Segunda-feira, Novembro 17, 2025
Segunda-feira, Novembro 17, 2025

SIGA-NOS:

ERTs assumem “papel central” no turismo, apesar de “orçamentos limitados e grande contenção na capacidade operacional”

-PUB-spot_img

Rui Ventura, presidente da Turismo Centro de Portugal (TCP), espera que o próximo Orçamento de Estado traga um reforço das verbas atribuídas às Entidades Regionais de Turismo (ERT), que têm cumprido a sua missão “com orçamentos limitados e grande contenção na sua capacidade operacional”, em grande parte devido às cativações. Em entrevista ao TNews, destaca a estratégia promocional da entidade e antecipa que o ano de 2025 será “o melhor de sempre para a atividade turística na região”.

Leia a continuação da entrevista a Rui Ventura: “Demasiados tecnocratas nos gabinetes do Estado acham que podem definir as estratégias do turismo regional sem sair do escritório”

A Turismo Centro de Portugal tem procurado apostar na diversificação da oferta turística, com produtos ligados ao turismo literário, turismo industrial, percursos pedestres, rotas de enoturismo, entre outros. Qual é o impacto desta estratégia na atração de visitantes?

A diversificação da oferta é, sem dúvida, uma das marcas distintivas da estratégia da Turismo Centro de Portugal. Temos consciência de que o viajante contemporâneo procura cada vez mais experiências autênticas, personalizadas e ligadas ao território e é precisamente isso que a nossa região tem vindo a oferecer. Ao investir em produtos como os percursos pedestres, o enoturismo, o turismo industrial ou o turismo literário, entre muitos outros, estamos a responder a uma nova geração de turistas mais exigentes, mais informados e mais atentos à sustentabilidade.

O grande objetivo desta diversificação é atrair públicos diferenciados ao longo de todo o ano, de forma a combater a sazonalidade e a distribuir os fluxos turísticos pelo território. Um visitante que percorre uma rota literária explora um antigo complexo industrial reabilitado ou participa numa vindima tradicional está a viver o Centro de Portugal de forma diferente e memorável, e essa é a melhor forma de fidelizar quem nos visita. Além disso, esta abordagem permite-nos valorizar ativos identitários que estão muitas vezes subvalorizados. 

Em suma, não se trata apenas de diversificar por diversificar. Trata-se de estruturar uma oferta que responda à procura e que esteja alinhada com os valores de autenticidade, criatividade e sustentabilidade que queremos afirmar como imagem de marca do Centro de Portugal.

Que novas apostas serão desenvolvidas no segundo semestre do ano?

O segundo semestre de 2025 será um período de trabalho intenso, já com o olhar projetado para 2026. Estamos a preparar um conjunto de ações que nos permitirão reforçar a notoriedade do Centro de Portugal e posicionar a região de forma ainda mais estratégica nos principais mercados emissores.

Uma das grandes novidades será o lançamento de um novo filme promocional do Centro de Portugal, a ser apresentado ainda este ano, e que apresentará a região com uma linguagem visual renovada, mais próxima das tendências contemporâneas de comunicação turística. É um novo filme que visa captar novos públicos, mas também reforçar a relação emocional com os nossos visitantes habituais. Será uma peça-chave da estratégia de promoção para o próximo ano e estará em destaque nas grandes feiras nacionais e internacionais em 2026.

Além disso, estaremos presentes em iniciativas de contacto direto com os agentes do setor. A título de exemplo, estaremos no TNews On The Road, em Braga e Ílhavo, e que será uma excelente oportunidade para reforçar relações com as Agências de Viagens e Turismo nacionais. Queremos apresentar-lhes as novas propostas da região e estreitar os laços com quem está na linha da frente da venda de experiências turísticas.

“Temos consciência de que o viajante contemporâneo procura cada vez mais experiências autênticas, personalizadas e ligadas ao território, e é precisamente isso que a nossa região tem vindo a oferecer”

Que tipo de eventos com projeção nacional e internacional estão previstos para dinamizar o território este ano? E qual é a importância destes eventos para a valorização da região?

