Terça-feira, Fevereiro 18, 2025
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O efeito TikTok no turismo: Da obscuridade à saturação dos destinos

A influência crescente do TikTok no turismo está a transformar rapidamente destinos antes desconhecidos em pontos de referência virais, levantando questões sobre a capacidade desses locais para lidar com um aumento repentino de visitantes. A Albânia, até recentemente um segredo bem guardado, experimentou este fenómeno durante o último verão, quando as suas praias idílicas foram invadidas por uma onda de turistas, impulsionada pela popularidade da plataforma de vídeos TikTok.

Contudo, a Albânia tornou-se alvo de controvérsia quando influenciadores criticaram a qualidade do país como destino de férias, alegando que “a realidade não era tão idílica como tinham visto no TikTok”.

A singularidade da viralidade no TikTok, com vídeos altamente envolventes a ganharem destaque rapidamente, pode resultar numa explosão de interesse em destinos específicos, provocando problemas de saturação em locais que não estão preparados para lidar com grandes multidões. Especialistas em marketing digital, como Jennifer Mourenza da agência AccuraCast, destacam que o público jovem do TikTok favorece destinos acessíveis, levando a um aumento significativo nas visitas a lugares previamente desconhecidos.

Um recente estudo revelou que 35% dos utilizadores do TikTok nos Estados Unidos viajaram para novos destinos após assistirem a vídeos na plataforma, percentagem que aumenta para 45% entre os 25 e os 44 anos. Embora seja desafiante quantificar o impacto exato do TikTok no turismo, países como a Albânia registaram aumentos substanciais no número de visitantes, com um crescimento de 26% em julho, comparativamente ao ano anterior. O aumento é mais notório fora dos meses centrais de verão: em setembro, houve um acréscimo de 45% de turistas internacionais, totalizando 1,1 milhões (mais de um terço da população local). Em janeiro, observou-se um aumento de 94% de visitantes, segundo o Instituto Albanês de Estatística. Nos primeiros nove meses do ano, o país contabilizou mais 29% de turistas em comparação com o mesmo período de 2022.

No entanto, um estudo do Journal of Outdoor Recreation and Tourism estabeleceu correlações entre os números do TikTok e a realidade no terreno, exemplificado na ilha de Hainan, no sul da China. A maior montanha do Parque Florestal Nacional de Jianfengling passou de 50 visitantes em janeiro de 2021 para 400-600 a partir do mês seguinte, após a publicação de um vídeo que mostrava a vista do enclave, com o nascer do sol a emergir de um mar de nuvens, e que obteve 65.000 gostos. Dois outros pontos de interesse, perto do reservatório de Daguangba, também ganharam popularidade repentina depois de um vídeo ter obtido 29 000 gostos.

Jerome Bergerou, diretor internacional da AccuraCast, destaca que o algoritmo único do TikTok é mais propício à rápida divulgação de vídeos a um vasto público, gerando ondas de popularidade inexistentes no Instagram. O exemplo das praias da Cornualha, no Reino Unido, durante a pandemia, reflete este fenómeno, com vídeos a impulsionarem visitas. “Foram publicados vídeos extremamente impressionantes, que mostravam praias espetaculares situadas em Inglaterra e que eram totalmente desconhecidas para as pessoas, e houve um efeito viral”, explica.

“Problemas de tráfego, multidões e poluição”

Embora o turismo seja normalmente visto como um motor de prosperidade económica, estes crescimentos súbitos têm os seus inconvenientes. O estudo sobre o efeito TikTok no desenvolvimento dos destinos salienta que a chegada maciça e inesperada de visitantes causou “problemas de tráfego, multidões e poluição”.

O aumento repentino de visitantes pode sobrecarregar serviços públicos desprevenidos, desde água e limpeza até segurança e gestão de resíduos. Pedro Bravo, autor do ensaio “Excesso de Equipagem”, destaca que mesmo em locais historicamente turísticos, como as Ilhas Baleares, serviços essenciais podem ficar sobrecarregados.

A falta de infraestruturas adequadas também pode resultar em problemas ambientais, como aumento da produção de resíduos e emissões de gases de efeito estufa. O estudo alerta que, em algumas áreas, a falta de instalações básicas, como casas de banho públicas e caixotes do lixo, torna-se evidente.

Adicionalmente, a ausência de infraestruturas hoteleiras estabelecidas pode levar à proliferação de alojamentos para turistas, encarecendo a habitação para os residentes locais. “Estes são os problemas habituais do turismo de massas. Existem mesmo em locais que deveriam estar habituados ao turismo de massas, como as Ilhas Baleares, Amesterdão, Veneza, Madrid ou Barcelona”, sublinha o autor.

Lugares como as praias da Cornualha ou da Albânia já apresentam indicadores claros de sobrelotação, conforme observado por Bravo. “Geralmente, nos casos de países, as infraestruturas turísticas essenciais são estabelecidas antes da chegada de uma onda turística. Isso envolve a criação de hotéis, negociações com companhias aéreas para aumentar a frequência de voos — com a necessidade de faixas horárias acessíveis para garantir tarifas económicas. As agências de viagens também desempenham um papel crucial ao incluir esses destinos nos seus catálogos e oferecer promoções. Todo esse planeamento ocorre antes da chegada do primeiro utilizador do TikTok”, destaca.

“A seguir, entra a fase de promoção do destino, muitas vezes realizada no TikTok”, enfatiza. No verão de 2022, o site Breaking Travel News destacou a explosiva popularidade da Albânia na plataforma. No entanto, como aponta o autor, determinar se há ou não conteúdo pago por trás desse destaque é desafiador. O autor explica que existem duas abordagens para publicidade: a primeira é direta, através de anúncios. “A segunda é mais eficaz e envolve a colaboração com influenciadores para criar conteúdo sobre o destino turístico. Embora esses influenciadores devam declarar que estão a receber compensação pela promoção do destino, isso nem sempre é feito de maneira transparente, tornando difícil discernir entre conteúdo pago e orgânico”, destaca Bergerou.

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