Segunda-feira, Janeiro 20, 2025
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Liderança feminina na hotelaria: Um setor em mudança?

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O repto foi lançado pela prestigiada associação Relais & Châteaux, da qual fazem parte as unidades hoteleiras Valverde Hotel Lisboa, The Yeatman e, no meu caso, o Hotel L’AND Vineyards, em Montemor-o-Novo: conversarmos sobre transformação e refletirmos sobre o que favorece tamanha mudança, pautada por um crescimento acentuado das mulheres em lugares de liderança nas mais diversas áreas da hotelaria, historicamente marcadas por um cunho masculino.

Foi no dia 13 de março, no âmbito do Dia Internacional da Mulher, que decorreu a conversa sob este mote, no Hotel Valverde Lisboa. Estive acompanhada da diretora de vinhos do Hotel The Yeatman, Elisabete Fernandes, e da COO do grupo Valverde Living, Adélia Carvalho. A moderação ficou a cargo da nossa amiga e ativista pela igualdade de género, Paula Cosme Pinto. Todas mulheres que admiro, e que trouxeram para cima da mesa excelentes contributos a este respeito.

“Com a liberalização de costumes e emancipação das mulheres na década de 60, surge também uma democratização de género em quase todas as profissões”

Marta Passarinho

Com a liberalização de costumes e emancipação das mulheres na década de 60, surge também uma democratização de género em quase todas as profissões. Há uma inequívoca diluição das fronteiras que separavam profissões mais ‘masculinas’ ou ‘femininas’. Um fenómeno ligado à evolução das mentalidades e à modernização da sociedade que não se esgota na esfera feminina. Veja-se que papéis anteriormente conotados com a população ativa feminina começaram também a ser desempenhados por homens.

No que diz respeito à representação crescente das mulheres em lugares de liderança hoteleira, acredito que as mulheres estão hoje a conseguir provar que a conquista do seu espaço, muitas vezes em condições adversas, ultrapassando obstáculos somados a grandes desafios pessoais e profissionais, em simultâneo com a resposta às expetativas familiares e uma difícil rotura com os costumes, lhes trouxe uma capacidade de organização e gestão muito desenvolvidas.

Sobressai o seu desempenho diário e a necessidade de afirmação das suas competências. Vêem-se obrigadas a elevados padrões de ação, níveis de energia difíceis de manter de forma consistente e uma multiplicidade de papéis relacionados com a gestão familiar e doméstica. A esta teia de solicitações, acumulam estoicamente enormes responsabilidades no mercado trabalho.

A que custo? Como mulheres, esta é uma realidade que, invariavelmente, nos remete para uma ambivalência profunda onde espírito de sacrifício, resiliência e compromisso ímpares nos parecem muitas vezes insuficientes. Paralelamente, duvidamos da qualidade do tempo que reservamos para o apoio à família e para as relações de amizade, que também são tão importantes.

É frequente ouvirmos testemunhos de malabarismo, exaustão e uma enorme sobrecarga com dias que começam muito cedo na esfera familiar, prolongando-se para a esfera profissional e terminando com um terceiro turno de trabalho de regresso ao plano familiar e doméstico.

Não sendo apologista de generalizações, e sabendo que existem infinitas conjunturas de maior equilíbrio e partilha de responsabilidades, também é difícil negar que uma larga maioria de mulheres não seja ainda penalizada por uma balança desequilibrada que as remete para uma montanha russa de dúvidas existenciais e a sensação de incumprimento de metade dos objetivos a que se propõem diariamente.

Uma coisa é certa, somos postas à prova perante desafios que envolvem gestão de tempo, gestão de expetativas e inteligência emocional para chegar ao conjunto de soluções que trazemos para cada problema.

“Treino, criatividade, capacidade de superação e de escuta ativa são fatores fundamentais numa área de negócio tão desafiante como a hoteleira”

Marta Passarinho

Treino, criatividade, capacidade de superação e de escuta ativa são fundamentais numa área de negócio tão desafiante como a hoteleira: são as pessoas, o serviço, a atenção ao detalhe que constituem fatores decisivos para o sucesso.

Finalmente, não podemos deixar de trazer à conversa todas as áreas relacionadas com soft skills, cada vez mais importantes na gestão de pessoas e negócios. Além da agilidade e da capacidade de antecipação, é absolutamente normal que outras características que fazem parte das raízes femininas, quer seja por tradição e herança ou por estímulos sociais, as coloquem numa posição bastante confortável na capacidade de gestão de equipas e empresas, não só em áreas de hospitalidade como em muitíssimas outras áreas: a empatia, a atenção ao detalhe, o sentido estético e a valorização da beleza associada ao conforto e acolhimento são alguns dos atributos que distinguem o impacto feminino nos ambientes hoteleiros de luxo, onde a personalização de serviço é cada vez mais um fator de diferenciação.

Abençoado o futuro que nos reserve maior equilíbrio, satisfação genuína e valorização. Não há dúvida que a merecemos.

Em março de 2023, Marta Passarinho assumiu a direção-geral do Hotel L’AND Vineyards – Relais & Châteaux, situado no coração do Alentejo. Começou o seu percurso na indústria hoteleira com 21 anos, no Hotel Sheraton Lisboa. Dos seus mais de 30 anos de carreira, destacam-se a experiência de Direção Hoteleira do Marina Club, em Lagos, dois anos no Grupo Amorim Luxury e cinco anos no Ritz Four Seasons Hotel Lisboa.

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