Sexta-feira, Abril 19, 2024
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“As universidades têm um papel bastante importante na atração de talentos para o país”

Depois de 20 anos como professora no ISCTE, Hélia Gonçalves Pereira assumiu a reitoria da Universidade Europeia em março de 2021 com o objetivo de introduzir modelos de formação atrativos e de base experiencial nas diversas áreas de ensino da universidade. O turismo e a hotelaria – com um peso de cerca de 20% na oferta letiva da Faculdade de Ciências Sociais e Tecnologia da Universidade Europeia – não são exceção.

Entrevistámos Hélia Gonçalves Pereira na semana em que Sofia Almeida – também presente na entrevista – foi nomeada coordenadora para a área da Hotelaria e Turismo da Universidade Europeia, traduzindo uma clara aposta neste setor. Esta nomeação trará um “maior dinamismo e aproximação ao mercado”, explica a reitora. Em marcha, estão também outros planos, nomeadamente o desenvolvimento da faculdade online e a abertura este ano de uma licenciatura totalmente lecionada em inglês.

Economista de formação, Hélia Gonçalves Pereira tem, porém, uma forte ligação ao turismo, já que foi coordenadora de vários programas desta área no ISCTE. Com mestrado e doutoramento em gestão e especialização em marketing, escolheu o turismo como campo de aplicação. “Quando ainda não se falava do desenvolvimento que iria ter o Alentejo litoral, entre Melides e Troia, desenvolvi a minha tese de mestrado sobre a estratégia de segmentação e posicionamento do Alentejo litoral como destino turístico, isto quando o Pego era uma praia deserta, entre 2002 e 2003”.

Mais tarde, no doutoramento, usou novamente o turismo como campo de aplicação, mas desta vez fazendo a ligação para as áreas do digital. A partir daí, nunca mais parou, fez projetos de consultoria, formação e criou e coordenou programas na área do turismo.

Sofia Almeida, nova coordenadora para a área da Hotelaria e Turismo da Universidade Europeia, e Hélia Gonçalves Pereira, reitora da universidade

Quando chegou à Universidade Europeia, sentiu que, “sendo uma universidade com uma pegada brutal na área do turismo”, precisava “de um choque”. Em que se traduz esse choque?

Hélia Gonçalves Pereira (HGP) – Trata-se, desde logo, de um choque interno, ou seja, olharmos para o nosso cliente interno e para os nossos docentes que, provavelmente, em determinado momento, e fruto de uma conjuntura interna, julgaram que a área do turismo tinha estagnado e estaria numa fase de maturidade do ponto de vista de ciclo de formação e, portanto, não faria sentido poderem apostar muito na visibilidade para o exterior desta área. Tenho procurado passar uma mensagem que é exatamente o contrário. Temos que, todos dias, chamar à atenção de que, do ponto de vista de instituições de ensino superior privadas, somos de longe líderes de mercado, porque temos três licenciaturas, uma delas totalmente lecionada em inglês que estamos a lançar este ano; um mestrado; um doutoramento e vamos submeter ainda outro. Depois, temos de estar nos sítios certos, participar em iniciativas do setor, trazer os players para dentro do campus e levarmos os docentes e os alunos cada vez mais para fora.

A pandemia penalizou muito o setor do turismo, afastou mão de obra qualificada e talentos do setor. Isso também se refletiu na procura de estudantes pelas licenciaturas de turismo e hotelaria na Universidade Europeia durante estes dois últimos anos?

HGP- Apesar de estar na instituição apenas há um ano e meio, tenho uma ideia concreta do histórico. No que diz respeito a Programas Acreditados (licenciaturas, mestrados e doutoramentos), houve um ligeiro decréscimo na procura que chegou mais ou menos aos 10%. Pelo contrário, na formação executiva, tem havido um crescimento na procura de Programas de Pós-Graduação, Programas Avançados e Programas Especializados. Daquilo que vou falando com os profissionais que procuram este tipo de formação, a sensibilidade é esta: estando relativamente parados durante a pandemia, encontravam na formação um bom argumento para, no fundo, saírem da zona de conforto, para ganharem competência e instrumentos mais atualizados, que lhes permitisse fazer face aos desafios que iam encarar neste novo normal, pós-pandemia.

Quais as expetativas relativamente ao preenchimento de vagas este ano?

HGP – Estamos a crescer, um pouco como o setor do turismo. Neste momento, estamos com valores de 2019, pré-pandemia, e a expetativa é que, acabado o período de admissões, possamos crescer mais do que em 2019. Estamos alinhados com as previsões para o setor em Portugal.

