Domingo, Abril 20, 2025
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Embratur quer ligar Lisboa a Paraíba pela TAP: “Portugal é uma porta europeia muito importante”

Marcelo Freixo, presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), reflete sobre o “momento forte de turismo internacional” que o Brasil está a viver, com especial enfoque no peso “muito grande” do mercado português. Em entrevista, o responsável sublinha o “desejo forte” de estabelecer um voo direto entre Lisboa e Paraíba, proposto à TAP e discutido em reunião realizada durante a BTL.

De acordo com os dados recentemente divulgados pela Embratur, o Brasil recebeu 2,8 milhões de turistas internacionais entre janeiro e fevereiro. Como é que estes resultados se comparam aos do período homólogo do ano passado?

2024 foi um ano de recorde tanto de turistas quanto de receita. O Brasil bateu o recorde de turistas internacionais e chegou a 6,7 milhões de turistas durante o ano. O recorde de receita foi de 7,3 biliões de dólares [6,9 mil milhões de euros].

Estes dois primeiros meses – e é bom lembrar que o Carnaval foi no terceiro mês, por isso só comporta o início do Carnaval – foram muito fortes, com um aumento de 57% [face ao mesmo período de 2024]. Acho que nenhum país do mundo teve 57% de aumento do turismo internacional, o que eleva o Brasil para um patamar que nunca vivemos.

É um momento muito forte de turismo internacional no Brasil e acho que nos consolidamos como um destino internacional muito potente. É a imagem de um Brasil que voltou a ser desejado, um Brasil que está a ser visitado, um Brasil que está mais seguro, um Brasil que tem mais conexão aérea. Em 2024, tivemos mais 18% de voos internacionais, o que foi bem acima da média mundial de crescimento de voos internacionais; foi uma média de 10% e o Brasil teve 18%.

Em janeiro, tivemos mais 20% de voos internacionais do que comparado a janeiro do ano passado, e isso é muito importante quando se fala de turismo internacional. No Brasil, a malha aérea é decisiva, porque o Brasil não é um lugar onde se chega de comboio. O Brasil não tem a dinâmica de modais que a Europa tem. Então, necessitamos da malha aérea, tanto para a América Latina, quanto principalmente para os Estados Unidos e a Europa. 

“É um momento muito forte de turismo internacional no Brasil. É a imagem de um Brasil que voltou a ser desejado, um Brasil que está mais seguro, um Brasil que tem mais conexão aérea”

Qual é a importância do mercado português para o turismo no Brasil?

Em relação aos portugueses, os números são muito surpreendentes. Tivemos 21 mil portugueses a visitar o Brasil em janeiro e 30 mil portugueses em fevereiro. São 50 mil portugueses em dois meses. No ano passado, tivemos 218 mil portugueses no ano inteiro. Isso é uma tendência que coloca o Brasil como um dos principais mercados internacionais da Europa.

[O peso do mercado português] é muito grande. Primeiro, existe uma relação histórica, uma relação afetiva; costumo dizer que existe uma relação familiar entre Portugal e Brasil. Portugal é o segundo mercado europeu. Só a França é que tem mais emissão de turistas internacionais para o Brasil do que Portugal. 

Portugal tem um crescimento muito grande e temos uma estratégia muito clara para Portugal. É continuar a mostrar que o Brasil é um mercado competitivo no sol e praia, ou seja, tem uma diversidade nas praias: temos praia mais familiar, praia para prática de desporto, praia de água quente, praia de água fria. Mas o Brasil vai além do sol e praia, e acho que essa é a grande mensagem que trabalhamos no mercado português. O Brasil é natureza, o Brasil é gastronomia, o Brasil é cultura. 

Em Salvador ou Bahia, temos sol e praia, uma cultura muito forte, uma gastronomia extraordinária e natureza no mesmo lugar – e isso torna-nos um mercado diferenciado de outros mercados como, por exemplo, Caribe e México.

Cada vez mais entendemos que o mercado português se interessa por cultura e natureza. Há um interesse crescente por cultura – pelos museus, pelas cidades históricas, pelos patrimónios – e também por natureza. O Brasil já é, segundo a revista Forbes, o principal destino de ecoturismo do mundo porque temos seis biomas, com muitas possibilidades de turismo de natureza.

Durante a XIV Cimeira Luso-Brasileira, os governos de Portugal e do Brasil assinaram um conjunto de acordos em diversas áreas, incluindo um plano de ação entre a Embratur e o Turismo de Portugal para a promoção turística internacional. O que é que esta parceria significa?

Desde o início, quando era Luís Araújo [na presidência da Turismo de Portugal], a relação com o Governo português e com o setor do turismo é muito forte e com muita parceria. Portugal é uma referência muito grande para nós, do quanto o turismo muda a realidade económica e social de um pais, da presença e da importância do turismo no modelo de desenvolvimento de um país.

Portugal sempre foi um país parceiro, incluindo na possibilidade de conexão [aérea], e aí destaco a TAP, que tem um papel muito relevante. Hoje temos 14 rotas diretas para o Brasil e duas indiretas. Temos 11 estados brasileiros ligados diretamente a Portugal. E Portugal não leva só o português para o Brasil. Portugal é a porta de entrada e a porta de saída; é uma porta europeia muito importante para nós. Isto tem muito a ver com essa parceria, com esses acordos firmados, com esse entendimento entre os dois governos. 

Os acordos que assinámos na Cimeira, tanto na ampliação da malha aérea, quanto nas parcerias, por exemplo, em tecnologia, são muito importantes. Temos em conjunto com a NEST Portugal e a EmbraturLAB uma série de parcerias sobre incentivo e estímulo às startups que possam solucionar questões centrais para o turismo, rotas literárias, que em Portugal já é uma tradição de muitos anos. Essas parcerias para nós foram muito decisivas.