Um dos destaques para este ano é o início da execução dos eventos gastronómicos e vínicos do programa “Sabores ao Centro”, uma nova aposta da Turismo Centro de Portugal que valoriza a gastronomia e os vinhos enquanto produtos turísticos estratégicos. Este programa vai integrar um conjunto de eventos que terão lugar nas diferentes sub-regiões, e que contam com a participação de chefs embaixadores do Centro de Portugal. O foco estará nos produtos locais, na inovação e na afirmação da nossa identidade gastronómica.

Estes eventos têm objetivos muito concretos. Por um lado, permitirão atrair públicos fora da época alta, ajudando a combater a sazonalidade. Por outro, vão estimular a circulação de pessoas por todo o território, contribuindo para uma maior coesão regional. Ao mesmo tempo, aumentam a notoriedade do destino Centro de Portugal e ajudam a posicionar a nossa gastronomia como um ativo diferenciador. Também darão visibilidade a espaços com enorme potencial, como os mercados municipais, que queremos afirmar como locais de excelência para a promoção e comercialização de produtos endógenos.

A promoção nacional continua a ser uma forte aposta da ERT? Como é feito o equilíbrio com a importância de promover a região nos mercados internacionais?

Sem dúvida, a promoção nacional continua a ser uma aposta relevante e estratégica para a Turismo Centro de Portugal. O mercado interno tem sido, historicamente, o principal pilar do desempenho turístico da região. Há uma forte ligação emocional entre o Centro de Portugal e os visitantes portugueses, que aqui se sentem entre amigos, longe das multidões, com espaço e tempo para relaxarem e usufruírem das mais-valias que este território oferece.

Mas essa valorização interna não exclui – pelo contrário, complementa – o nosso esforço de afirmação internacional. Daí querermos aproximar a ERT da Agência, daí propormos uma estratégia de promoção integrada, com uma identidade territorial comum e coerente. Portanto, sim, a promoção nacional continua a ser uma aposta forte, mas sempre integrada numa visão mais ampla, que pretende posicionar o Centro de Portugal como um destino competitivo e atrativo à escala global.

“Nos últimos anos, as ERTs têm desempenhado um papel central na estruturação da oferta turística, na promoção dos territórios e na valorização dos ativos locais. E têm-no feito, muitas vezes, com orçamentos limitados e com grande contenção na sua capacidade operacional”

Orçamento de Estado e cativações de verbas

O Orçamento de Estado vai começar a ser discutido nos próximos meses. Tem expectativas que as verbas para as Entidades Regionais sejam maiores no próximo OE?

Naturalmente que sim. Temos a expectativa – e a ambição legítima – de ver reforçadas as verbas atribuídas às Entidades Regionais de Turismo no próximo Orçamento de Estado. Não estamos a falar de um pedido irrealista, mas sim da necessidade de alinhar os recursos disponíveis com as responsabilidades e desafios que enfrentamos no terreno.

Nos últimos anos, as ERTs têm desempenhado um papel central na estruturação da oferta turística, na promoção dos territórios e na valorização dos ativos locais. E têm-no feito, muitas vezes, com orçamentos limitados e com grande contenção na sua capacidade operacional. Sabemos gerir com responsabilidade, mas é impossível planear a médio e longo prazo quando os recursos são escassos e sujeitos a cativações que comprometem a execução das atividades. 

Se queremos que o turismo continue a ser um pilar da economia nacional e um instrumento de coesão territorial, é fundamental dotar as entidades regionais de meios compatíveis com a sua missão. Espero, por isso, que a discussão do próximo Orçamento de Estado traga sinais positivos. Estamos naturalmente disponíveis para trabalhar com o Governo de forma articulada e construtiva, para que o Orçamento de Estado para o turismo seja o melhor possível.

A região Centro é afetada pelas cativações feitas pelo Ministério das Finanças? Há dificuldades em executar a totalidade das verbas orçamentadas?