Sofia Almeida (SA) – A taxa de empregabilidade nos cursos de turismo e hotelaria continua acima dos 98%. Isso felizmente sempre tem caraterizado a Universidade Europeia, ou seja, os alunos acabam o curso e tranquilamente conseguem encontrar trabalho, numa nova procura ou nos estágios que proporcionamos no terceiro ano.

“Este ano, decidimos lançar uma licenciatura em Tourism & Hospitality, totalmente lecionada em inglês”

Qual a oferta educativa disponibilizada este ano pela Universidade Europeia no que diz respeito à área do turismo?

HGP – Do ponto de vista das licenciaturas, temos neste momento três licenciaturas: uma em Turismo, que é mais orientada para um público que pretende trabalhar em associações, regiões de turismo, museus. Depois uma licenciatura em gestão hoteleira, que tem tido sempre muita procura e tradicionalmente atrai jovens que tipicamente esperam desenvolver uma carreira na área da hotelaria. Este ano, decidimos lançar em Tourism & Hospitality, totalmente lecionada em inglês com vários objetivos: um deles é podermos alavancar um conjunto de parcerias internacionais que temos de grande qualidade, nomeadamente com a Rosen College of Hospitality Management, na Flórida. Com esta licenciatura, totalmente lecionada em inglês, também preparamos melhor os nossos alunos para poderem aceder a uma experiência internacional. Portanto, estamos muito otimistas em relação a esta formação. Depois, temos um mestrado em gestão hoteleira, um doutoramento em Tourism & Hospitality e pretendemos submeter um segundo doutoramento este ano, porque queremos também ter a capacidade de gerar massa crítica para poder qualificar o nosso corpo docente. É um doutoramento em que pretendemos, no fundo, pegar nas questões que hoje são ‘quentes’ no ensino e na formação e na necessidade do mercado hoteleiro e turístico: a temática da digitalização e da sustentabilidade. O doutoramento ainda não tem um nome e um plano de estudos fechado, mas temos estado muito atentos àquilo que são as necessidades de mercado e, portanto, a questão da inovação associada à digitalização e sustentabilidade serão dimensões críticas neste novo programa.

A Universidade Europeia faz uma monitorização dos alunos formados no sentido de perceber quanto desse talento permanece no país?

SA– A experiência que tenho, através do acompanhamento dos alunos e ex-alunos, é que de facto, em alguns casos, vão fazer determinadas especializações lá fora, sobretudo em áreas que não temos oferta em Portugal. No entanto, tenho notado também que, no final dessas especializações, há uma enorme vontade de voltar e de conseguir concretizar e pôr em prática aquilo que são as aprendizagens. Há uma necessidade de ir procurar especialização, mas também temos, felizmente, muitos que regressam.

HGP – Do ponto de vista desta monitorização que, muitas vezes, ainda acontece de forma relativamente informal, há ainda uma margem de crescimento grande no sentido da profissionalização destas bases de dados que nos permitem, em cada momento e em função das necessidades, ter o acesso aos nossos Alumni [ex-alunos]. A verdade é que, apesar disso, temos a capacidade de trazer muitos destes Alumni para dentro do campus e para apresentarem, quer a sua experiência, quer os desafios ligados às instituições onde estão.

Que leitura é que faz da fuga de talentos na área do turismo e hotelaria do país? Quais as razões para que isso aconteça cada vez mais?

HGP – Não é um problema que se possa circunscrever apenas à área da hotelaria e do turismo. Penso que o efeito da pandemia, em que vivemos confinados, serviu em boa medida para as pessoas abrirem ainda mais a mente a um mundo que é cada vez mais global. Portanto, quer a possibilidade de trabalho à distância, quer a facilidade e disponibilidade para, de repente, estar no outro lado do mundo, levam as pessoas a procurar outras alternativas. Penso, porém, que Portugal, sendo um país considerado por três vezes o melhor destino turístico do mundo, e sendo o turismo o motor da nossa economia, tem outro dever. Neste caso, as universidades têm aqui um papel bastante importante, que é o de atrair talentos para dentro do país. Por exemplo, esta formação totalmente lecionada em inglês, permite não só capacitar os alunos portugueses para um mercado que é cada vez mais global, como atrair alunos estrangeiros que vejam em Portugal um bom destino para crescer do ponto de vista profissional, numa área em que temos muitas cartas a dar.

