A Cruise Atlantic Islands (CAI) Conference 2024 decorreu de dia 26 a 27 de setembro no Funchal. Promovido pela Administração dos Portos da Madeira (APRAM), o evento assinalou o 30.º aniversário da fundação da CAI, que reúne os portos da Madeira, Canárias, Cabo Verde e Açores numa estratégia comum, e promoveu o debate sobre a indústria do turismo de cruzeiros na região da Macaronésia.
O evento da Cruise Atlantic Islands arrancou na passada quinta-feira, dia 26, com uma iniciativa ambiental de plantação de árvores no Parque Ecológico do Funchal. Seguiu-se, no final do dia, um Networking Welcome Cocktail na Gare Marítima da Madeira, durante o qual foi realizada uma cerimónia de homenagem aos fundadores da CAI: Juan Francisco Martin (antigo diretor comercial dos Portos de Canárias), João Reis (ex-presidente da APRAM), Michael Blandy (antigo CEO do Grupo Blandy), Eduardo Alvarez Hamilton (antigo CEO da Hamilton & CO, nas Canárias), Franklim Spencer (ex-presidente dos Portos de Cabo Verde) e Pedro Roque (antigo presidente da Autoridade Portuária de Tenerife).
Esta sexta-feira, dia 27, teve lugar na Câmara Municipal do Funchal (CMF) a assinatura de um protocolo entre a presidente dos Portos da Madeira, Paula Cabaço, o vice-Presidente da Cruise Lines International Association (CLIA) na Europa, Nikos Mertzadinis, e a presidente da CMF, Cristina Pedra.
O protocolo visa o estabelecimento de uma colaboração entre as três partes com vista à plantação de árvores nativas e/ou endémicas numa parcela de terreno do Parque Ecológico do Funchal, durante a época alta de cruzeiros (entre 1 de setembro e 31 de maio) da Madeira.
“Gostava de dar nota que esta conferência é muito importante para o Funchal e, desde logo, porque a CLIA representa 95% dos armadores do mundo. A Câmara Municipal do Funchal foi o primeiro município português a ser associado como membro da CLIA”, começou por afirmar a presidente da CMF.
A autarca sublinhou que “o Funchal está preparado para receber os navios cruzeiros, está preparado para receber o turismo. Turismo este que, no seu global, tem batido os recordes dos maiores anos, mais altos de pré-pandemia de 2018 e 2019”.
Cristina Pedra referiu ainda que, atualmente, o Funchal tem 115 mil habitantes, mais de 100 mil turistas por dia e mais de 50 mil pessoas que se deslocam de Ribeira Brava e Santa Cruz para a região por razões de trabalho. “Isto é uma pressão enorme sobre o Funchal”, realçou.
Neste sentido, a presidente da CMF informou que a taxa turística do município, “muito mais baixa do que em algumas zonas do país e seguramente na Europa”, tendo um valor de 2 euros, passará a ser também aplicada aos passageiros de cruzeiros a partir de 1 de janeiro de 2025, por meio de um compromisso com a CLIA.
Por sua vez, Nikos Mertzadinis disse, no seu discurso, que a CAI Conference 2024 tem como objetivo “tanto para celebrar a sustentabilidade como para celebrar a Cruise Atlantic Islands”, acrescentando que o protocolo “é um sinal visível de como a sustentabilidade ambiental pode vir à prática”.
Nas palavras de Paula Cabaço, a conferência procura debater “aquilo que será o futuro do novo destino turístico que queremos criar, que é o destino da Macaronésia”, acrescentando que “essa é a visão que nos move e que nos traz aqui hoje. Estes quatro arquipélagos têm noção do potencial do seu território, das suas características únicas, autênticas e, ao mesmo tempo, diversificadas entre si e querem afirmar-se e posicionar-se na indústria do turismo de cruzeiros”.
A presidente dos Portos da Madeira considera que, neste momento, a CAI é “muito mais forte do que há 30 anos atrás” devido, em primeiro lugar, à entrada recente dos Açores em 2023 e, em segundo, “porque aquilo que começou como uma marca é hoje a Associação Internacional dos Portos das Ilhas da Macaronésia”, passando a ter personalidade jurídica após ter sido registada no passado mês de agosto.
Salienta-se que a CAI Conference 2024 tem como foco a sustentabilidade, a descarbonização dos portos, a transição energética, a economia circular e a inovação tecnológica.