É uma evidência que as cativações têm trazido constrangimentos muito significativos, tanto a nível da gestão financeira como da operacionalidade da Entidade. Neste momento, temos processos de contratação de serviços, diretamente relacionados com ações previstas no Plano de Atividades para 2025, que estão parados a aguardar autorizações para poderem prosseguir. Esta situação afeta a nossa capacidade de execução e compromete o cumprimento dos prazos planeados.

Uma Entidade Regional de Turismo precisa de previsibilidade e de agilidade para atuar de forma eficaz. Quando os instrumentos financeiros ficam condicionados por cativações sucessivas, torna-se muito difícil garantir uma gestão operacional estável e coerente com os objetivos definidos. É uma situação que limita a capacidade de resposta e que, em última análise, prejudica os territórios que representamos. Esperamos que esta questão seja considerada na discussão do próximo Orçamento de Estado.

Cativação de verbas: “É uma situação que limita a capacidade de resposta e que, em última análise, prejudica os territórios que representamos”

Projeções de desempenho turístico e principais mercados

Que expectativas tem para o desempenho turístico da região Centro neste verão?

Os números mais recentes deixam-nos otimistas quanto ao desempenho turístico da região Centro neste verão. De acordo com os dados do INE, entre janeiro e maio de 2025, as dormidas na região subiram 2,40% face ao mesmo período de 2024 – passaram de 2.817.589 para 2.885.289, mais 67.700. De notar que este crescimento está em linha, e supera até a média nacional, que aumentou 2,33%.

Ainda mais relevante é o aumento dos proveitos totais nos estabelecimentos de alojamento turístico: no mesmo período, os proveitos cresceram 9,57%, passando de 166,3 milhões de euros em 2024 para 182,3 milhões de euros em 2025. Uma vez mais, este crescimento superou a média nacional, que se ficou pelos 7,85%.

Estes indicadores confirmam não só o aumento da procura, mas também a valorização da oferta turística da região: quem visita a região está a gastar mais. São dados encorajadores que nos permitem antecipar um verão positivo para os vários territórios do Centro de Portugal, com impacto direto na economia local, no emprego e na afirmação do destino.

E, olhando para o ano completo, quais são as projeções para o Centro em termos de visitantes, dormidas e receitas?

Olhando para o desempenho do primeiro semestre e para as dinâmicas que temos observado no terreno, as perspetivas para o conjunto de 2025 são francamente positivas. Esperamos encerrar o ano com um crescimento sustentado tanto no número de dormidas como nos proveitos, fazendo deste ano o melhor de sempre para a atividade turística na região.

No ano de 2024, o Centro de Portugal totalizou 8,4 milhões de dormidas, número nunca alcançado. Se até ao fim do ano a região crescer ao ritmo de 2,5 por cento – uma perspetiva conservadora, que pecará certamente por defeito – as projeções apontam para um total superior a 8,6 milhões. 

Ao nível dos proveitos nos estabelecimentos de alojamento turístico, acreditamos que será possível ultrapassar os 550 milhões de euros em 2025, o que representaria uma subida próxima dos 7% em relação aos 515 milhões de 2024. Este crescimento está diretamente ligado à aposta numa oferta mais qualificada, diversificada e sustentável, com experiências que acrescentam valor ao destino e fidelizam os visitantes.

Estes números confirmam que o Centro de Portugal está a consolidar-se como uma região cada vez mais competitiva, com capacidade para atrair turistas ao longo de todo o ano e que distribui os fluxos turísticos por todo o território, que é o que desejamos.

Quais são os principais mercados emissores da região Centro? Está a emergir algum novo mercado estratégico?

Os mercados emissores internacionais têm crescido de forma muito positiva e sustentada, tanto no número de dormidas como no valor acrescentado que gera. Este crescimento resulta de um trabalho estratégico de promoção que temos vindo a desenvolver nos mercados externos, com ações orientadas para a Europa e para mercados mais distantes, como os Estados Unidos, o Brasil e o Canadá.