SA – Já temos visto alunos que vêm fazer Erasmus e, quando terminam, procuram outros cursos aqui na Universidade Europeia, tal é a paixão que desenvolvem quer pelo destino, quer pela escola. É mais uma das razões para considerarmos muito importante esta oferta em inglês. Voltando aos Alumni, gostava de referir ainda uma ação que aconteceu este ano e que é algo que queremos aproveitar para fomentar no futuro: identificámos vários diretores de hotéis que foram alunos da Europeia e que desafiámos a virem à universidade para lançarem desafios aos alunos e foi um sucesso.

“é fundamental hoje dotar os nossos alunos de uma dimensão que é a do saber fazer. É muito importante que os nossos estudantes saiam para o mercado de trabalho com uma perspetiva tão realista quanto possível daquilo que são as necessidades do mercado.”

O mercado de trabalho aponta, por vezes, às universidades uma desadequação dos programas curriculares às necessidades reais do mercado. Que leitura faz desta observação e de que forma é que a Universidade Europeia estabelece ligação e pontes com o mercado de trabalho?  

HGP – Do ponto de vista conceptual, concordo que, em contextos e em alguns momentos, possa haver uma perceção de desadequação daquilo que é dado em sede de sala de aula face às necessidades do mercado de trabalho. Esse tem sido um dos grandes desafios desde que cheguei aqui à instituição. No entanto, julgo que a área da hotelaria e turismo na Europeia já trabalha bastante bem a esse nível. Como? Trazendo as empresas para a discussão da atualização de planos de estudo. Queremos muito que sintam parte integrada daquilo que é a nossa visão estratégica e depois a forma como operacionalizamos essa mesma estratégia.

Por outro lado, penso que a Universidade Europeia tem um modelo académico muito capacitado para que haja um gap reduzido ou até nulo entre aquilo que são as necessidades do mercado e aquilo que a universidade está disponível a oferecer.

De que forma?

HGP – Temos um modelo académico que assenta numa dimensão que é, no fundo, a missão fundamental de qualquer instituição de ensino superior, a missão do saber. Consideramos também que é fundamental hoje dotar os nossos alunos de uma dimensão que é a do saber fazer. É muito importante que os nossos estudantes saiam para o mercado de trabalho com uma perspetiva tão realista quanto possível daquilo que são as necessidades do mercado. Como o fazemos? Fomos fazendo ao longo do tempo. Todas as licenciaturas têm estágios obrigatórios, por exemplo. No entanto, em 2022/2023 vamos introduzir uma mudança, que implica até uma alteração do próprio calendário académico para pôr definitivamente as empresas dentro do campus e do ADN da universidade. Explicando de forma muito prática: o semestre vai ter exatamente a mesma duração, mas aquilo que vamos fazer é trazer as empresas para dentro do campus e para dentro da dinâmica de algumas unidades curriculares na 7ª semana das 18 semanas de duração do semestre. Na 7ª semana vamos ter empresas a lançar desafio reais aos alunos. Imagine uma cadeia que tem mais um hotel e precisa de um plano de marketing para essa unidade hoteleira, aquilo que vai fazer é trazer esse desafio para dentro de uma unidade curricular ou de um conjunto de unidades curriculares. No fundo, os alunos vão utilizar esse desafio para pôr em prática o conhecimento adquirido do ponto de vista conceptual nessas diferentes unidades curriculares e vão resolver esse desafio lançado na 7ª semana até à 15ª semana do semestre e as 16ª e 17ª semanas vão servir para pitchs dentro do campus.

Isto é algo que, provavelmente, já se faz aqui em algumas unidades curriculares noutras universidades. Não vou dizer que este é um modelo absolutamente novo ou disruptivo, mas feito desta forma integrada e pondo o foco na multidisciplinaridade, penso que é realmente uma pedra no charco.

Como é que a Universidade Europeia adequou a sua metodologia de ensino durante a pandemia e o que permanece atualmente das mudanças que se introduziram nessa altura?

HGP – Fica muito do que é bom. Falo com muita à vontade dessa dimensão, porque estava noutra instituição de ensino superior público, quando a pandemia começou. Fiquei muito feliz por ver que a instituição onde estava foi capaz, em 24 horas, de passar de um ensino 100% presencial, para um ensino 100% online, através da plataforma Zoom.

