“Enquanto estudante de turismo e turista, grande parte das minhas memórias dos destinos está diretamente associada às pessoas com que tenho contactado”
Por Margarida Cardoso
A tecnologia, como sabemos, é uma ferramenta que todos utilizam, e a área do turismo não é exceção. Graças a estas ferramentas, processos como reservas de hotéis, viagens e tours ficam facilitados, e hoje praticamente ninguém imagina operacionalizar de outra forma. Posto isto, de momento, esta é uma das preocupações da indústria do Turismo, e importa refletir até que ponto a tecnologia poderá substituir os profissionais de turismo nas suas funções.
A tecnologia é, sem dúvida, um forte complemento no turismo; contudo, como jovem e futura profissional de turismo, considero improvável que esta possa substituir os profissionais. O turismo, na sua génese, é feito de pessoas para pessoas e define o conceito de hospitalidade, que se traduz na arte de receber. O contacto entre pessoas é fundamental para tornar o serviço ao cliente personalizado, criativo e pleno de satisfação, criando no cliente uma experiência marcante.
Assiste-se atualmente a uma crescente vontade de expandir e inovar o conceito de turismo, tornando-o uma multiplicidade de experiências sociais e culturais genuínas. Esta vontade manifesta-se no aumento de turistas que viajam individualmente e que veem no turismo a possibilidade de conhecer novos destinos de uma forma mais íntima e de aprofundar o conhecimento cultural do destino. Esta experiência social materializa-se inicialmente nas pessoas que recebem estes turistas, que recomendam aquele local deslumbrante não contemplado nos roteiros disponíveis, o bar onde os locais se encontram ao fim do dia, ou a rota pedonal que tem a vista perfeita sobre a cidade. As pessoas que nos recebem alteram a forma como percecionamos o nosso destino e o impacto gerado, um computador não.
Enquanto estudante de turismo e turista, grande parte das minhas memórias dos destinos está diretamente associada às pessoas com que tenho contactado. Um dos destinos que mais me impactou devido à interação com os funcionários e nativos foi Cabo Verde. A energia, a simpatia, a alegria, a educação, a musicalidade e as suas vivências contagiaram-me positivamente e fizeram-me sentir um deles. Sendo um destino apelativo devido às praias de água clara e quente e do seu clima tropical, foram as pessoas que fizeram toda a diferença. São estes fatores que atraem num determinado destino e mudam completamente a experiência do turista.
Além da riqueza sensitiva que as pessoas aportam, é inevitável falar na consequência mais negativa da tecnologia, a redução do emprego, com um impacto tremendo em determinadas regiões e mesmo países inteiros, que vivem quase única e exclusivamente do Turismo. Não podemos ignorar o avanço tecnológico e seria ingénuo não admitir os benefícios que este pode acrescentar à indústria: o apoio às tarefas administrativas com maior comodidade e rapidez, evitar potenciais dificuldades de comunicação ou filas que atrasam o check-in e check-out e ainda os ganhos de poder abreviar estes processos e direcionar o foco para um atendimento personalizado, que uma aplicação ou uma máquina não poderão oferecer.
Porém, a tecnologia deve ser criada para auxiliar e não para substituir. O lado humano é indispensável na hospitalidade, especialmente em situações complexas: se a refeição servida não corresponde ao pretendido, se o quarto não cumpre as expectativas, se necessitamos de auxílio numa situação inesperada, não procuramos um ecrã, procuramos empatia. Retirar as pessoas do Turismo é retirar-lhe a sua essência, é diminuir a relevância da hospitalidade. Na sua génese, o turismo resume-se às pessoas. A comunicação é o que permite a criação de uma relação entre funcionário e cliente, o atendimento irá ditar o seu regresso e, depois da maior pandemia que o mundo ultrapassou, que retirou o contacto interpessoal da nossa vida diária, ficou provado que a nossa qualidade de vida passa pelas relações que estabelecemos com os outros, nos diversos contextos sociais da nossa vida.
Margarida Cardoso é estudante do 2º ano da Licenciatura de Turismo na Universidade Lusófona. Tem 20 anos e desde o 10° ano que estuda na área do Turismo. Alegre e divertida, nos tempos livres gosta de ler, ouvir música e cantar.
Nova Geração é uma nova rubrica do TNews, na qual damos voz à opinião dos jovens estudantes de Turismo.
Concordo plenamente com a margarida como turista não quero deixar de sentir a essência dos locais para nos receberem com um sorriso e uma orientação mais humanizada. Parabéns pela visão humana destas questões. Berta Horta
Margarida, concordo com tudo o que dizes.
Parabéns
Ana Paula Figueiredo
Parabéns Margarida
Concordo plenamente e adorei ler todas as palavras, identificando-me bastante com o texto.