Em 2024, os mercados internacionais representaram 3,5 milhões de dormidas no Centro de Portugal. Entre estes, o mercado espanhol continua, naturalmente, a liderar, com 838 mil dormidas (cerca de 10% do total), o que se explica pela proximidade geográfica e pela facilidade de acesso por automóvel. Depois de Espanha, os principais mercados da região foram, em 2024, França (318 mil dormidas), Estados Unidos (270 mil), Brasil (257 mil) e Alemanha (234 mil). Também temos registado um crescimento de mercados como Itália, Reino Unido, Polónia, Países Baixos e Canadá.

A nossa estratégia passa por consolidar este crescimento internacional, com base numa oferta diferenciada, que responda aos interesses específicos de cada mercado. O objetivo é reforçar a atratividade do Centro de Portugal como destino competitivo e sustentável, tanto para quem nos visita pela primeira vez como para quem decide regressar.

“Esperamos encerrar o ano com um crescimento sustentado tanto no número de dormidas como nos proveitos, fazendo deste ano o melhor de sempre para a atividade turística na região”

Enquanto mercado dominante, qual é o papel do mercado doméstico para a região?

O mercado interno é, por várias razões, o principal mercado emissor do Centro de Portugal. Basta ver que, em 2024, o mercado nacional foi responsável por 4,9 milhões de dormidas no Centro de Portugal, o que representa 58,7% do total.

Este número é o maior elogio que os portugueses podem fazer à região. Se nos escolhem, é porque se sentem bem aqui, é porque encontram o que procuram. O Centro de Portugal é um destino de proximidade, onde as pessoas se sentem entre amigos, exploram a natureza e o património edificado, descobrem experiências diversificadas e usufruem da hospitalidade destas gentes. Esta relação de confiança não tem preço.

O mercado nacional tem um papel essencial na dinamização económica de todo o território, especialmente das zonas de baixa densidade. Muitos dos nossos produtos turísticos – do turismo de natureza ao religioso, passando pelo património, pela gastronomia ou pelo enoturismo – são particularmente valorizados pelos visitantes portugueses, que procuram a ligação ao território.

Num tempo em que se discute cada vez mais a sustentabilidade do setor, é importante lembrar que o turismo interno contribui também para reduzir a pegada ambiental das deslocações e para reforçar o sentimento de pertença e valorização do que é nosso. Por tudo isto, o mercado doméstico continuará a ser um eixo central da nossa estratégia.

Como avalia o atual estado da hotelaria na região Centro? Que papel tem tido o mercado hoteleiro no posicionamento do destino?

A hotelaria na região – assim como a restauração e o setor da animação turística – a tem evoluído de forma muito evidente nos últimos anos. Embora exista ainda muita margem para qualificar e diversificar a oferta, a verdade é que o Centro de Portugal já dispõe hoje de um conjunto de unidades de alojamento que estão entre as melhores do país, reconhecidas pela sua qualidade, identidade e autenticidade.

Entre 2023 e 2024, o número de alojamentos disponíveis na região aumentou 4,4%, o que demonstra uma resposta direta ao crescimento da procura turística e um sinal claro de confiança dos investidores no potencial do destino. Temos assistido à instalação de novos projetos hoteleiros que combinam qualidade arquitetónica, sustentabilidade ambiental e integração com a envolvente, o que contribui decisivamente para reforçar a atratividade da região.

Um dos aspetos mais relevantes tem sido o surgimento de unidades de qualidade em territórios de baixa densidade, que estão muitas vezes afastados dos grandes centros de decisão. Este fenómeno é extremamente positivo, pois contribui para criar emprego qualificado, fixar residentes e gerar dinâmicas económicas locais, promovendo um turismo mais equilibrado e verdadeiramente coeso. Por isso, podemos afirmar com toda a legitimidade que o setor hoteleiro tem um papel fundamental na consolidação do posicionamento do Centro de Portugal como um destino autêntico, diversificado e sustentável.

Leia a continuação da entrevista a Rui Ventura: “Demasiados tecnocratas nos gabinetes do Estado acham que podem definir as estratégias do turismo regional sem sair do escritório”

-PUB-spot_img

DEIXE A SUA OPINIÃO

Por favor insira o seu comentário!
Por favor, insira o seu nome aqui

-PUB-spot_img
-PUB-spot_img