“Portugal está a fazer um trabalho fantástico nos setores do turismo, educação e inovação”, afirmou Zurab Pololikashvili, secretário-geral da Organização Mundial do Turismo (OMT), durante uma conferência de imprensa que decorreu esta quinta-feira, em Marbella, Espanha, a propósito da assinatura de um acordo oficial entre a OMT e a Les Roches, escola especializada em gestão hoteleira e turismo de luxo. Durante a conferência de imprensa, Pololikashvili abordou temas como o impacto da pandemia na indústria turística, a falta de recursos humanos no setor e a subida da inflação.
Impacto da pandemia no setor
“Estes dois anos de pandemia foram dos mais difíceis de sempre para a indústria turística. Estamos a falar de 75 a 80% de diminuição do número de visitas e gastos internacionais e centenas de milhões de empregos ainda sob risco”, referiu o secretário-geral, que salientou que o setor “mostrou-nos no último ano que tem uma capacidade muito rápida de recuperação”.
Pololikashvili conta que, no primeiro trimestre deste ano, os números são 75 a 80% melhores do que no primeiro trimestre de 2020. “Tudo está a voltar à normalidade, o que é um grande passo para a indústria do turismo”, porém apesar de se considerar otimista em relação ao futuro, alerta para dois grandes fatores: a guerra na Ucrânia; e a região asiática permanecer fechada ao turismo. “A China está totalmente fechada, não se pode viajar para o país e os chineses não podem viajar para outros destinos, o que é um grande prejuízo para o turismo em todo o mundo porque o mercado chinês é realmente importante para a indústria”, lamentou.
O secretário-geral da organização menciona que o setor do turismo sofreu muitas alterações com a pandemia. Agora, “as pessoas preferem fazer menos viagens mas permanecer mais tempo no destino. A idade também mudou muito, os jovens estão a viajar mais agora do que anteriormente e o turismo doméstico está em grande expansão desde a pandemia”, notou.
Um dos fatores positivos do surgimento do vírus, para Pololikashvili, foi o rápido avanço tecnológico. “A parte tecnológica melhorou muito, vimos muitas soluções criativas relacionadas com a covid-19, e muitas das start-ups e projetos interessantes que surgiram vieram do setor do turismo.”
Escassez de mão-de-obra no turismo
Quando questionado se os avanços tecnológicos poderão reduzir a mão-de-obra no setor, o secretário-geral defendeu que “não há dúvida de que a tecnologia diminui o número de trabalhadores. Por exemplo, muitas fábricas que tinham 500/700 trabalhadores hoje em dia são robotizadas”. Contudo, referiu que o turismo é uma das indústrias que terá sempre lugar para colaboradores, “porque no final do dia será sempre necessário ir à receção, aos bares e aos restaurantes do hotel e para isso é necessário staff”, notando que apesar do desenvolvimento tecnológico diminuir o número de trabalhadores físicos, para a tecnologia funcionar também são necessários indivíduos.
Um dos temas abordados durante a conferência de imprensa que decorreu esta quinta-feira, 8 de setembro, foi a falta de mão-de-obra no setor. Pololikashvili admitiu que existe um défice de recursos humanos, “principalmente nos aeroportos”, referindo que durante a pandemia muitos trabalhadores, especialmente emigrantes, deixaram os seus locais de trabalho. “É por causa desta questão que precisamos de educação, precisamos deste tipo de escolas [Les Roches], e é por isso que precisamos de pessoas especializadas”, defendeu.
Trabalhar no turismo deve ser prestigiante, de acordo com o responsável. “Lembro-me que há 10 ou 15 anos ser chef de cozinha não era uma profissão considerada prestigiosa, mas atualmente os chef ganham mais dinheiro do que alguns CEO’s de médias empresas. Por essa razão, começámos a atrair jovens, organizámos há um mês, em Sorrento, o Global Youth Tourism Summit, onde reunimos 300 rapazes e raparigas de 70 países diferentes que estiveram durante uma semana a debater com políticos, figuras de destaque de todo o setor do turismo”, contou.
Zurab Pololikashvili referiu que o investimento no turismo e na educação é de elevada importância. O secretário-geral afirmou que Portugal “está a fazer um trabalho fantástico em turismo, educação e inovação”, mencionando que a Academia Internacional de Turismo, que vai abrir no Estoril em 2023, será certificada pela OMT. Um espaço que será também a sede de duas escolas em funcionamento – Escola Superior de Turismo de Portugal e ESHTE – e incluirá o Instituto de Formação Turística de Macau (IFT), um hotel para os estudantes praticarem e estagiarem e uma residência com capacidade para 150 alunos.
Inflação e aquecimento global
“Os preços estão totalmente loucos, duplicaram em muitos casos, devido à inflação e ao aumento dos preços do petróleo, que afetaram os preços dos transportes, da alimentação, dos voos e dos hotéis”, referiu o secretário-geral quando questionado sobre quais são os impactos que a subida da inflação e dos custos de energia podem ter nos resultados do turismo. Devido à subida de preços, “viajar tornou-se mais dispendioso e complicado de uma perspetiva financeira”, explicou.
O último tópico a ser discutido foram as alterações climáticas que, na perspetiva do secretário-geral da OMT, “não são um desafio novo”, referindo que “já começaram há muitos anos”. Zurab Pololikashvili relatou que a OMT “está empenhada em apoiar muitas iniciativas, e muitas delas estão relacionadas com as alterações climáticas”. O responsável da OMT referiu que durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas 2021 (COP26), mais de 500 organizações e empresas assinaram a Declaração de Glasgow sobre a Ação Climática no Turismo, comprometendo-se a reduzir as suas emissões de carbono”. Temos o objetivo de ter 50% zero carbono líquido até 2030 em todo o mundo”, concluiu.
*viajou para Marbella a convite da Sommet Education.