Regressar ao passado da Cruise Atlantic Islands
Após a assinatura do protocolo, a primeira sessão do evento foi dedicada aos fundadores que protagonizaram a criação da CAI, num painel composto por Juan Francisco Martin, João Reis, Eduardo Alvarez Hamilton e Franklim Spencer, e moderado por Ricardo Miguel Oliveira, diretor geral do Diário de Notícias da Madeira.
Michael Blandy, que não pôde estar presente, deixou uma mensagem virtual onde reiterou que, aquando da criação da CAI, “não houve concorrência, houve colaboração e por isso é que funcionou”.
Já Juan Francisco Martin detalhou que, em 1994, ano em que foi fundada a união estratégica, foram movimentados um total de 286.082 passageiros. Em 2023, o número de turistas transportados pelo itinerário composto pela Madeira, ilhas Canárias, Cabo Verde e Açores totaliza 3.324.552.
João Reis mencionou que, na altura, “a nossa estratégia foi criar as condições para que o setor desenvolvesse medidas de promoção”. Para o ex-presidente da APRAM, “foi fundamental haver uma proximidade entre as três autoridades portuárias e o envolvimento do governo”.
“As autoridades tanto portuárias como municipais representam o futuro desta indústria dos cruzeiros e estão a apoiar ao máximo e em tudo que podem”, referiu Eduardo Alvarez Hamilton durante a sua intervenção no debate.
Franklim Spencer, ex-presidente dos Portos de Cabo Verde, adiantou ainda: “nós acreditamos que o Senegal tem muito para oferecer. Em termos de oferta têm um bom porto. O responsável do turismo de Senegal esteve a conversar com as autoridades de Cabo Verde e querem trabalhar neste segmento”.
Desafios e oportunidades no turismo de cruzeiros
O segundo painel da CAI Conference teve como mote “Desafios e oportunidades para a indústria do turismo de cruzeiro na região Atlântica e no mundo”. Com a moderação de Virginia Lopez Valiente, CEO do Cruises News Media Group, a sessão contou com a participação de Eduardo Cabrita (diretor geral da MSC Portugal), Fiona Noone (Marine Planning and Port Operations Manager da Marella Cruises TUI), Kai Algar (Marine & Port Planning Manager da Fred. Olsen Cruise Lines), Amadeu Albuquerque (Nautical Senior Operations Manager da Mystic Cruises), Rafael Fernández-Álava (Communication & External Affairs Director da Costa Crociere) e Mark Robinson (diretor geral do BC Group).
Kai Algar falou sobre o facto de muitos dos passageiros da Cruise Lines serem clientes habituais. “Este ano recebemos novos convidados. Da nossa parte, o desafio, quando temos novos hóspedes, é fazer com que voltem sempre”, referiu.
Rafael Fernández-Álava defendeu a importância de “continuar a surpreender os hóspedes”, acrescentando que “não apenas com os destinos, mas também com uma série de coisas que podem desfrutar a bordo”, indicando como exemplo a possibilidade de os clientes observarem as estrelas a bordo de forma gratuita.
Durante a sua intervenção, Eduardo Cabrita revelou que a MSC Portugal está a “reposicionar algumas embarcações tendo em conta o que está a acontecer no Médio Oriente. Ao mesmo tempo, esta foi também uma decisão comercial porque existiam outros destinos para onde queríamos levar os nossos navios”. Afirmou ainda que a indústria em questão é “sempre uma questão de procura, de clima e de infraestruturas, mas no final de contas o passageiro está no centro da estratégia do cruzeiro”.
Por sua vez, Fiona Noone disse que o foco da Marella Cruises passa por “ser fiável todos os anos”, revelando também que, “com as questões geopolíticas, estamos agora a colocar dois navios nas Canárias. Temos um navio só para adultos e vamos colocá-lo nas Canárias para lhes dar algo diferente, oferecendo algo novo, mas oferecendo algo fiável”.
“Temos visto um enorme crescimento nesta área, em Portugal em geral”, analisou Mark Robinson, considerando que “há muito potencial mais à frente para Cabo Verde e para os Açores. Alguns portos sul-africanos também podem vir a aderir a este itinerário”.
Amadeu Albuquerque abordou que, do ponto de vista cruzeiros de expedição, “preferimos ir para os portos mais pequenos, onde mais ninguém vai”. Referiu também que a Mystic Cruises está a “apostar muito nos Açores” e que, a seu ver, os clientes estão a tornar-se mais exigentes no que diz respeito às práticas sustentáveis.
A Cruise Atlantic Islands foi fundada em 1994 e consistiu numa parceria entre os portos da Madeira e das Canárias. Em 2006, a CAI expandiu-se com a entrada de Cabo Verde e, em 2023, dos Açores.