isto significa que o setor do turismo, sobre um ano recorde como 2024, continua a crescer. De acordo com as nossas previsões e perspetivas para o final do ano, estimamos que o crescimento das receitas do turismo se situe entre os 5% e os 6% relativamente a 2024. Recordo que 2024 foi o ano em que atingimos aquilo que estava previsto para 2027.

Para terminar, qual a sua opinião sobre uma fusão entre Agências Regionais de Promoção e Entidades Regionais de Turismo?

Julgo que se deve procurar, de facto, aquilo que será mais eficiente do ponto de vista da atuação das entidades. É bom ver que, no caso do Turismo de Portugal, por exemplo, o Turismo de Portugal, enquanto entidade nacional, concentra em si um conjunto de competências — nomeadamente a estruturação de produto e a promoção de Portugal enquanto destino turístico.

Portanto, esta solução, que existe a nível nacional, poderia também existir a nível regional. E, quando os senhores presidentes das entidades regionais de turismo referem que não veriam com maus olhos — não se trata de uma fusão, porque não se pode fundir uma entidade privada com uma entidade pública —, mas que não veriam com maus olhos a possibilidade de terem a competência do ponto de vista da promoção externa, não é algo que, obviamente, me faça confusão, porque isso já acontece ao nível do Turismo de Portugal, enquanto autoridade turística nacional.

Agora, a acontecer isso — e esta é uma matéria, obviamente, da responsabilidade e ponderação do senhor Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços —, tem que se garantir que, nas entidades regionais de turismo, ao nível daquilo que é a atuação das empresas, exista, de facto, uma articulação eficaz entre as entidades públicas e as privadas.

Ou seja, é essencial garantir que a promoção possa ser desenvolvida em articulação com as entidades privadas e com as empresas.

Caso contrário, seria um retrocesso?

Caso contrário, seria um retrocesso. E, portanto, é essa dimensão que tem que se conseguir garantir: que as entidades privadas possam continuar, de facto, a ter um papel importante naquilo que é a dimensão da promoção.

Mas não me parece que a integração dessa competência nas entidades regionais de turismo seja um obstáculo.

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