Mês de férias para uns e de trabalho para outros, enquanto se assiste que o turismo voltou a ser notícia.
Parece haver, uma questão que surpreendeu a opinião pública: então, isto de as pessoas viajarem de avião e de se juntarem em grandes eventos, não tinha acabado? A urgência de um novo aeroporto, já não se colocava, dado que agora todos tinham descoberto o interior e as viagens já não voltariam a serem o que eram.
Sempre defendi e escrevi que, de uma forma geral, os hábitos de férias e de viagens, não iam mudar e que a retoma em Portugal ia ser mais rápida do que a maior parte dos especialistas vaticinaram nos congressos que antecederam o arranque da época.
Depois de ouvir tantos especialistas a dizerem que o turismo tinha mudado e os hábitos dos clientes também, (fiquei muito surpreendido) quando começaram as notícias que os concertos de verão (NOS ALIVE e ROCK IN RIO), entre outros, estavam esgotados por pessoas que vinham de vários destinos. Depois de ter pensado um bocado, arranjei uma explicação. Provavelmente, as festas que decorrem no interior deveriam estar esgotadas e as pessoas contra a sua vontade, tiveram que se juntar aos milhares, como se não tivesse havido a pandemia.
Estava eu, com o meu subconsciente tranquilo, com a explicação que arranjei, quando começamos a ser invadidos com notícias sobre o aeroporto.
Primeiro a confusão com o SEF, uma surpresa porque era difícil saber quando é que aviões iam chegar, quantas pessoas lá vinham dentro e quanto tempo demora cada pessoa a entrar em Portugal? Depois rebentou o pneu de um jato privado, que fez com que o aeroporto de Lisboa que, por acaso, é o aeroporto mais importante do país, tenha de ter estado fechado, uma série de horas.
Em seguida, a TAP arranjou a desculpa perfeita, para os atrasos e cancelamentos que se seguiram às centenas, com o argumento que a culpa tinha sido causada pela suspensão do tráfego aéreo, devido ao rebentamento do referido pneu. Com o passar dos dias, percebeu-se que o problema é maior e transversal a outras companhias, que têm transformado o verão e a vontade de viajar numa autêntica odisseia.
É estranho, como é que este aumento de passageiros rápido, que era espectável, bastava olhar para a história, para perceber o que ia acontecer, apanhou aparentemente, toda a gente desprevenida.
Passaram mais de 50 anos desde o início da discussão sobre a necessidade de um novo aeroporto, mas, estranhamente, não se discute para que é que queremos o aeroporto, se para ser um Hub da TAP, com uma forte ligação aos PALOP entre outros destinos, qual o papel da ferrovia neste contexto e que crescimento queremos para o turismo nos próximos anos.
Deveremos ganhar consciência da importância que o setor tem para a economia portuguesa, apesar de muitas vezes não ser reconhecido, tanto pela opinião pública, como principalmente pelos membros do Governo.
O esforço que tem sido feito pelas empresas e pelas suas equipas, para trazerem a normalidade a um setor que esteve praticamente encerrado durante dois anos e que perdeu parte dos seus recursos humanos, para outras áreas da economia demonstra como o turismo é um dos pilares da nossa economia, mas não podemos esquecer que a pandemia deixou feridas que estão longe de estar saradas.
Precisamos mais do que nunca de ter apoio dos governantes, para os desafios que se aproximam.
Na conferência do TNews (maio de 2022), o Senhor Ministro da Economia e do Mar teve um lapso que não tem importância real, mas tem simbólica, quando na sua intervenção do pouco que falou do turismo, foi para dar os parabéns ao Turismo de Portugal, pela iniciativa do Selo (SAFE & CLEAN). Qual o problema? É como todos sabemos, o nome do selo, não é este, mas sim CLEAN & SAFE.
Este erro não tem, como já disse, nenhum significado, nem sequer se põe em causa o curriculum reconhecido do Senhor Ministro, mas é um sinal da importância que ele à data dava ao setor, no seguimento do que já tinha feito quando escreveu o PRR, sem que tenha por uma única vez referido a palavra turismo.
Desde este evento, é justo referir que por alguma pressão do setor, o Senhor Ministro tem dado mais alguma atenção, mas é preciso todos termos cuidado, para que não passe a ideia de um verão bom, apaga dois anos de pandemia.
Por Raúl Ribeiro Ferreira
É diretor de hotel e vice presidente da ADHP