“Hoteleiros sem Fronteiras” consiste numa série de entrevistas com profissionais portugueses que desenvolvem a sua atividade no estrangeiro, procurando explorar os seus percursos profissionais e as experiências que têm adquirido em diferentes mercados.
Com André Santos
Desde os seus primeiros passos na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, até à sua atual posição como Diretor de Soluções de Hospitalidade EMEA na Duetto Research, o percurso profissional de André Santos é marcado por determinação e ambição. O desejo de crescer e desenvolver uma carreira na área de Revenue Management, motivou a procurar oportunidades além-fronteiras. Hoje, como líder na indústria hoteleira, partilha a sua experiência e visão sobre a importância do networking, dos desafios enfrentados ao trabalhar no exterior e as tendências futuras para o setor.
Como começou a sua carreira na hotelaria?
A minha carreira na hotelaria teve início quando frequentava o último ano da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), quando fiz um estágio nos hotéis Altis em Lisboa, especificamente no departamento de E-Commerce. Os hotéis Altis foram uma verdadeira escola para mim em todos os sentidos. Gostaria de expressar um especial agradecimento ao Professor João Pronto e ao Dr. Diogo Fonseca e Silva, que foram fundamentais na minha orientação e início de carreira.
O que o motivou a procurar oportunidades no estrangeiro?
O que me levou a procurar oportunidades no estrangeiro foi, infelizmente, algo comum a muitos outros jovens: a escassez de oportunidades na área da hotelaria em Portugal. Tinha grandes ambições de crescer e desenvolver-me na área de Revenue Management, mas naquela época, esta área ainda não tinha muitas oportunidades em Portugal. Isto levou-me a tomar a decisão de me aventurar no Reino Unido, antes do Brexit.
Como escolheu o destino para desenvolver a sua carreira?
A minha escolha de destino foi guiada pelo desejo de crescer e aprender mais. As opções estavam limitadas a grandes cadeias hoteleiras que estavam mais avançadas em Revenue Management. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Hilton em Londres, não hesitei. Já falava inglês e por isso acreditei que a adaptação seria mais fácil. Posso dizer com confiança que foi a melhor decisão que tomei.
Quais foram os maiores desafios ao mudar para um país estrangeiro?
A adaptação a um ambiente totalmente novo e lidar com a falta de apoio inicial ao chegar, o que me surpreendeu. No entanto, após alguns meses, percebi claramente que tinha sido a melhor decisão.
Que conselhos daria a outros profissionais da hotelaria que estão a considerar trabalhar no estrangeiro?
O meu conselho é simples: não hesitem entre o ‘sim’ e o ‘não’, simplesmente vão. Lembrem-se que podem sempre voltar para casa, podem sempre regressar a Portugal. No entanto, e por muito que me custe dizer, as grandes oportunidades encontram-se fora de Portugal. Aproveitem para crescer e evoluir profissionalmente no estrangeiro. E não se surpreendam se, depois de um tempo, a ideia de voltar seja só para férias ou para visitar a família.
“Para se ser bem sucedido no setor hoteleiro a nível internacional, duas competências são fundamentais: a capacidade de falar outra língua, além do português, e possuir uma grande ambição”
Quais skills são essenciais para ter sucesso neste setor internacionalmente?
Para se ser bem sucedido no setor hoteleiro a nível internacional, duas competências são fundamentais: a capacidade de falar outra língua, além do português, e possuir uma grande ambição. É essencial estar disposto a trabalhar arduamente e ter a determinação para crescer profissionalmente. O maior desafio é dar o primeiro passo e sair da zona de conforto. Uma vez feito isso, começamos a ver o mundo sem fronteiras, e na hotelaria passamos a focar nos destinos e nas oportunidades que eles oferecem.
Qual é a importância do networking na sua carreira?
O networking é fundamental na minha carreira, especialmente ao considerar diferentes contextos geográficos. Na minha posição, reconheço a necessidade de equilibrar ambos os aspetos – tanto a construção de uma rede de contactos eficaz como a manter um padrão elevado de trabalho. Ambos são cruciais para o reconhecimento e progresso profissional.
Daqui a cinco anos, onde se imagina a trabalhar?
Em cinco anos, imagino-me a liderar um departamento de inovação em Revenue Management, focado em automatização e personalização. Pretendo estar à frente no desenvolvimento de RMS globais, com um forte foco em tecnologia, indo além das vendas tradicionais para moldar o futuro do setor.