Estamos a abrir o nosso escritório em Lisboa, que é a retomada de uma iniciativa internacional mais sólida e não é à toa que fazemos isso em Portugal. O escritório, que é da Embratur, Apex, Sebrae [e Fiocruz], vai trabalhar com toda a Europa, mas vai funcionar em Lisboa, o que tem a ver também com essa parceria.

E de que forma é que este escritório em Lisboa poderá fortalecer a aproximação entre o Brasil e Portugal?

O escritório traz a possibilidade de não nos encontrarmos só nas feiras, de nos podermos encontrar permanentemente. Larissa [Ushizima] ficará à frente do escritório, em conjunto com a nossa equipa. Vamos ter a presença permanente do Governo brasileiro, tanto na Apex, que é responsável pela exportação de produtos, quanto na Embratur, que é a imagem do Brasil no exterior. É um trabalho junto às operadoras, junto aos governos, junto à promoção do Brasil.

O espaço físico será na Rua Rosa Araújo e é coordenado pela Apex Brasil. A intenção é que a abertura seja no final de abril ou início de maio, para que o espaço esteja disponível, [mas o lançamento oficial decorreu na passada quarta-feira, dia 12, na BTL].

“temos 14 rotas diretas para o Brasil e duas indiretas [com a TAP]. Temos 11 estados brasileiros ligados diretamente a Portugal. E Portugal não leva só o português para o Brasil. Portugal é UMA PORTA EUROPEIA MUITO IMPORTANTE”

Quais são as rotas aéreas operadas pela TAP que destacaria?

Eu faria dois destaques. Primeiro, a TAP está a retomar o Rio Grande do Sul [com a ligação aérea Lisboa-Porto Alegre] e esse é um destaque muito importante. O Rio Grande do Sul passou por uma situação dramática, foi um estado destruído pela questão das chuvas no ano passado e tivemos uma recuperação.

A rota Lisboa-Belém-Manaus está a correr muito bem. Manaus e Belém são duas cidades amazónicas. Belém vai ter a COP 30 e Manaus é a principal porta de entrada para a Amazónia, que é muito importante para nós. A Amazónia tem no turismo a grande ferramenta de salvação da floresta. Precisamos de gerar atividades legais na Amazónia, que sejam geradoras de emprego e renda. A floresta vai ser preservada se conseguirmos atividades sustentáveis. O turismo é uma atividade que pode ser sustentável e responsável. Diante da questão do aquecimento global e da responsabilidade climática, olhar para a Amazónia como um destino turístico responsável e sustentável é muito importante para o planeta, talvez um dos maiores desafios do século XXI.

E a perspetiva de um voo para mais uma capital nordestina, que é João Pessoa [em Paraíba]. Não temos nenhuma previsão de lançamento, mas é uma conversa [com a TAP e o governador da Paraíba, João Azevedo], durante a BTL, sobre a possibilidade de João Pessoa estar dentro dessa malha aérea. João Pessoa é uma capital muito importante, no nordeste do Brasil. A Paraíba tem vindo a desenvolver muito o turismo internacional, com muito investimento.

Por isso, destaco o Rio Grande do Sul pela retomada, a chegada da Europa na Amazónia, que é um objetivo nosso que seja um destino turístico internacional, e a possibilidade de novos voos. Estamos sempre a querer novos voos e indicaria a Paraíba como um desejo mais forte.

O que faz do estado de Paraíba um destino atrativo para o turista português?

Paraíba tem uma expressão cultural e gastronómica muito forte e tem sol e praia, o que dialoga muito com aquilo que o mercado europeu, principalmente o mercado português, tem vindo a apresentar como demanda.

Portanto, um dos objetivos da Embratur é promover destinos brasileiros menos tradicionais?

O Brasil vai além do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro está muito consolidado, São Paulo está muito consolidado. Para nós é importante mostrar essa diversidade brasileira.

Existem muitas possibilidades no Brasil. Há diversidade de natureza, diversidade de sol e praia, diversidade gastronómica, diversidade cultural, diversidade religiosa, como, por exemplo, o afroturismo em Bahia. O turismo desportivo, com o kitesurf, por exemplo, no Nordeste é muito praticado por europeus. Essa diversidade faz o europeu querer vir mais vezes para o Brasil e querer ficar mais tempo no Brasil.

“Paraíba tem uma expressão cultural e gastronómica muito forte e tem sol e praia, o que dialoga muito com aquilo que o mercado europeu, principalmente o mercado português, tem vindo a apresentar como demanda”

Além de Paraíba, que outros destinos específicos acredita que ainda carecem de uma ligação aérea?

Queremos rota para todos os estados. Hoje temos uma expressão cultural muito forte em Minas Gerais, que tem crescido, e queremos mais voos para a Amazónia também. Uma questão fundamental é a melhoria dos horários de voo, que também é uma demanda nossa importante.

Quais são os principais destaques da presença do Brasil e da Embratur na BTL?

Assumimos o Governo e a Embratur em 2023, portanto, há exatamente dois anos. Esta é a terceira BTL em que participamos com o nosso Governo.

Temos 33 co-expositores, o que é um nível de participação muito grande. Temos 14 stands de estados junto com o stand da Embratur. Então, a presença do Brasil é muito forte num mercado que é crescente.

O principal recado é essa diversidade: temos Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte. Todo o Brasil está presente de forma muito diversa na BTL. A BTL talvez seja a feira onde o Brasil está melhor representado, o que mostra o nosso interesse no mercado português.

“A BTL talvez seja a feira onde o Brasil está mELHOR representado, o que mostra o nosso interesse no mercado português”

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