Sexta-feira, Maio 16, 2025
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Alteração da lei das agências: “O lobby da aviação é muito forte na Europa”

Em entrevista ao TNews, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira, aponta o caminho do setor da distribuição e define agendas para o próximo ano. A flexibilização da cadeia de valor é um diálogo que a associação quer iniciar no próximo ano.

Primeira parte da entrevista: “O fim-de-ano ainda não está em causa, mas temos de acompanhar este clima de incerteza”

Qual a agenda da APAVT para o próximo ano?

O que nos preocupa na oferta turística, neste momento, é a flexibilidade – estamos não só dependentes das nossas próprias decisões, mas também dependentes de toda a cadeia de valor. Flexibilidade é a palavra chave. É preferível termos reservas, que podem ser canceladas, do que não termos reservas porque não damos a flexibilidade de serem canceladas. Aí estamos dependentes de toda a cadeia de valor. Não há uma oferta flexível, se o agente de viagens for flexível e o hoteleiro não for flexível, se a companhia não for flexível, se a rent-a-car não for flexível. É um diálogo que temos de desenvolver e é uma das agendas da APAVT para 2022 – uma espécie de tentativa de uma resposta una da cadeia de valor que seja traduzida em flexibilidade. O próprio país, do ponto de vista da concorrência internacional – falando agora de incoming – se não tiver uma oferta flexível vai perder market share com toda a certeza.

A pandemia absorveu muito a atividade da associação, que outros temas da agenda paralelos à pandemia estiveram em desenvolvimento?

Em primeiro lugar, claro que sim, tivemos absorvidos pela pandemia, posso dizer que durante os primeiros 90 dias da crise, o gabinete de crise da APAVT reuniu todos os dias, várias vezes por dia. Ao 90º dia disse: “Amanhã não reunimos”. Claro que isso significa uma absorção total, mas rapidamente percebemos que um dos aspetos que nos poderia diferenciar enquanto associação era não perdemos o norte, porque temos a certeza que a pandemia é temporária. E, por isso, todos os aspetos relacionados com a estratégia deviam ser mantidos. Por isso,, não apenas atualizámos o Economics do setor -que vai ser apresentado no congresso com as equipas da EY Parthenon, como iniciámos e estamos à beira de terminar, também com a EY Parthenon, um estudo estratégico que olha para daqui a 10 anos e, desse modo, tenta ajudar as empresas a raciocinar sobre as alterações, com uma base de trabalho que todos conhecemos que é: o futuro vai ser diferente do presente. Não conheço um estudo com esta profundidade no associativismo português e terá o condão de colocar à disposição da micro empresa mais pequena do país, desde que associada da APAVT, um raciocínio que custa muitas dezenas de milhares de euros.

Como segundo exemplo – e sabendo nós que o nosso maior ativo é o cliente, vamos apresentar no congresso um passo em frente na parceria estratégica com a DECO que permitirá às agências da APAVT, uma vez mais, diferenciarem-se, com algo que vamos anunciar.

De que se trata?

O significado deste passo em frente é muito simples e objetivo. Neste mundo moderno, as empresas e as associações de defesa dos consumidores não são mais adversárias, são aliadas naturais. Com essa aliança natural, estamos a tornar mais óbvio que as as agências da APAVT são de confiança para o consumidor e estamos a torná-lo mais óbvio do ponto de vista prático, Isto é, vamos tornar mais visíveis, mais atrativas e mais diferenciadas as agências de viagens da APAVT. Se calhar este trabalho não teria sido possível realizar em tão curto espaço de tempo, se não estivéssemos em pandemia, porque nos alertou para esta fantástica mais-valia que é a nossa relação com o cliente.

A alteração da lei das agências de viagens poderá voltar a estar em cima da mesa?

Sim,  porque tem estado a ser discutida a nível europeu a possibilidade de voltarmos a olhar para a lei. Estamos inseridos no processo enquanto ECTAA, obviamente desenvolvendo lobby a favor do setor das agências de viagens. Sabemos que a diretiva é injusta, coloca a resposta e a proteção dos direitos dos consumidores apenas no colo das agências de viagens, libertando as companhias aéreas de todas as responsabilidades. Portanto, se se confirmar que esta lei será juridicamente recolocada em cima da mesa, e essa decisão será conhecida pela Comissão Europeia no final deste ano, julgo eu, a posição da APAVT e da ECTAA é que temos de a trabalhar todos para tornar a lei menos injusta. Isso significa que todos os que têm responsabilidades no transporte ou alojamento dos passageiros, tenham também responsabilidades na gestão dos riscos da viagem. Estando perfeitamente clara qual é a nossa posição e o que é justo, sabemos bem o quanto será difícil levar a cabo esta posição numa eventual reformulação da lei. Não pelo lobby dos consumidores, porque os direitos dos consumidores nunca nos assustaram, mas pelo lado das companhias aéreas, que é um lobby forte na Europa. E já se percebeu que as estâncias europeias, às vezes, são fortes com os fracos e muito fracos com os fortes.

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