When Women thrive, Humanity thrives
No início de cada ano, renova-se a esperança. Todos fazemos secretamente planos de alterações, mudança de hábitos e sonhamos com novas concretizações. Esta última ascensão não estará ao mesmo nível das demais, nem todos partimos do mesmo patamar, nem todos temos oportunidades semelhantes. Não me cabe falar de desigualdades humanas ou sociais, pois haverá especialistas mais dotados para o efeito. Gostava sim de refletir sobre o papel da mulher na sociedade sobre os seus feitos e as suas carências. Não é minha intenção discutir direitos ou correntes feministas, é sim, a de partilhar uma experiência maravilhosa que tive no final do ano passado.
Recentemente tive a oportunidade de ir visitar a EXPO’ 2020, no Dubai. E que experiência…. mas de uma panóplia quase infinita de assuntos pelos quais fui inspirada, gostava de me focar num pavilhão especial que visitei, o da Mulher. As dúvidas começaram cá fora, seria permitido aos homens entrar e visitar? Iria o pavilhão centrar-se no papel mulher nos países árabes? Mas o que pode um espaço encerrar em si sobre a mulher? Todas as dúvidas foram dissipadas quando entrámos numa antecâmera, onde existia uma porta e no topo estava escrito: Women light the way. A partir daqui entramos num mundo espantoso, onde as tecnologias nos mostram de forma imersiva, os factos e nos fazem chamadas de atenção importantes. Sobretudo para as novas gerações. Ficamos a saber que a UNESCO reconheceu a Universidade de Al Quaraouiyinem, como a primeira universidade do mundo, criada por uma mulher, Fatima al-Fihri, no ano de 859, em Marrocos.
O pavilhão mostra as várias facetas femininas, ao longo dos seus corredores. Apresenta as mulheres nos seus vários papéis:
– Rainhas que têm sido pilares de força ao longo dos séculos, deixando-nos, legados duradouros. Vários ícones de independência abraçaram o poder, enfrentaram preconceitos e estabeleceram a regra que a mulher não pode ficar fora da história.
– A história da humanidade está repleta de mulheres Guerreiras que moveram montanhas, lutando pelos seus povos e pelas suas convicções. Verdadeiras inspirações.
– Mulheres Comandantes que continuam a transformar a liderança, moldando uma sociedade mais inclusiva e abrindo caminhos para a igualdade que não deixa ninguém para trás. Aos poucos, estas mulheres estão a mudar o equilíbrio de poder.
– Mulheres Cientistas que procuram a cura para doenças, desenvolvem novos tratamentos, estabelecem clínicas e promovem a medicina para todos. Ainda assim, muitas vezes, não são devidamente reconhecidas. Esta constatação deu origem ao chamado: Efeito Matilda. Um preconceito em que as contribuições científicas das mulheres são atribuídas a um homem. A mulher faz o trabalho; o homem fica com o crédito. Todos sabemos que este efeito não se fica pela ciência, outras áreas, como a literatura e a pintura têm vários exemplos destas injustiças.
Continuando a visita, os expositores interativos mostram estatísticas incríveis, daquelas que no final, nos deixam um nó na barriga:
- No mundo inteiro, 132 milhões de meninas não vão à escola. No conjunto de áreas rurais, em todo o mundo, 61% das meninas não vão à escola secundária.
- As mulheres e as meninas representam metade da população mundial. Hoje, mais de 47% dos trabalhadores em todo o mundo são mulheres. Ainda assim, as mulheres recebem menos 16% do que seus colegas homens e apenas 1 em cada 3 empresas é propriedade de mulheres.
- As mulheres vivem mais tempo do que os homens, apesar de 1 em cada 3 mulheres sofrer de violência física, durante a vida.
- 56% das mulheres jovens relatam assédio ou abuso online. 65% das vítimas de tráfico humano são mulheres e meninas.
- 155 países aprovaram leis sobre violência doméstica, apesar de ainda assim, muitas mulheres não se sentirem seguras.
- Mais de 50% da comida mundial é produzida por mulheres e 60% dos trabalhadores agrícolas do mundo são mulheres. Com os recursos da agricultura produtiva de hoje, as mulheres poderiam aumentar a produção e reduzir a insegurança alimentar em todo o mundo, em cerca de 15% *
Depois de digerir esta informação, constatei a importância do enaltecimento do papel da mulher na sociedade, nas suas diferentes áreas, a partilha de informação sobre factos no feminino e a partilha de conhecimento sobre os seus feitos. Sem comparações, sem superioridade face ao sexo oposto.
Curiosamente, este pavilhão não foi patrocinado por nenhuma associação humanitária ou de direitos humanos. O patrocínio é da Cartier e apesar do seu público-alvo se focar num seleto nicho, a iniciativa é de louvar. Criaram um pavilhão sobre mulheres para todos… homens e mulheres.
Dedico este artigo às Mulheres da minha vida e desejo um 2022 repleto de realizações!
* Informação apresentada no Pavilhão da Mulher, na Expo2020 no Dubai.
Por Sofia Almeida
É professora na Universidade Europeia e investigadora no CEG/Territur, Universidade de Lisboa.
salmeida@universidadeeuropeia.pt