Está a considerar voltar a trabalhar em Portugal?
O retorno a Portugal é uma possibilidade remota. Apenas consideraria voltar com um contrato internacional, trabalhando a partir de Portugal, mas mesmo assim seria uma decisão que exigiria bastante reflexão, especialmente devido à elevada carga fiscal comparado com outros países. Tenho alguns amigos em situações semelhantes e outros que consideraram regressar principalmente para estar perto da família.
Pode descrever o seu papel como Director of Hospitality Solutions EMEA na Duetto Research?
No meu papel como Director of Hospitality Solutions EMEA na Duetto Research, integro a equipa de vendas, onde dou suporte aos diretores de cada região nos seus projetos. Atuo como o especialista em Revenue Management da equipa, mas o que realmente me entusiasma é a minha influência no desenvolvimento da Duetto e dos seus produtos. Tenho a oportunidade de contribuir nas decisões e direcionar os esforços de desenvolvimento, trabalhando para manter o nosso sistema como o melhor RMS do mundo.
Quais são as principais responsabilidades e desafios associados ao seu cargo?
No meu cargo, tenho a responsabilidade de me manter a par de todos os desenvolvimentos da Duetto, transmitindo essas informações tanto aos potenciais clientes como à nossa equipa de vendas. Paralelamente, dedico-me a compreender as necessidades do mercado e a responder a essas necessidades com inovações na nossa plataforma. Atualmente, o maior desafio é priorizar estes desenvolvimentos, dada a quantidade limitada de recursos disponíveis. A crescente onda de oportunidades trazidas pela Inteligência Artificial também se apresenta como uma grande oportunidade que estamos a explorar.
Como a Duetto Research está a contribuir para inovações na indústria hoteleira?
A Duetto Research, desde a sua fundação, tem se dedicado a desenvolver análises e algoritmos avançados que impulsionam significativamente as receitas de hotéis e casinos. Utilizamos as mais recentes tecnologias em Inteligência Artificial, focando no aumento da rentabilidade dos nossos clientes no setor hoteleiro.Esta combinação de análise de dados avançada e IA coloca a Duetto na vanguarda das inovações na indústria hoteleira.
Pode partilhar algumas das soluções ou projetos mais recentes que a sua equipa desenvolveu?
Em novembro de 2023, lançamos o Duetto Advance, uma inovação pioneira no setor. Esta solução integra análise de booking pace em tempo real e inteligência artificial para uma otimização dinâmica e contínua. Uma das características chave é a sua capacidade de conectar-se a third-parties para obter dados de mercado, incorporando-os no algoritmo e na plataforma. Isso enriquece o processo de tomada de decisão dos Revenue Managers, permitindo-lhes responder rapidamente a mudanças no mercado, aproveitar oportunidades de receita e reajustar tarifas em resposta a reservas inesperadas.
“Os Revenue Managers irão evoluir para líderes comerciais, gerindo múltiplas propriedades com a ajuda de um RMS. Além disso, existirá um grande foco em oferecer experiências únicas e personalizadas aos hóspedes, complementado por estratégias mais focadas na psicologia emocional dos hóspedes”
De que forma as soluções da Duetto estão a impactar positivamente as operações hoteleiras na região EMEA?
Na região EMEA, as soluções da Duetto estão a ter um impacto notável nas operações hoteleiras. Recentemente, um hotel boutique conseguiu aumentar o seu Average Daily Rate (ADR) em quase 40% após implementar as nossas soluções, com foco em suplementos de quartos dinâmicos. Num outro exemplo, um resort no sul da europa conseguiu um aumento de 25% nos suplementos dos quartos. Estes resultados demonstram como atribuir o trabalho mais complexo e repetitivo à nossa ferramenta pode traduzir-se em melhorias significativas de desempenho e rentabilidade.
Na sua visão, quais são as tendências futuras na gestão hoteleira na região EMEA?
Na minha opinião, vai existir um grande desenvolvimento na automatização dos processos com a IA, focando-se na eficiência operacional. Os Revenue Managers irão evoluir para líderes comerciais, gerindo múltiplas propriedades com a ajuda de um RMS. Além disso, existirá um grande foco em oferecer experiências únicas e personalizadas aos hóspedes, complementado por estratégias mais focadas na psicologia emocional dos hóspedes (ex. O hóspede está a ver muitos vídeos nas plataformas sociais sobre destinos e viagens, vamos usar isso para o induzir a fazer uma compra, exatamente como outras indústrias já fazem).