A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) revelou esta quinta-feira, 14, que o impacto económico de uma não decisão sobre a solução aeroportuária para Lisboa pode chegar aos 21 mil milhões de euros, caso a decisão se arraste para o pior cenário (uma solução apenas em 2034). Este valor consta do estudo realizado pela consultora Ernest & Young e revelado esta quinta-feira, numa conferência de imprensa em Lisboa.
Tendo em conta dois fatores (se a retoma do turismo seria mais rápida ou mais lenta; e se decisão sobre o novo aeroporto é tomada em seis ou em 12 anos), o estudo da consultora para a CTP chegou a quatro cenários, com impactos diferentes: no cenário 1 – que prevê uma recuperação lenta e um novo aeroporto em 2027 – a perda potencial de riqueza gerada (VAB) é de 3,4 mil milhões; no cenário 2 – que prevê uma recuperação rápida e um novo aeroporto em 2027 – a perda de riqueza é de 6,7 mil milhões; no cenário 3 – que prevê uma recuperação lenta e um novo aeroporto em 2034 – a perda é de 16,8 mil milhões; e no pior cenário, o 4, – que prevê uma recuperação rápida e um novo aeroporto em 2034 – a perda potencial de riqueza é 21,4 mil milhões.
Acontece que a recuperação do turismo, ao contrário do que se previa, está a ser rápida, com o presidente da CTP a lembrar que Portugal foi o país da Europa que recuperou mais rápido os movimentos aéreos para os níveis pré-pandemia. Perante este cenário, das quatro hipóteses traçadas pelo estudo, as que previam um cenário lento de retoma caem por terra.
“Há dois cenários que já estão eliminados do estudo, o cenário 1 e 3, porque a previsão de recuperação lenta deixou de acontecer, a recuperação já é real. Neste momento já só estamos a discutir o cenário 2 ou 4, e que tem a ver exclusivamente com: tomamos uma decisão rápida ou não?”, defende Francisco Calheiros.
“O que está em cima da mesa é se tomamos uma decisão a 6 ou a 12 anos. Estes impactos já os vamos ter. Se for o cenário mais rápido de decisão [cenário 2, um novo aeroporto em 2027], já não nos livramos de perder 6,8 mil milhões de euros de impacto de valor acrescentado na nossa economia, 27 mil empregos e uma receita fiscal de 4,7 mil milhões de euros. Disto já não nos livramos, porque a decisão ainda não está tomada”, alerta.
Quanto à solução anunciada pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e depois revogada pelo primeiro-ministro, de avançar já como Montijo, a CTP congratulou-se com a decisão e voltaria a fazê-lo, garante Francisco Calheiros: “Aplaudimos a decisão e voltávamos a aplaudir, porque o que estamos a pedir é uma decisão. O que houve naquele dia foi uma decisão.”
Sobre a solução Portela +1, no caso o Montijo, Francisco Calheiros reconhece que seria a solução mais perto do cenário 2 traçado pelo estudo: “Sabendo nós que o Montijo é de longe a solução mais rápida, essa era a solução que se assemelha à solução rápida do cenário 2”. “O que entendi das palavras do senhor ministro foi: para não estarmos mais 53 anosa decidir um futuro aeroporto, quando Portela+Montijo se esgotarem a nossa alternativa é fazer em Alcochete”.
Depois de apresentados os números, Francisco Calheiros apelou, mais uma vez, à tomada de uma decisão. “O que estamos aqui a apelar é que tem de haver uma decisão. Estamos há 53 anos para decidir um novo aeroporto. Chega, é preciso tomar uma decisão rápida. Estou na CTP há perto de 10 anos, atravessei vários governos, há muitos anos que isto acontece e a decisão não é tomada. Toma-se uma decisão, depois altera-se, vê-se o estudo de impacte ambiental, e depois vamos para outras alternativas”, refere para exemplificar os sucessivos atrasos. “O turismo está a ser responsável por 60% do nosso crescimento e não é possível estarmos todos a fazer o melhor que sabemos e podemos para nos depararmos um dia com o cenário que não podemos ter mais turistas. Todos sabemos que ao longo deste tempo temos perdido muitas slots. Ainda há pouco tempo a Qatar queria mais um voo diário para Lisboa e não tinha slots, isto não é mais aceitável”.
A CTP apresentou na semana passado o estudo ao Presidente da República, ao governo e ao maior partido da oposição, o PSD. “Todos conhecem estes números, e a todos foi explicado que a recuperação lenta já não está em cima da mesa. Um, como partido de Governo e outro como maior partido da oposição têm a consciência do que está em cima da mesa e que urge uma decisão”.
Francisco Calheiros lamenta ainda que, após a decisão do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santo, se tenha apenas discutido a forma da decisão, não se discutiu o conteúdo. “Nós o que estamos aqui a discutir é o conteúdo: é ou não é necessário um aeroporto? Quais são aas consequências para o emprego, para a riqueza do país e para as receitas fiscais. São estas. Por favor decidam, não podemos mais atrasar algo tão importante para o país que não é rico, que tem a divida publica que sabemos”.