Quando cheguei aqui, em março de 2021, fiquei ainda muito mais satisfeita, porque a Universidade Europeia conseguiu ir muito mais além, julgo que, também, fruto de ser um grupo ibérico. A Universidade Europeia passou em 24 horas de um modelo presencial para um modelo online, mas depois teve a felicidade da empresa que detém a instituição em Portugal e em Espanha – onde temos 3 instituições e mais de 40 mil alunos – a visão de investir cerca de 1,5 milhões de euros em tecnologia para pôr ao serviço do estudante. Até penso que a universidade pode comunicar mais e melhor este seu modelo a que chamou – Experiential Learning Hyflex. Ao fazer este investimento nas diferentes salas de aula permitiu ir muito além do que é um aula dada por Teams ou Zoom, permitiu, no fundo, garantir uma experiência imersiva do aluno. Ou seja, onde quer que o aluno esteja, pode assistir a uma aula e ter uma experiência muito semelhante se estivesse na sala sentado em frente ao professor.

Isto levou também à ideia de criar a primeira, e até ver a única, faculdade 100% online em Portugal: aquela a que chamamos hoje de Universidade Europeia Online. É uma faculdade com um ano e é mais uma das escolas da Universidade Europeia. O que é que faz esta faculdade online? Olha para o contexto, vê que esta lógica do ensino ao longo da vida veio para ficar, também no turismo e na hotelaria. Portanto, fruto da alteração do quadro legal, estamos neste momento em condições de passar a oferecer programas de licenciatura, de mestrado, totalmente lecionados online.

Vão começar já este ano letivo?

HGP – Sim, vamos começar já em 2022/2023.

Têm oferta na área do turismo e hotelaria?

HGP  – Vamos lançar em setembro a pós-graduação “Tecnologia e Inovação na Hotelaria”.

Qual é a expetativa para esta faculdade online?

HGP – A nossa expectativa em relação à faculdade online é que nos permita alavancar de tal forma o número de estudantes que daqui a três anos, quando estivermos novamente a conversar, possamos ter tantos alunos online quanto temos, neste momento, em ensino presencial. Com certeza que iremos conseguir duplicar o número de alunos que a universidade neste momento tem. Porquê? Porque o ensino totalmente online, mais uma vez, permite-nos ter a evidência de que estamos num mundo global, saímos do limite das quatro paredes de uma sala de aula. Isto é, iremos chegar a qualquer aluno português ou que fale português em qualquer parte do mundo. Os programas de licenciatura e mestrado serão para já totalmente lecionados em português. Isso permite alavancar e muito o valor dos programas e a capacidade de atração de alunos para os mesmos.

SA – Acrescento que tem havido uma grande aposta da universidade na formação dos docentes para o online, porque é completamente diferente. Todos passámos por esta situação de nos adaptarmos a dar aulas online e correu muito bem, mas foi para aquela situação específica. No entanto, para continuar a oferecer com qualidade estes programas é necessário que haja uma formação, e, mais uma vez, a Europeia tem vindo a apostar na formação dos professores nesse sentido.

Se por um lado, temos observado a fuga de jovens talentos para o estrangeiro, verifica-se uma maior procura de estrangeiros pelos cursos superiores, nomeadamente para os cursos de turismo? A Europeia está focada nisso?

HGP – Sem sombra de dúvidas. Uma das dimensões do nosso modelo académico é a internacionalização. Como em qualquer setor, a internacionalização faz-se por duas vias: por um lado, garantirmos as condições aos nossos alunos para poderem vivenciar uma experiência lá fora. Para isso, as parcerias são fundamentais. No total da universidade, temos mais de 300 protocolos com instituições fora do país, na área do turismo e hotelaria temos mais de 100. Mas existe outra dimensão, que é o de captarmos a atenção de um aluno estrangeiro, que vê também o mundo cada vez mais como uma porta aberta, para a vontade de poder viver uma experiência de formação no nosso país. Temos de facto uma procura grande de alunos estrangeiros que querem fazer a sua formação connosco. Não estamos fechados a nenhum mercado em particular, estamos abertos a qualquer aluno que julgue que faz sentido fazer a formação connosco.

Qual é o maior fator de diferenciação da oferta formativa da Universidade Europeia?

HGP – É este modelo académico do qual falava. É um modelo académico que, por um lado, dá enfoque a esta perspetiva multidisciplinar e, por outro, às dimensões do saber, do saber fazer, da internacionalização e à quarta dimensão deste modelo académico, que normalmente chamamos de valores sociais. Um estudo recente da Harvard Business Review indica que os jovens hoje, e sobretudo os mais talentosos, também querem trabalhar em empresas que tenham significado para eles do ponto de vista dos seus próprios valores. O que procuramos passar aos nossos estudantes, nesse campo, é muito interessante, porque lhes permite serem mais exigentes e, ao serem mais exigentes com o mercado, obriga o mercado a ser mais ágil no sentido de ter um propósito. 

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