A Humanidade sempre teve “fome” de futuro. De uma forma sistemática temos revolucionado a alimentação e a sua evolução. Alguns bons exemplos passam pela utilização do fogo, a transição para a sedentarização das populações para se dedicarem aos campos de cultivo, os alimentos em conserva e a produção em massa a que hoje assistimos.
Não tenhamos dúvidas de que a próxima revolução será a digitalização dos alimentos. A simbiose perfeita entre a “alimentação” e a internet originando uma “singularidade alimentar” através da impressão do que comemos.
Imagine impressoras 3D capazes de criar alimentos, com ingredientes personalizados para as nossas preferências e necessidades alimentares (nutrientes, vitaminas, calorias, etc.). Um simples download de um arquivo ou ficheiro que contenha o seu “perfil” de sabor, informações sobre eventuais alergias e assim, à distância de um click, ter um leque infindável de receitas à sua disposição. Tudo isto num restaurante, tal e qual uma vending machine, onde o cliente insere toda a informação armazenada numa pen, ou num smartphone, ou num chip cirurgicamente “instalado” no seu braço, na impressora e a mesma imprime a sua refeição.
Nos nossos dias já é uma realidade a impressão em 3D, embora estejamos ainda distantes de conseguirmos imprimir um bom naco de carne. Existem no entanto algumas universidades e polos científicos onde impressoras de grande dimensão já o fazem e com texturas e sabores quase inconfundíveis com a “peça” original (muitas dessas impressoras aguardam ainda os processos das patentes e não são comercializáveis).
Assim, e teoricamente, qualquer ingrediente pode ser usado na impressão, desde que em forma de puré. O mesmo é inserido num cartucho (vários cartuchos com purés diferentes) na impressora e a partir dai, tudo acontece como numa impressão a tinta numa folha de papel exceto com uma dimensão extra: são impressas camadas individuais umas sobre as outras para criar uma forma em três dimensões. Tal como nas impressoras comuns, diferentes tintas saem de diferentes jatos de modo a que a comida não precisa de estabilizadores adicionais para ajudar a manter a forma.
A capacidade de personalizarmos a comida (singularidade alimentar) abre um novo mundo de oportunidades a chefes de cozinha, entre outros, e permite uma simbiose perfeita entre a alta cozinha e a precisão científica com a criação de verdadeiras obras-primas que as “mãos humanas” nunca poderiam criar.
Existem cozinhas espalhadas pelo mundo que começam a dar os primeiros passos nesta tecnologia e dois dos melhores exemplos são o Chefe Mateo Blanch do restaurante La Boscana ou o Chefe Paco Perez do La Enoteca que diz: “A criatividade é moldada em tudo o que a tecnologia permite”. Podemos ir até mais longe e conjugar o processamento de plantas nutritivas e insetos ricos em proteínas incentivando o seu consumo quando impressos em formas agradáveis à vista.
A próxima revolução está a chegar e cabe-nos a nós, hoteleiros e profissionais do setor, preparar todo o “público” em geral para uma mudança do paradigma gastronómico!
Por Ricardo Augusto
É hotel manager do NEXT da Savoy Signature, na Madeira, Founder & CEO da REDE-T, rede de profissionais na área de turismo, hotelaria e restauração.